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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Chuvas causam morte e sofrimento para os moradores de favela

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Alexandre Verçosa e Renan Gustavo | Rio de Janeiro (RJ)


As fortes chuvas que vêm assolando o Rio de Janeiro têm agravado as condições de vida da população que mora nas favelas e comunidades da capital e da região metropolitana. Somente num dia (13 de janeiro), o acumulado da chuva inundou as ruas e becos da favela do Acari, na Zona Norte. A chuva foi tanta que até casas no segundo andar foram alagadas. Milhares de pessoas perderam tudo, em mais uma “tragédia anunciada”.

Todos os anos, durante o período de chuvas, o Estado do Rio de Janeiro sofre com o mau planejamento urbano do poder público, que visa unicamente ao lucro, com a especulação imobiliária, e deixa moradores de áreas distantes das regiões mais nobres completamente abandonados. A falta de uma infraestrutura que garanta dragagem e desassoreamento dos rios, além de saneamento básico, somado ao descaso das empresas privatizadas, que constantemente interrompem o fornecimento de água e luz geram grandes sofrimentos à população.

“Foram dois metros e meio de água que invadiram a minha casa. Perdi tudo. Meus móveis novos, perdi até meu carro, que é minha ferramenta de trabalho. Teve gente que perdeu familiares. Meu bebê foi internado com febre e diarreia por causa do contato com essa água suja do valão, que transborda e invade nossas casas. É muito complicado viver na enchente”, relata Anatiara Medeiros dos Santos, moradora de Acari.

No dia seguinte à enchente, a militância do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), da UP e da UJR se uniu aos moradores e a vários coletivos organizados na região para realizar um grande mutirão de limpeza em casas e ruas atingidas. “Como não podemos nos solidarizar apenas no momento de crise profunda, o MLB também está coordenando uma campanha de arrecadação de alimentos, roupas, colchões e itens de limpeza. Com essa rede de solidariedade, conseguimos ajudar centenas de pessoas na região, fazendo não só a agitação em torno da tragédia, mas também organizando a revolta do nosso povo, que, ano após ano, perde seus bens para as chuvas”, explicou Paula Guedes, coordenadora do MLB no Rio de Janeiro.

Abandono

Não é novidade para ninguém que a vida nas favelas cariocas não é fácil. São décadas de abandono do poder público, que resulta na carência do mínimo de infraestrutura para enfrentar situações como essas. “Aqui em Acari é um caos! Ninguém esperava por essa chuva, atingiu todo mundo. A minha casa, que jamais eu imaginava que ia encher, encheu. Perdi quase tudo, até minha máquina de lavar. Meu irmão perdeu tudo, até os documentos”, lamentou dona Dilcileia Lage.

Outra moradora, Luciana Souza, 44 anos, também foi atingida pela enchente. “Eu moro na comunidade do Acari há 40 anos e todo ano é essa enchente, todo ano a gente perde as coisas. Nessa última do dia 13, foi a pior que a gente viveu. Perdi várias coisas. Toda a vizinhança perdeu e até agora a gente não conseguiu colocar nada no lugar com medo de vir outra enchente. A gente trabalha duro pra ter as coisas e vem essa água e acaba com tudo, acaba com nossos sonhos”, disse.

Além da sensação de abandono, os moradores também têm que enfrentar o medo de novas chuvas. “Agora mesmo, estou com a minha cabeça a mil, porque já começou a chover de novo e a gente fica sem saída, sem saber o que fazer. Qualquer chuvinha que cai, é uma preocupação. O valão já encheu e a minha preocupação é ter que procurar um lugar pra me refugiar dessa enchente. Muitas pessoas vivem aqui porque é o único lugar que elas têm pra se abrigarem. Quando a chuva vem, a gente fica sem ter pra onde ir, só me dá vontade de chorar. Estou cansado”, desabafa o Wellington Silva, trabalhador autônomo e morador da comunidade.

Ele e outros moradores de Acari foram duramente prejudicados pela decisão do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), de proibir a realização da tradicional Feira de Acari, alegando que o espaço não é autorizado e teria ligação com organizações criminosas. Paes, que já é conhecido por perseguir camelôs, generaliza e criminaliza centenas de trabalhadores, privando o povo que já é carente de tudo, também de garantir o seu sustento.

“Independentemente de todas as dificuldades e da situação precária, o MLB continua junto às famílias de Acari, pois, só com muita organização e luta, conseguiremos avançar e construir um movimento forte, que consiga cobrar das autoridades a dignidade que nosso povo merece”, afirmou Paula. De fato, no sistema capitalista não existe espaço para o povo pobre. Por isso, é preciso lutar para alcançar o dia em que a classe trabalhadora conquiste uma nova forma de viver, onde todos tenham dignidade, que só será alcançada no socialismo.

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