Os dados do perfil socioeconômico da UFRPE, de um relatório feito em 2022, mas com dados de 2018, mostram o abandono dos estudantes mais vulneráveis socialmente. O perfil mostra que dos 15 mil estudantes, 66% se move utilizando transporte público, com a necessidade de pagar a passagem que atualmente, em Recife, é de R$4,10 o anel A e R$ 5,60 o anel B. Além disso, cerca de 83% recebem 1 salário mínimo e meio ou menos, mostrando o tipo de renda que os estudantes em geral recebem e a necessidade da assistência estudantil na universidade.
Cassiano Bezerra – Diretor de Assistência Estudantil da UNE
EDUCAÇÃO – A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) é uma das principais universidades federais presentes no estado de Pernambuco. Com mais de 17 mil estudantes matriculados, a universidade possui 4 campi em todas as regiões de Pernambuco – Região Metropolitana, Agreste e Sertão. Ademais, possui campi avançados que são responsáveis por manter a pesquisa da universidade nos estudos de ciências agrárias e ambientais. Tudo isso faz com que a Universidade precise de um grau de estrutura e recurso para garantir aulas externas aos campi, seja ônibus ou seguro para eventuais acidentes.
Além da questão acadêmica, os dados mais atualizados do perfil socioeconômico dos estudantes da universidade são de 2018, quando a universidade conseguiu fazer a pesquisa com cerca de 15 mil matriculados. Os dados mostrados na pesquisa são preocupantes, principalmente se pensarmos nos diversos retrocessos sofridos nas universidades públicas desde o início do governo Bolsonaro até os dias atuais.
Ausência de seguros e estrutura
Os principais cursos da universidade giram em torno das aulas práticas, seja em campi avançados ou em locais selecionados pelos próprios professores. A universidade conta com 2 campi apenas de engenharias no Cabo de Santo Agostinho (Região Metropolitana) e em Belo Jardim (Agreste Pernambucano), além dos cursos de agronomia, engenharia florestal, engenharia ambiental, engenharia de pesca, zootecnia e biologia da sede em Recife.
Em todos os casos, há a necessidade de viagens e aulas de campo para aperfeiçoamento da formação dos estudantes. Porém, não vemos isso no dia-a-dia. A universidade não conta com ônibus e vans suficientes para transportar os estudantes para os locais. Não é raro solicitar um transporte para aula de campo e ser recusado ou precisar fretar um transporte, mexendo com o orçamento da universidade.
Não só isso, como a universidade não emite seguro para as aulas de campo para estudantes que podem sofrer acidentes. Então, as aulas acontecem independentemente desse seguro ou simplesmente não acontecem, reduzindo a carga horária prática desses cursos citados.
Auxílios e bolsas não são suficientes
Os dados do perfil socioeconômico da UFRPE, de um relatório feito em 2022, mas com dados de 2018, mostram o abandono dos estudantes mais vulneráveis socialmente. O perfil mostra que dos 15 mil estudantes, 66% se move utilizando transporte público, com a necessidade de pagar a passagem que atualmente, em Recife, é de R$4,10 o anel A e R$ 5,60 o anel B. Além disso, cerca de 83% recebem até 1 salário mínimo e meio ou menos (ver Gráfico 1), mostrando o tipo de renda que os estudantes em geral recebem e a necessidade da assistência estudantil na universidade.
Porém, os dados de auxílios dos estudantes não batem com essa realidade. Logo em seguida, os dados mostram que 69% dos estudantes nunca receberam nenhum programa de auxílio estudantil da universidade, como mostra o Gráfico 2. Mais ainda, o programa com mais participação estudantil é o programa que envolve o auxílio-transporte (10%) e alimentação (9%). Mesmo assim, o relatório da universidade mostra esses auxílios e considera uma “ampla participação” nesses programas. Mesmo num país em que cerca de 30 milhões de pessoas passam fome e a alta do preço dos alimentos afeta a capital pernambucana mais que muitas outras cidades do país (dados da ABBT).
Lutar pela assistência estudantil
A falta de um Diretório Central dos Estudantes (DCE) é um dos motivos para que esses retrocessos e carências permaneçam como estão, aliás sem DCE não há como haver uma cobrança real da reitoria frente a esses problemas. Mesmo assim, devemos pressionar, através de entidades estudantis como a União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), a aplicação devida do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e de um plano estadual de assistência.
Recentemente, o PNAES foi aprovado como lei na Câmara dos Deputados. É dever nosso, como estudantes afetados, lutar pela aprovação dessa lei no Senado, mas também nos mobilizarmos para dedicar uma maior parte do PIB brasileiro para o programa. Somente com a luta estudantil na nossa universidade é possível transformar a realidade em que vivemos e, com isso, estarmos organizados nas entidades e nos movimentos que estão nessa luta.