Dedico este texto à Sarah Domingues, grande revolucionária que contribuiu muito mais do que consigo escrever em breves linhas acerca do desenvolvimento e métodos organizativos de nosso partido. Sarah, tua luta continua!
Jonas da Rocha Silva| Diretor da FENET RS
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TEORIA MARXISTA – Durante toda sua vida Vladimir Ilitch Lenin se dedicou a debater o desenvolvimento da teoria e os métodos organizativos necessários para uma organização verdadeiramente revolucionária e que desse cabo de pôr fim ao capitalismo de maneira consequente.
Esse revolucionário, ao longo de sua vida, não apenas entregou-se aos livros e a teoria em sua abstração, mas usou da concepção marxista, da realidade material em movimento, lutando no movimento operário, militando nas fileiras do Partido Operário Social Democrata Russo e, assim descobriu as limitações daquela organização e então, a partir desse esforço cotidiano e combatente, elaborou o método leninista de organização.
Ao encarar de frente a vida política dos nossos adversários de classe, dos muito-ricos, dos financiadores das guerras e dos que lucram em cima da exploração do trabalho da imensa maioria da população; Lênin conseguiu observar que a burguesia e seus representantes, para ter uma vida pública, para aparecer nos holofotes da imprensa russa czarista, para serem sujeitos que dessem sequência da sua tarefa histórica que é manter o regime russo tal qual como estava, tentar cristalizá-lo para que não houvesse uma só mudanças em favor dos mais desfavorecidos, para esmagar a revolta dos povos oprimidos, para conter a inconformidade na cidade e no campo, para destruir as organizações políticas populares; se fazia necessário existir uma casta de políticos que representassem seus interesses. Isto é, uma parcela da sociedade que não exatamente se envolvesse na esfera produtiva, na produção social da riqueza. Mas que estes elementos destacados da sociedade, alinhados politicamente com as classes ricas, estivessem liberados de tudo para executar essa ignominiosa tarefa: impedir a revolução, manter e ampliar a exploração.
Essa parte da sociedade não iria estar alinhada politicamente a uma classe se sua condição e modo de vida não se assemelhasse a vida dela e, por isso, os setores mais ricos da Rússia investiram rios de dinheiro para que esses representantes de fato representassem esses interesses, que, por consequência, passaram a ser seus também.
Essa estrutura de sociedade é análoga ao que vive a sociedade brasileira no atual estágio de desenvolvimento.
Não é segredo para ninguém que Jair Bolsonaro chegou ao poder porque foi investido muito dinheiro para isso ocorrer. Ele se elegeu, porque os proprietários que fazem parte da grande mídia, do alto comando das forças armadas, os ilegítimos e assassinos, os grandes latifundiários, os financiadores do crime organizado, os grandes proprietários brasileiros e internacionais das fábricas – onde trabalham a maioria dos operários -, investiram pesado na sua campanha. Certamente, Bolsonaro não sustenta seu estilo de vida porque trabalha honestamente em um lugar e recebe um salário como milhões de brasileiros e brasileiras, mas porque sua vida política está intrinsecamente ligada à classe que o financia. E então, que tipo de participação política tem a trabalhadora que acorda às 5h, leva o filho na creche, pega dois ônibus, trabalha 8 horas, volta pega dois ônibus novamente, cozinha, lava, estende, arruma e limpa casa? Que participação política confere aos que têm pouco tempo para participar da vida pública?
Em “Que Fazer?”, texto escrito por Lênin e publicado em 1902, diz que apesar de pouco tempo livre que dispõem as classes exploradas, essa é a principal fonte de recurso humano, de quadros, militantes, para a revolução:
“Os homens existem em grande quantidade porque a classe operária e camadas cada vez mais variadas da sociedade fornecem, a cada ano, um número sempre maior de descontentes, desejosos de protestar, prontos a cooperar de acordo com suas forças na luta contra o absolutismo, cujo caráter intolerável ainda não foi reconhecido por todo o mundo, mas é cada vez mais vivamente sentido por uma massa cada vez maior”
Lenin expõe que uma organização dos mais pobres para derrotar a exploração presente na sociedade de classes, precisa ter a sua independência política da classe que é responsável por gerir e se beneficiar desse sistema. Portanto, não existe melhor maneira de realizar isso do que com independência financeira da burguesia.
