As mulheres trans no sistema capitalista tem seus corpos rejeitados no trabalho e jogados nas ruas e na miséria. Nos vendo como ameaça, o fascismo concentra a política de ódio para assegurar os interesses do patriarcado. Somente organizando o conjunto das mulheres trans da classe trabalhadora, que tem todas as condições para a luta é que conquistaremos verdadeira emancipação.
Gabrielly Almeida | Fortaleza
OPINIÃO – No dia 15 de fevereiro deste ano, completou-se sete anos de um dos mais horríveis assassinatos já registrados em gravações contra uma mulher trans. O caso ocorreu em Fortaleza (CE), onde Dandara Ketlyn dos Santos foi brutalmente assassinada.
Em ação planejada por 12 homens que tinham ódio o suficiente para chegar a espancá-la à pauladas, pedradas, chutes, enquanto recebia dos piores xingamentos durante agressões, sendo executada em seguida a sangue frio por tiros de arma de fogo na cabeça. O caso rondou mundialmente e surpreendeu até os setores mais misóginos que orgulham-se de seu nojo por mulheres trans. Afinal, tudo pode ser facilmente normalizado e esquecido em uma sociedade que se sustenta sobre a degradação feminina, ainda mais sendo uma pessoa trans, onde é ainda maior tal desumanização, ou seja, “era bom ter morrido mesmo” para o Estado burguês.
Para alguns grupos e movimentos que estão na luta popular, casos como o de Dandara e tantas outras vítimas são vistos muitas vezes simplesmente como vítimas mortas por preconceito. Além de ser uma posição rasa, é romantizada a resistência trans e não interligam contundentemente a questão trans ao patriarcado e a estrutura de classes do capitalismo.
É preciso, com isso, posicionar-se sobre a profundidade do que de fato materializa tanto ódio, violência e opressão às mulheres, sobretudo as trans, no capitalismo. Ora, por que o Ceará é o estado que mais mata mulheres trans no país pelo sexto ano consecutivo? Porque tais violências e assassinatos não diminuem, pelo contrário, além de aumentar vão tornando-se cada vez mais brutais nesta sociedade?
A estrutura familiar e o patriarcado
Se o patriarcado é uma das principais e mais violentas arma de controle do Estado sobre as mulheres trabalhadoras e um dos meios fundamentais para garantir à burguesia (em ampla maioria, homens) sua “sagrada” propriedade privada com seus incessantes lucros resultantes da exploração do povo, a misoginia específica a mulheres trans dizem centralmente à respeito da consolidação e princípios da família tradicional e o papel feminino na subordinação ao homem no sistema capitalista.
“A divisão do trabalho – diz K. Marx e F. Engels – assenta simultaneamente na divisão social do trabalho, na família, e na divisão da sociedade em famílias isoladas e opostas entre si. Implica, ao mesmo tempo, a distribuição desigual do trabalho e dos seus produtos, isto é, da propriedade, cuja forma inicial está consagrada na família, em que a mulher e os filhos são escravos do marido.” (A Ideologia Alemã, Marx e Engels, 1845)
Na origem do patriarcado, os detentores da propriedade privada necessitam da chamada família, palavra de origem do latim famulus, que significa escravo doméstico. Ou seja, a família é, literalmente, o conjunto dos escravos pertencentes ao patriarca, ao chefe, ao senhor, como também coloca F. Engels na obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884).
Neste sentido, voltamos à questão transfeminina sobre a família: a mulher trans, contendo a especificidade de construir, seja no nascimento ou durante sua vida, o papel imposto ao patriarcado para atuar nos padrões do que seja o “homem”, em consequência, propositalmente ou não, quebram a corrente ideológica burguesa nos mais variados aspectos do gênero na sociedade capitalista (a posição social, o papel de gênero, o que configura o homem cultural e histórico, etc.).
O movimento trans atual e sua atuação
Se o feminismo burguês coopta de ‘corpo e alma’ a ideologia das mulheres trabalhadoras no último século, atualmente a classe dominante já não consegue esconder a crescente visibilidade da luta e resistência trans. Isso faz com que disputem, ininterruptamente, a consciência através de todos os meios que possui (instituições, telecomunicação, redes sociais, etc.) para impor goela abaixo seu discurso neoliberal e individualista.
Obviamente, a identidade no aspecto da construção pessoal para as mulheres trans é importantíssima sobre sua dignidade, autoconhecimento e autoestima. Porém, por mais duro que seja, isso está longe de ser o que nos constrói como trans enquanto pertencentes da classe trabalhadora em uma sociedade dividida em classes e patriarcal.
Explicando de outro modo: “A questão feminina – dizem as burguesas – é questão de direito e justiça. A questão feminina – respondem as proletárias – é questão de um pedaço de pão” (A Mulher Trabalhadora na Sociedade Contemporânea, A. Kollontai, 1908).
É preciso construir uma luta revolucionária de mulheres trans
De fato, nós conquistamos inúmeras vitórias fruto da luta popular. Em 29 de janeiro de 2004, quando o Ministério da Saúde lançou no Congresso Nacional a campanha Travesti e Respeito, com apoio de líderes do movimento pelos direitos de pessoas trans, e tantos outros acontecimentos que foram importantes para que avançássemos por direitos básicos.
Ademais, podemos aumentar magnificamente nossa atuação de modo combativo, organizado e socialista. Coloca-se diante de nós a mais dura crise econômica do capitalismo imperialista e somos aquelas que são jogadas para a rua, na miséria e no desemprego. O fascismo se fortalece mundialmente e somos aquelas que são um dos primeiros alvos de ódio da extrema-direita e sua política de morte.
A social-democracia, que promete conciliar os interesses dos ricos e dos pobres, e a mulher trans fica a depender de migalhas e à mercê do sistema. Portanto, somente organizando a luta é que conseguimos conquistar vitórias e é preciso que seja a partir de um ponto de vista revolucionário.
Para não cair no fracassado individualismo burguês e para não separarmos a luta trans da luta feminista, é necessário entender os papéis de gênero, sociocultural e histórico no aspecto da mulher proletária. Partindo da mais acertada linha política libertadora, o marxismo-leninismo, pois somente ele continua sendo capaz de mobilizar o conjunto das mulheres de forma unitária e coletiva, para construir a organização de ferro que destruirá as estruturas da opressão e exploração capitalista, e construirá a sociedade efetivamente nova que não trata-se de um sonho idealista dos trabalhadores, mas a certeza através do socialismo científico, a partir da nossa realidade material enquanto mulheres brasileiras.
Nossa luta é para que não se permita nossas mulheres serem assassinadas pelo Estado e o Capital e fazer com que todas as ferramentas do machismo e da misoginia não façam mais sentido sobre um governo revolucionário dos trabalhadores, tendo convicção que tanto podemos como devemos construir a sociedade socialista no Brasil e estabelecer o triunfo dos povos no mundo inteiro.