Idealismo e falta de iniciativa: obstáculos para a revolução

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Sob a perspectiva de que a revolução é uma obra coletiva que precisa ser edificada diariamente, é preciso encarar a construção material do partido revolucionário sem idealismos e com grande espírito de iniciativa. Todas as vitórias do movimento comunista e revolucionário só são possíveis a partir dessa postura, do compromisso com uma disciplina de ferro no cotidiano.

João Coelho


SÃO PAULO – O trabalho revolucionário é marcado por um cotidiano de perseverança, de dedicação à uma construção muitas vezes invisível. Há quem repita a frase, popularmente atribuída à Lênin, segundo a qual “há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem”, sem perceber que nas décadas de calmaria um intenso trabalho é necessário e não se pode passar os dias esperando a chegada das semanas revolucionárias onde tudo se decide.

Sob a perspectiva de que a revolução é uma obra coletiva que precisa ser edificada diariamente, é preciso encarar a construção material do partido revolucionário sem idealismos e com grande espírito de iniciativa. Todas as vitórias do movimento comunista e revolucionário só são possíveis a partir dessa postura, do compromisso com uma disciplina de ferro no cotidiano.

Hoje no Brasil, com o crescimento da Unidade Popular, está se desenvolvendo um genuíno partido dos pobres, dos povos indígenas, do povo negro, da população LGBT+  e, segundo seu Presidente, Leonardo Péricles: “Ninguém pode impedir a UP de ser um partido de milhões, a não ser nós mesmos”. Que quer dizer o camarada quando indica que nós somos o único obstáculo ao crescimento do partido? Justamente que sem nosso trabalho consciente e disciplinado, esse crescimento não poderá se concretizar; a campanha de legalização da UP foi um grande exemplo prático de como trabalhar sem idealismos e com iniciativa revolucionária: não haviam ilusões sobre como conquistar o apoio de milhões de trabalhadores para a construção do partido, todos dedicaram seu tempo, seus pensamentos e sua ação àquele projeto e o fizeram vitorioso com suas próprias mãos. Assim deve ser feito com cada etapa da revolução.

Outro exemplo é a mudança de periodicidade do jornal A Verdade, que após 22 anos de existência passou a ser quinzenal; essa grande conquista não seria possível sem a dedicação de milhares de brigadistas, que saem de suas casas todos os dias para levar o jornal aos trabalhadores e estudantes. Não há ilusões de que uma mídia popular e revolucionária possa ser construída sem esse trabalho cotidiano, sem que cada um se dedique a pensar sobre o jornal, planejar e executar as brigadas, cuidar para que entre suas atividades esteja garantido o momento de encontrar-se com um apoiador e vender-lhe o jornal.

Como mostram esses dois casos, não se pode esperar que o progresso das lutas e da construção do partido caia do céu, ou das mãos de outros camaradas. No trabalho de construção material, muitas vezes há idealismos, vacilações e desânimo por parte dos responsáveis, que se iludem acreditando que será possível construir a revolução sem agir para garantir as condições materiais para o desenvolvimento de nosso partido, ou que essa tarefa será resolvida por outras pessoas; falamos aqui do financiamento de atividades, viagens, materiais de agitação e propaganda, estrutura para as diversas lutas e enfrentamentos ao capital, como passeatas, eleições, greves, trancamentos e ocupações. 

Nesse trabalho é preciso que cada um compreenda seu papel e a força que tem quando inserido na ação coletiva. É preciso que cada um tenha iniciativa, que se interesse e se preocupe em participar da solução dos problemas e da execução dos planos, para que o Partido possa financiar-se, lutar e crescer.

O idealismo e a falta de energia na ação, de motor interno como dizia Che Guevara, são grandes obstáculos que podem nos impedir de aproveitar as melhores oportunidades para fazer o povo entrar em revolução.

Matéria publicada na edinção nº 286 do Jornal A Verdade