O valor da passagem aumentou em quatro vezes. O Ministério Público abriu uma investigação para averiguar o abuso.
Victor Santana e Alice Wakai | Paraná
Os londrinenses viram o preço da passagem de ônibus saltar de R$ 4,80 para R$ 5,75. O aumento de 20%, que é quatro vezes maior que a inflação de 2023, acontece na mesma época do ano anterior, em que a tarifa passou de R$4,00 para R$4,80.
Com o último aumento, Londrina já supera o valor da passagem de várias capitais do Brasil, como São Paulo (R$ 4,40), Porto Alegre (R$ 4,80) e Salvador (R$ 5,20).
Desta vez, o aumento foi tão abusivo que despertou a atenção até do Ministério Público do Paraná, que abriu uma investigação para questionar a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), que gerencia o transporte coletivo, sobre o critério utilizado para o reajuste.
Além disso, diversos representantes da sociedade civil, como a ULES (União Londrinense dos Estudantes) e o CDH (Comissão dos Direitos Humanos) se mobilizaram contra o aumento da tarifa. No último dia 25 de janeiro as entidades entregaram um abaixo-assinado com 2.095 assinaturas, pedindo a revogação do aumento ao prefeito, Marcelo Belinati (PP).
Tarifa abusiva expulsa povo pobre do centro
Na prática, a falta do transporte público gratuito expulsa milhares de trabalhadores do centro, estudantes e principalmente o povo pobre, e que luta todo dia para pagar o aluguel e alimentar a família, impedindo-nos de ir e vir e acessar a cidade, os serviços públicos e as áreas de lazer.
É o caso da estudante, Carolina Cury Harfuch, que teve que interromper as aulas no cursinho por conta da dificuldade de se locomover até o local de estudo. Para ela, o aumento da passagem pode fazer com que as pessoas não consigam contar com o transporte da cidade. “Já era caro antes, principalmente porque a gente que é estudante não tem passe livre, só 50% de desconto. Tem dias que vou pegar ônibus pra algum lugar e o Uber tá R$2 mais caro, então não compensa mais pegar o transporte público”, comenta.
Guilherme Gouvea, estudante de Ciências Sociais, estava há duas semanas sem poder se deslocar até a universidade no momento em que falou ao Jornal A Verdade. Ele também faz estágio e não tinha dinheiro para custear a passagem. “Pagar metade da tarifa ainda é caro para gente, principalmente para quem faz estágio. Até pouco tempo, a bolsa era de R$400, e não temos ajuda de custo com transporte. A gente mal tem dinheiro para se virar”.
Para ele, o aumento da tarifa e a falta do passe livre e 100% gratuito para os estudantes, é uma forma de elitizar ainda mais a universidade pública. “Isso leva à higienização desse espaço e também à evasão escolar”, completou.
Tarifa Zero já!
Mas se são os trabalhadores, os estudantes e o povo das periferias quem mais sofrem com o aumento abusivo da tarifa do transporte, quem lucra com isso?
Segundo o IDEC, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, em 2022 a Proposta de Emenda à Constituição – PEC nº 15/2021 repassou mais R$ 2,5 bilhões para as empresas de ônibus. Ao todo, mais de 122 municípios já receberam esse subsídio, entre eles, Londrina e a a Transportes Coletivos Grande Londrina (TCGL) e Londrisul, responsáveis pelo transporte coletivo na cidade receberam quase R$ 33 milhões da prefeitura de Londrina em 2023.
Em 2022, a empresa já havia ganhado R$ 107 milhões de uma indenização da Prefeitura. Na ação, a empresa alegava que a Prefeitura deixou de prever, na composição da tarifa, um percentual de lucro de 7,5% e 10% entre 2005 e 2015. Ou seja, o dinheiro que foi parar nas mãos dos exploradores, era suficiente para comprar 300 novos ônibus.
No mesmo ano, a Câmara de Vereadores instaurou uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar irregularidades na prestação do serviço de transporte coletivo na cidade. De acordo com o relatório, um documento de mais de 120 páginas, as concessionárias descumpriram uma série de obrigações contratuais.
Lutar por transporte público gratuito e de qualidade
Enquanto uma minoria de empresários sanguessugas explora o transporte como fonte de lucro, só quer saber de tirar mais e mais dinheiro dos cofres públicos, sem retornar ao povo um serviço abundante e de qualidade, nós vamos à luta para reivindicá-lo como um direito!
Os trabalhadores e estudantes de Londrina não devem recuar diante dessa afronta fascista! É hora de ocupar as ruas do país para derrubar os aumentos que só servem aos ricos! Devemos organizar atos, manifestações e conscientizar nosso povo sobre a importância da tarifa zero e da estatização do transporte! Transporte público de qualidade é direito que só será alcançado por meio do poder popular e pelo socialismo!