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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Militares querem destruir santuário ecológico em Aldeia

Tatiana Portela | Jornalista


Numa espécie de resistência titânica, um grupo de moradores de Aldeia (Município de Camaragibe, na Região Metropolitana de Recife) está mobilizado, desde o início do ano, para tentar evitar a destruição de uma área considerada santuário ecológico de Pernambuco. Trata-se de um território ocupado desde a Segunda Guerra Mundial pelo Exército Brasileiro, que transformou engenhos de açúcar em Mata Atlântica, e agora quer utilizar parte da área para construir um complexo com escola, moradia e outros equipamentos, que compõem a Escola de Sargentos.

Estamos em plena era de emergência climática. O presidente fala, os ministros falam, os governadores falam, os empresários falam, o Exército fala, todo mundo fala que vai preservar o meio ambiente, que vai evitar o desmatamento. Mas o que se vê na prática?

O Exército Brasileiro garante que fará a devida “compensação ambiental”, plantando mudas em outras terras para substituir as mais de 300 mil árvores que pretende cortar. Essa compensação, é de conhecimento geral, não ameniza o crime ambiental e seus impactos na vida dos pernambucanos. Árvores adultas prestam serviços ambientais que as mudas a serem plantadas demorarão anos a conseguir prestar. Além de armazenarem uma grande quantidade de carbono, limpando o ar, elas fornecem um habitat único para diversas espécies animais, garantem o ciclo de águas fluviais e o próprio abastecimento para consumo humano, evitam a erosão do solo, etc.

Definitivamente, não podemos nos dar ao luxo de derrubar uma árvore sequer. Precisamos, isso sim, reflorestar áreas degradadas, impedir o avanço imobiliário desenfreado (Aldeia, especialmente, já não aguenta mais!), e estimular a educação ambiental nas escolas e na sociedade em geral.

Ninguém é contra que a Escola de Sargentos do Exército se instale em Pernambuco. Ela tem sua importância socioeconômica, todos sabemos. Mas existem alternativas, já amplamente divulgadas pelo Fórum Socioambiental de Aldeia, de locais dentro do próprio Centro de Instruções do Exército, que evitariam o desmatamento de mais de cem hectares de florestas. Mas os militares argumentam que aceitar essas alternativas aumentaria em vários quilômetros a distância que eles teriam que percorrer para chegar ao Recife. E isso não interessa ao Exército.

Não seria essa postura egoísta a que tem levado a humanidade à derrocada? Abrir mão das nossas matas densas e preservadas não seria andar na contramão do que o mundo vem pregando? Em nome de quê? Os mesmos empregos a serem criados na área prevista hoje serão criados na área alternativa. O desenvolvimento que virá com essa obra atenderia – melhor ainda! – a uma região menos assistida atualmente, levando os empregos e a circulação da renda para pessoas mais necessitadas.

Estamos cansados de discursos “pra inglês ver”. Precisamos colocar em prática o que é dito nas conferências do clima e outros fóruns mundo afora. É hora de unir forças pela preservação da vida no planeta. Entender que o maior fragmento contínuo de Mata Atlântica acima do rio São Francisco deve permanecer intocado, preservado pelo Exército Brasileiro. Mexer nessa floresta é um crime ambiental com consequências para nós e para as gerações futuras. Cada árvore importa!

Matéria publicada na edição nº 286 do Jornal A Verdade

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