Foram feitas denúncias para A Verdade sobre a situação precária dos trabalhadores do Restaurante Universitário da UFPE, que foram demitidos sem aviso prévio pela empresa General Goods. Os funcionários relatam as péssimas condições de trabalho, a pressão psicológica, a falta de higiene e a negligência com a saúde. Durante meses, foram recorrentes as críticas dos usuários do restaurante, que reclamavam das filas, da qualidade da comida e dos preços.
Alberes Simão e Mariana Belfort | Recife – PE
BRASIL – Desde sua reabertura, o Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é alvo de críticas pelos usuários, que enfrentam longas e demoradas filas sob o sol, baixa qualidade na alimentação e altos preços em comparação a outras Universidades Federais. Inclusive, no dia 01 de setembro, mais de 1300 estudantes relataram casos de intoxicação alimentar após se alimentarem no RU.
Contudo, na sexta-feira (22), último dia de serviço do Restaurante antes do recesso que dura até o dia 28 de janeiro, as denúncias vieram também por parte dos funcionários. A General Goods, empresa que administra o RU da UFPE, demitiu mais de 20 trabalhadores de forma arbitrária e sem aviso prévio. Para falar mais do acontecido e das condições de trabalho no RU, A Verdade entrevistou duas trabalhadoras que preferiram não se identificar, portanto os nomes abaixo são fictícios.
A VERDADE – Há quanto tempo vocês trabalham para a General Goods e como ficaram sabendo da demissão?
Maria – Assinei um contrato com a empresa e desde o dia 02 de maio estou trabalhando para eles. Há alguns dias, uma representante dos Recursos Humanos da empresa veio aqui e informou o nome de todas as pessoas que estariam entrando de férias agora, com a finalização do ano letivo da Universidade, e quem seria realocado para trabalhar em outras unidades da empresa. Estávamos certas que hoje, ao final do expediente, teríamos as nossas esperadas férias. Aí, hoje [22], por volta das 14h, chegou uma pessoa mandando a gente assinar um papel da nossa demissão. Ficamos sem entender.
Lúcia – Também estou aqui há aproximadamente oito meses e fomos pegos de surpresa com essa notícia. Se era pra botar a gente pra fora, deviam ter avisado com antecedência. Se eu soubesse que tinha até o dia 22 para trabalhar, eu me organizaria e viria tranquila cumprir a minha carga horária, com dignidade. Mas, dessa forma, a pessoa é totalmente desrespeitada, pois acordei cedo, saí da minha casa, peguei transporte, cumpri meu turno para no final ser surpreendida com uma demissão.
Quais eram as condições de trabalho no Restaurante Universitário?
Maria – Era fisicamente e psicologicamente cansativo. A gente trabalha sob muita pressão psicológica da gerência, o tratamento é realmente péssimo. Teve uma situação em que um dos funcionários foi tomar um copo de suco e o gerente gritou com ele, dizendo que era proibido tomar suco a partir daquele dia e ameaçou dizendo que quem tomasse seria mandado para casa. Nesse momento, uma estudante começou a gravar e ele entrou gritando na cozinha, dizendo que ‘acabou a palhaçada’ e que ‘quem não quiser estar aqui é só ir embora’. Aqui, estamos sendo tratadas igual era na ditadura, porque ele se acha superior a todo mundo. Nós não temos permissão nem para falar com os estudantes.
Lúcia – O nome do nosso supervisor é Angelo Almeida, ele insinuou que estávamos de brincadeira, que ‘não estávamos em um spa’, enquanto, na verdade, trabalhávamos pesado. Ele não tem modos para lidar com outro ser humano em um ambiente de trabalho ou para estabelecer uma conversa, grita conosco. As condições de trabalho são péssimas, a gestão da Universidade nunca veio fiscalizar as atividades e nos perguntar como estávamos sendo tratadas. Foi uma covardia nos colocarem para fora no último turno de serviço antes do recesso.
Como era a higienização da cozinha e o cuidado com a saúde dos trabalhadores?
Maria – A cozinha é limpa, a gente mesmo que higieniza todos os dias, em todos os turnos. Agora essa questão da saúde é séria. Eu tive que ser levada à emergência durante o serviço pela técnica de nutrição, que também foi demitida sem justificativa, e me levou para a emergência do hospital da Hapvida. Lá, eles negaram o meu atendimento e me encaminharam para o Hospital Getúlio Vargas, onde fiquei esperando por atendimento em cima de uma maca durante horas, para ter que voltar a trabalhar ainda tomando antibiótico. Comecei a trabalhar bem e estou sendo mandada para fora ainda doente e psicologicamente abalada.
Lúcia – Uma situação que nunca me esqueço é que tentaram colocar para os funcionários a culpa pela contaminação em setembro. Disseram que o exame foi feito nas nossas mãos e que nós éramos culpados por eles terem que pagar uma multa. Queremos ver esse laudo da vigilância sanitária. Como a culpa é nossa? A gente está o tempo inteiro usando equipamento de segurança, máscara, óculos, luva, touca, completamente protegidas. Ficamos parecendo até um ‘Power Ranger’ com essa roupa quente e correndo para um lado e para o outro. Não quero passar por isso nunca mais.