JC Moretti | João Pessoa (PB)
O dia 05 de abril, aniversário de dois anos da Ocupação João Pedro Teixeira, organizada pelo MLB no Centro de João Pessoa (PB), será especial. A portaria n° 1.482 do Ministério das Cidades incluiu o prédio da ocupação no Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para empreendimento de uso social e habitacional. A Câmara Municipal de João Pessoa já havia aprovado a doação do Edifício Nações Unidas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) para a construção de unidades habitacionais.
Serão 41 famílias contempladas, vindas do Bairro das Indústrias, do Centro e das comunidades Citex e São Rafael, que, sem aguentar pagar aluguel ou morando de favor, começaram um processo de organização, ainda em 2021. Foram cadastradas e ingressaram nos núcleos do MLB, estudando o jornal A Verdade e os materiais do Movimento. Em abril de 2022, ocuparam o prédio, recém-desapropriado pela Prefeitura, e decidiram homenagear João Pedro Teixeira, mártir das Ligas Camponesas de Sapé.
Durante esses dois anos, as famílias não se limitaram a manter o espaço ocupado. Pelo contrário, mergulharam nas lutas da cidade por segurança alimentar e fornecimento de cestas básicas, engajaram-se na luta contra o Plano Diretor elitista proposto pela gestão do prefeito Cícero Lucena, mobilizaram-se contra o projeto “João Pessoa Sustentável”, também da Prefeitura, com financiamento do BID, e contra o aumento das passagens de ônibus.
Foi nesse clima de lutas e vitórias que A Verdade conversou com Josiane Soares e Valdemir Peixoto, lideranças da Ocupação.
A Verdade – O que vocês consideram que foi o mais importante nessa luta até agora?
Josiane – Foi a consciência de que ocupar é um direito. O prédio estava abandonado há oito anos. Nós chegamos, limpamos tudo, organizamos a cozinha comunitária, instalamos água, dividimos os cômodos.
Valdemir – O principal é a emancipação das pessoas. A consciência de que estamos lutando por reforma urbana e pela valorização do Centro da cidade. As famílias não aceitaram a primeira proposta da Prefeitura, que pretendia nos remover para o bairro do Alto do Mateus. Resistimos e estamos vencendo. Foi importante também o trabalho de formação política com o jornal A Verdade, pois esse trabalho permite que as famílias que foram chegando compreendessem que o desenvolvimento e o crescimento da luta devem ser coletivos e contra o capitalismo.
Quais são os próximos passos da luta do movimento?
Josiane – Primeiramente, assegurar que todas as famílias da Ocupação recebam o auxílio-moradia, enquanto a Prefeitura execute a reforma do prédio e depois garantir o retorno das famílias ocupantes.
Valdemir – Em função dessa vitória, conquistada com muito suor, e do aniversário de dois anos da Ocupação, o MLB vai organizar um seminário sobre reforma urbana e direito à cidade no mês de abril.
Pessoalmente, como tem sido participar dessa luta?
Josiane – Posso dizer que a ocupação contribuiu também para a minha própria emancipação. Saí de um relacionamento abusivo, me eduquei politicamente, aprendi a importância de compartilhar a luta por um mundo melhor. Cheguei sem acreditar muito, mas vi que o Movimento é sério e hoje… [se emociona] vejo que minha vida melhorou em todos os aspectos. Vou realizar meu sonho da casa própria, não importa o tempo que possa demorar. Ah, e ainda ajudei minha filha, minha mãe e um vizinho idoso que estavam sem ter onde morar também.
Valdemir – Eu estava prestes a ser despejado e me tornar um morador de rua quando conheci o MLB. Não conhecia os processos internos do Movimento, não tinha experiência nenhuma de como ocupar, mas tinha a consciência de que seria uma luta militante. Todo esse processo fez com que minha motivação aumentasse muito e voltasse a acreditar nos movimentos sociais.
Olho: “Eu estava prestes a ser despejado e me tornar um morador de rua quando conheci o MLB. Não tinha experiência nenhuma, mas tinha a consciência de que seria uma luta militante.”
Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade