Matheus Luna | Santos (SP)
Após matar 28 pessoas na Baixada Santista, em 2023, o Governo do Estado de São Paulo retomou a Operação Escudo como resposta à morte do policial Samuel Cosmo da Rota, tropa de elite da Polícia Militar paulista.
Desde o dia 02 de fevereiro, Governo do Estado de São Paulo retomou a Operação Escudo que já causou a morte de pelo menos 43 pessoas na periferia das cidades da região.
A operação, marcada pela violência e truculência nas abordagens registradas em vídeos que circulam pelas redes digitais, já assassinou jovens e pais de família, sob a justificativa de combate ao crime organizado. Vídeos como o que flagra o servidor público Ruan Ribeiro de Araújo, 27 anos, ser alvejado de maneira covarde por um policial militar, em plena luz do dia, em frente da família e vizinhos.
As ações da PM transformaram a vida dos moradores da periferia da Baixada Santista em um cotidiano de medo, como mostram os relatos que moradores concederam, em anonimato, ao jornal A Verdade. Os nomes dos moradores foram alterados para evitar perseguições.
“Moro aqui no Rádio Clube (bairro da Zona Noroeste, periferia de Santos) há 30 anos. Aqui sempre tem operações policiais, mas violentas como essa, eu nunca vi. Essa operação alterou a forma de viver aqui do território”, relata Maria Luísa, assistente social aposentada. Ela conta que o medo tomou conta do dia a dia, em especial das mães da juventude periférica e negra, principal alvo da Polícia. “A primeira coisa afetada é nossa saúde emocional, pois se não matou alguém da minha família, é alguém próximo, alguém conhecido, um jovem”, desabafa. “E a gente, como mãe de jovem, só tenho paz quando eu ouço a chave no portão com meu filho entrando”.
Pedro, que trabalha como motociclista de aplicativo e é morador do Morro São Bento, relata: “Há um tempo atrás, eu tava trabalhando de madrugada porque tava rendendo mais viagens e um dinheiro a mais, mas eu tive que mudar todo meu horário porque eu simplesmente estava com medo da Polícia me estranhar enquanto eu trabalhava”. Pedro destaca o aumento da insegurança no trabalho e também onde mora: “Qualquer corrida que acontecia na periferia, eu comecei a ser parado, sendo abordado de forma extremamente brusca e violenta. Mataram dois moradores na rua paralela a da minha casa, uma das regiões mais tranquilas e que nos sentíamos mais seguros de transitar, tudo isso depois que a Polícia começou a invadir o morro”.
Nas quebradas, a morte passou a ser rotina e a estar cada vez mais próxima. Carla teve a vida de sua família diretamente atingida pela violência da policial. “Meu medo aumentou ainda mais depois que mataram o pai do meu filho. Eu já estava separada dele há sete anos e meu filho quase não tinha contato com ele, apenas por mensagens. Ele era usuário de drogas e já vivia em função dela praticamente. Com isso, ele vivia pela rua onde ele foi parado e alvejado. Não estava armado nem nada. Ele merecia morrer desse jeito? O que significa de verdade essa operação? Para mim, isso é uma chacina, e não justiça”. Revoltada, não vê a operação como algo que vá resolver o problema da violência. “Eu quero muito a paz de volta e que essa operação acabe. Justiça é prender quem esteja fazendo algo errado, ir atrás dos caras certos, os grandes. Mas o que está acontecendo é que inocentes estão morrendo, como os dependentes químicos que ficam pelas ruas”.
Giovanni, morador da Zona Noroeste de Santos, e militante da Unidade Popular, destaca a importância de nos organizarmos para combater o fascismo do Governo de Tarcísio: “Precisamos entender qual o interesse econômico por trás dessa violência da Polícia e do Estado. Nossa região abriga o maior porto da América Latina, de interesse do Tarcísio e de toda a burguesia. Vivemos num sistema que coloca o dinheiro acima da vida do nosso povo. Nós, da UP, queremos destruir esse sistema de morte que é o capitalismo e construir o socialismo, a verdadeira solução para nossos problemas!”.
Dona Margarida, de 69 anos, lutadora pela moradia há mais de 30 e moradora de Santos, crava: “Isso não é Operação Escudo! É Operação Assassinato! Porque muitos jovens, pais de família que não têm nenhuma relação com o tráfico estão sendo assassinados”. Reforçando o terror que é um pai de família sair de casa e não saber se volta, recorda sua vida de luta na região: “Quando eu cheguei aqui em Santos, em junho de 1973, eu morei no Morro São Bento, no Mercado, no Ilhéu Baixo, 20 anos na Zona Noroeste. Mas olha, eu nunca vi a Baixada Santista dessa maneira como nesse último ano, nunca vi um governo tão violento quanto esse do Tarcísio, mas vamos resistir!”.
Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade