Pessoas com deficiência organizam em ato em defesa de Centro de Reabilitação no RJ

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O Centro de Reabilitação Oscar Clark, gerido pela prefeitura, promove autonomia entre as pessoas com deficiência há anos. No entanto, a prefeitura vem dispensando funcionários sem recontratação, ao ponto da Unidade para Deficientes Visuais operar com apenas 2 funcionários.

Redação Rio


Na manhã dessa terça-feira (12) dezenas de pessoas com deficiência tomaram a frente da prefeitura do Rio de Janeiro. Em um ato organizado por um grupo de amigos atuantes nas lutas sociais, essas pessoas cobravam do prefeito respostas quanto ao Centro de Reabilitação Oscar Clark, que atualmente se encontra abandonado.

Centro Oscar Clark sofre com abandono e sucateamento

Fundado em 1930 por um burguês como instituição filantrópica, o Centro Oscar Clark servia para auxiliar crianças que não podiam pagar pelo serviço elitista de saúde e, desde 1962, atua como centro de reabilitação para pessoas com deficiência. A reabilitação é o processo que ocorre quando uma deficiência é adquirida já na fase adulta, e visa a desenvolver a autonomia dos seres humanos em sua nova condição.

Atualmente, o Centro Municipal de Reabilitação Oscar Clark diz em seu site que conta com equipes multidisciplinares para atender os reabilitandos (psicólogos, fisioterapeutas, professores, entre outros). Mas a realidade é que a imensa maioria desses funcionários foi mandada embora ou realocada para outros departamentos da Secretaria Municipal de Saúde. O caso mais gritante é o da Unidade para Deficientes Visuais (UDV), responsável pela reabilitação de pessoas cegas, que conta hoje com apenas 2 funcionários, que não dão conta da demanda e que tampouco podem ser chamados de “equipe multidisciplinar”. Até mesmo o médico responsável pela triagem dos pacientes, ou seja, o responsável por autorizar a reabilitação dessas pessoas, também foi dispensado. Na prática, hoje, os cariocas com deficiência e mais notadamente os cegos têm o direito à reabilitação negado pela própria prefeitura.

Mobilização e Continuidade na Luta

No ato, que contou com a presença do diretório municipal da Unidade Popular no Rio de Janeiro, houve depoimentos de vários usuários do centro de reabilitação, evidenciando a importância desse tipo de espaço para a autonomia das pessoas com deficiência. Além do atendimento com profissionais, a UDV também fornecia bengalas para as pessoas cegas residentes da capital, o que só aumenta sua importância já que, apesar de indispensáveis, bengalas são artigos pouco acessíveis para a já empobrecida população com deficiência. Tal como ocorre com o Braille, a burguesia prefere manter o preço alto, para maximizar seus lucros não importa o mal que isso faça ao povo.

Os manifestantes também não pouparam críticas à gestão antipovo de Eduardo Paes e ao governador Claudio Castro. A própria política pública de acesso a bengalas não atende aos moradores dos municípios da Baixada Fluminense e do Leste Metropolitano. Essa parcela da população se vê obrigada a pedir a ajuda de parentes que morem no município do Rio de Janeiro ou até a mentir, já que suas opções são viver impedidos de se locomover ou correr o risco de serem processados pelo município.

A mesma displicência foi direcionada aos manifestantes, que, após elegerem uma delegação para conversar com a Prefeitura, esperaram por quase duas horas debaixo de sol até que seus companheiros fossem atendidos e retornassem com a resposta. E a resposta em questão foi um punhado de palavras vazias. Pelo abandono que já dura mais de dois anos, a Prefeitura responsabiliza a epidemia de dengue, que foi declarada em janeiro deste ano. Quanto ao futuro do centro Oscar Clark, a resposta é que “Será feito todo o possível”.

Mesmo assim, o povo com deficiência não esmoreceu. David dos Santos, um dos organizadores do ato, ao ser perguntado sobre sua avaliação do ato, respondeu: “A mobilização foi ótima. Não vieram tantos, mas vieram todos os que podiam, e conseguimos ser ouvidos. Não vamos aceitar essa falta de respostas e vamos pressionar até resolver”.

Diante da falta de solução concreta, os manifestantes reunidos decidiram, em assembleia realizada ao fim do ato, aguardar até o fim do mês de março por uma medida efetiva. Caso isso não aconteça, a promessa é de ir de novo às ruas. “A gente decidiu esperar até o dia 26. Se a gente chegar até o dia 26 sem essa resposta, nós vamos vir aqui de novo e caminhar até o CIAD [Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência] para cobrar a valorização do nosso espaço e da nossa vida”.

A disposição de David e de todos os presentes no ato prova que, ao contrário do que a burguesia afirma em sua propaganda atrasada, pessoas com deficiência estão atentas à má-fé dos políticos dos patrões e se organizando em defesa dos seus direitos. Em sua fala diante do ato, Acauã Pozino, membro do diretório municipal da Unidade Popular (UP), declarou: “A gente vem aqui e parece que somos poucos. Nossos conhecidos não vêm, os responsáveis não aparecem, e parece que, na nossa luta, somos os únicos. Mas não, nós não somos os únicos. Nós somos os primeiros. É o nosso exemplo que convence os nossos pares a vir lutar na rua com a gente”.