No dia 22 de novembro, o general fascista Santos Cruz foi convidado para um evento no Instituto de História da UFRJ. Porém, os estudantes organizaram ato que forçou a transferência do local do evento para fora da universidade
Maria Luiza Selonk* e Andrei Rodrigues** | Rio de Janeiro
No dia 22 de novembro, o General Santos Cruz, ex-ministro do governo fascista de Bolsonaro, foi convidado para compor a mesa de relançamento do livro “Militares na Política” do escritor John Schulz. O debate iria ocorrer no Salão Nobre no Instituto de História da UFRJ e foi divulgado nos meios de comunicação da instituição, além de ter um professor da universidade compondo a mesa ao lado do general.
Prontamente, ao tomar conhecimento do evento, os estudantes de história organizaram-se a partir de suas entidades, o Centro Acadêmico Manoel Maurício de Albuquerque e o Diretório Central dos Estudantes, e convocaram um ato em frente ao espaço do evento para impedir a entrada do fascista. Essa mobilização conseguiu impedir a general fascista na universidade, forçando a organização a mudar o local do evento.
O fascista Santos Cruz: do Haiti à Bolsonaro
O governo fascista e antipovo de Jair Bolsonaro foi o pior da história recente do Brasil. O genocida, além de ter negado a vacina para milhões de brasileiros, foi responsável por acabar com os direitos trabalhistas, sucatear a educação pública e perseguir mulheres, negros e a comunidade LGBTQIA+. Entretanto, apesar do potencial de destruição do ex-presidente, o estrago não foi feito sozinho. Bolsonaro teve apoio de grupos reacionários, milicianos, fascistas e generais em sua aventura sanguinária do início ao fim, entre eles, o General Santos Cruz.
O general Santos Cruz fez campanha para Bolsonaro e compôs o seu governo enquanto ministro-chefe da Secretaria de governo durante o ano de 2019 e, antes disso, comandou também a sanguinária missão de paz do Haiti entre 2007 e 2009. A operação no Haiti, conhecida como Minustah, pode ser considerada uma ocupação neocolonial, que, ao invés de “estabilizar” os conflitos no Haiti, como era seu objetivo, causou milhares de mortes pelas operações nas periferias da capital e feriu o direito à autodeterminação do povo haitiano. Além da participação do General Santos Cruz na missão, outros militares que atuaram no governo Bolsonaro estiveram presentes, como o General Augusto Heleno.
Vale ressaltar também, que em 2019, enquanto Santos Cruz era ministro de Bolsonaro, começaram os cortes orçamentários nas instituições de ensino federais, os quais resultaram no Tsunami da Educação que reuniu milhares de estudantes na rua pelo Fora Bolsonaro. Santos Cruz. Santos Cruz também nega que os horrores da Ditadura Militar fascista de nosso país e relativiza o golpe de 1964.
Na UFRJ fascista não se cria!
Assustados pelo constrangimento provocado pela força dos estudantes da universidade, a organização do evento reorganizou a atividade fora do prédio, em um restaurante privado, numa clara tentativa de afastar os estudantes. Entretanto, os esforços dos organizadores não foram suficientes para calar os estudantes, os quais se organizaram para estar em frente ao local com cartazes e colagens que denunciavam a situação.
Os organizadores do evento juntamente do autor do livro, temerosos da mobilização dos estudantes do lado de fora do restaurante buscaram conversar com os manifestantes. Durante a conversa, John Schutz pontuou, “ele é um dos generais que está do lado das forças progressistas”. A indagação que ressonou nos estudantes foi: como alguém que participou do governo bolsonaro poderia ser um aliado?
Duda Costa, estudante de ciências sociais e diretora do DCE da UFRJ, reforça: “Os estudantes foram linha de frente tanto na derrubada da ditadura militar quanto do governo do fascista Jair Bolsonaro. Não vamos aceitar figuras que corroboram com a instauração de um governo fascista dentro de nossas universidades”.
A manifestação dos estudantes foi uma clara demonstração de que a UFRJ não é lugar para os generais no nosso país. A absurda ideia de que um fascista pudesse pisar na instituição é um afronte a memória de um prédio que foi lar de grandes nomes que lutaram pela liberdade, como Manoel Maurício de Albuquerque e Maria Célia Corrêa, perseguidos pela ditadura militar e hoje homenageados no nome do Centro Acadêmico de História e de Ciências sociais, respectivamente.
A luta por Memória, Verdade e Justiça e pela punição de todos os generais golpistas e torturadores de ontem e de hoje continua no Brasil e nas Universidades Públicas. Fascistas não passarão!
* Estudante de História e diretora do Centro Acadêmico Manoel Maurício de Albuquerque
** Estudante de História e diretor do DCE Mário Prata