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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

“Eles fizeram tudo pra que eu desistisse da denúncia” – As condições das DDM na ZO de SP

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Não é do projeto político econômico atual das Cidades e regiões do Estado ter políticas combativas e protetivas para a vida das mulheres.  E a estimativa é que no próximo ano, o Ministério das Mulheres, por exemplo, tenha encolhido seu orçamento de 120 milhões em 2023, para 89,5 milhões em 2024.

Movimento de Mulheres Olga Benario Zona Oeste


MULHERES| Criada em 1985, a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) é uma unidade policial especializada no atendimento de mulheres, crianças e adolescentes que vivenciaram situações de violência física, moral e sexual. No Estado de São Paulo, existem em média 140 unidades, e apenas 11 delas funcionam 24h por dia. Número este que compreendemos ser insuficiente às necessidades das 23 milhões de mulheres paulistas, como acontece na zona Oeste de São Paulo, onde faltam unidades para as cidades da região. 

Além de quase todas as unidades funcionarem em horário comercial, outros problemas são comumente enfrentados pelas mulheres que procuram ajuda nesses espaços, a exemplo disso, é o caso de uma vítima que entrevistamos.

Marta*, ao procurar ajuda em uma destas unidades na cidade de Itapevi, Zona Oeste Metropolitana da Capital, nos relata que após se deslocar de sua cidade à cidade vizinha para registrar uma denúncia se viu em uma situação de falta de acolhimento e desrespeito.

“Fiquei muito tempo aguardando para ser atendida e, quando fui atendida, foi por um homem. Fui questionada sobre o motivo da tentativa de homicídio, o que deu a entender que a culpa era minha”. Ela ainda relata que ao expor o que houve não foi acolhida em nenhum momento: “Acho que as pessoas tinham que ter mais empatia e não ficar perguntando o que você fez para que tivesse ocorrido isso”

A Grande Zona Oeste da Capital paulista é composta por sete cidades. Sendo elas: Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Em duas destas cidades (Jandira e Pirapora) não existe unidade da Delegacia de Defesa da Mulher, o que faz com que seja necessário o deslocamento das mulheres; como é o caso da entrevistada pelo nosso núcleo que residia em Jandira, mas precisou ir até a delegacia de outra cidade vizinha. 

Com um quadro de funcionários composto pela maioria de homens e sem preparo para atender as vítimas, o local que deveria servir de apoio acaba por culpabilizar as mesmas, mostrando que não basta que existam as delegacias, é preciso que o serviço de acolhida e acompanhamento seja adequado e não reproduza a culpabilização da vítima e misoginia. 

Quantas mulheres mais terão que passar por essas delegacias?

Marta* relata que a experiência na delegacia a fez, inclusive, desistir de lutar para que seu caso fosse denunciado: “questionaram o que eu tinha feito e que não ia dar em nada eu estar lá. Senti que eles fizeram tudo para que eu desistisse da denúncia que eu estava fazendo. Foi muito chato, constrangedor, saí de lá pior do que eu cheguei. Eu acho que eles sempre colocam a culpa em cima da mulher, em todas as situações.”

Casos como esses acontecem todos os dias, com inúmeras mulheres da Zona Oeste de São Paulo e do Brasil. Não é do projeto político econômico atual das Cidades e regiões do Estado ter políticas combativas e protetivas para a vida das mulheres.  E a estimativa é que no próximo ano, o Ministério das Mulheres, por exemplo, tenha encolhido seu orçamento de 120 milhões em 2023, para 89,5 milhões em 2024. 

Marta* segue com uma preocupação que aflige muitas mulheres no Brasil “não me senti e não me sinto segura até hoje”. 

A nossa pergunta é: até quando? Quantas mais Martas, Marias, Fátimas e tantas outras passarão por situações como essa, ou perderão suas vidas? Quantas mais? Nossa mães, irmãs, amigas, tias, primas, terão que viver em insegurança por quanto tempo?

Diante do péssimo atendimento que obteve na delegacia de Itapevi Marta desistiu: “Não dá para explicar como eu me senti, eu me senti um lixo. Como se eu merecesse passar por tudo que eu passei. A denúncia não deu em nada e não vai dar”

A certeza de impunidade e o descaso com a vida das mulheres é um dos motivos pelo qual sabemos que a luta do Movimento de Mulheres Olga Benário é tão importante na região. Temos que nos organizar na luta pela garantia de que as delegacias tenham um serviço respeitável e acolhedor, para que ações combativas a violência sejam desenvolvidas e aplicadas e para que nenhuma mais tenha que passar pelo que Marta passou.

É pela vida das mulheres que o Movimento de Mulheres Olga Benário se organiza e luta na região da Zona Oeste. Essa luta é de todas nós. 

 

Marta* nome ficcional 

 

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