Companheiros, a mais pura verdade é que o proletariado brasileiro não tem escolha sobre as organizações políticas em que ele irá financiar, porque já nasce filiado à burguesia.
Qual o trabalhador brasileiro hoje tem a opção de não trabalhar e, consequentemente, entregar parte da sua riqueza produzida para um patrão? Essa é a primeira contribuição financeira compulsória do trabalhador brasileiro, uma em que ele é obrigado a fazer. A segunda forma de contribuição financeira que o trabalhador brasileiro não pode deixar de fazer é contribuir com o sistema de impostos. Qual trabalhador pode deixar de pagar impostos que paga uma dívida pública criminosa, pagam os políticos que lhe tiram os direitos, que vendem as empresas públicas, que atentam contra a democracia, que financia os partidos inimigos do povo e que na verdade deveria contribuir com a saúde, educação e moradia? Essa é a segunda forma de contribuição financeira, também obrigatória. Existem diversas outras contribuições que se fazem voluntariamente ou não, como para a manutenção de uma igreja, para uma instituição que faz doações, para uma associação esportiva ou para um clube.
Mas existe uma contribuição individual que pode servir para a libertação da humanidade, uma contribuição que ajuda a construir um mundo melhor, justo e bom. Uma contribuição que ajude a sustentar uma organização que represente seus interesses de classe, que lute pelos seus direitos e pela ampliação deles, pelo estabelecimento das lutas em diversos lugares simultaneamente, uma contribuição que financie a semente da revolução? Companheiros, essa contribuição é, justamente, a contribuição individual para a nossa organização!
Essa foi uma solução encontrada na Rússia e que serve ao Brasil como uma luva. Pois, para ter independência política é necessário ter independência econômica! Para sermos uma organização sob o interesse de classe do proletariado e os mais pobres do Brasil, devemos receber financiamento justamente dessa classe, não devemos jamais aceitar recursos da burguesia, isso seria vender nossa política, isso daria a obrigação de ter que aceitar as pautas da classe que tem a propriedade privada dos meios de produção, e consequentemente, fazer esta defesa.
Nossa organização deve ter rabo preso apenas com uma classe que é, justamente, o proletariado e as camadas mais pobres do povo, esses sim que devemos prestar contas, das promessas que fazemos desde quando fazemos a eleição de um Grêmio Estudantil, até quando formos nós que gerenciarmos o Estado brasileiro, mostrar e evidenciar com a transparência que é necessária de onde são e para onde foram os recursos empregados.
Vejamos o acúmulo da Internacional Comunista em junho de 1921 no texto “A Estrutura, os Métodos e a Ação dos Partidos Comunistas”
“ […] para ser membro do Partido Comunista, é necessário, de maneira geral, além da convicção comunista, […] pagar regularmente as cotizações estabelecidas, a assinatura do Jornal do Partido, etc.“
Dessa maneira, conseguiremos ter a base e o mais importante combustível para nossa organização funcionar, pois é através das cotas individuais que podemos, inclusive, liberar companheiros do trabalho para a burguesia e, assim, cada vez mais romper com o trabalho artesanal e termos mais camaradas liberados para trabalhar inteiramente para o povo e dedicar sua vida integralmente a revolução.
Portanto, camaradas, não exitemos de fazer esse debate nos coletivos, nas atividades internas quando convir.
Para ser um(a/e) completo(a/e) comunista é necessário que nossas contribuições estejam em dia para sustentar materialmente nossa organização, que esse debate no coletivo não esteja sondado de uma tristeza sobre as dívidas contraídas, uma luta ideológica rebaixada, uma agiotagem sobre as contribuições, um mero burocratismo de bater na tecla todo mês mecanicamente, mas um debate alegre, criativo, que busque nas nossas fileiras a combatividade, a segurança e estabilidade financeira que nossa organização necessita e que encontre nas massas os recursos necessários para sustentar esse processo revolucionário que estamos construindo.