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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A Mineração na lógica do capitalismo financeiro: o lucro Vale mais do que vidas

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Após cinco anos da tragédia, a Vale distribuiu mais dinheiro aos seus acionistas do que o valor disponibilizado para mitigar os efeitos da tragédia de Brumadinho.

José Luiz | Minas Gerais 


Muitas vezes só conseguimos enxergar os efeitos negativos da mineração em situações de acidentes colossais, como os de Mariana e Brumadinho. Porém, os impactos são mais recorrentes e comuns, alguns com pouca visibilidade e problematização, como é o caso de Amarantina, em Ouro Preto-MG (denunciado em outra matéria  do jornal ) e outras localidades pelo Brasil.

Além dos impactos socioambientais diretos causados pela atividade minerária, um desdobramento implícito, mas não menos importante, afeta a qualidade de vida da população. Trata-se da lógica rentista que sustenta o modelo operacional de empresas privadas de capital aberto.

As empresas de capital aberto são aquelas listadas em Bolsa de Valores, “ambiente” em que frações dessas empresas (ações) são negociadas. Os detentores das ações (acionistas) têm direito ao recebimento periódico de parte dos lucros obtidos pela empresa. São os chamados dividendos e juros sobre capital próprio (JCP).  Além disso, é possível obter lucro via a valorização das ações da empresa. Portanto, o mercado de capitais configura uma fonte robusta para obtenção de lucros, que na maioria das vezes são absorvidos por outros grupos ou empresas.

A Vale, por exemplo, principal mineradora do Brasil, tem como um dos principais acionistas o fundo de investimento americano Black Rock, que detém cerca de 5,8% das ações da mineradora1. Portanto, o lucro obtido pela Vale – muitas vezes recheado de mortes, dor e lama –  não retorna para o local e para a população que gera a riqueza, mas é direcionado para as mãos de multimilionários, que sequer conhecem o território onde o minério é explorado e os danos locais causados por essa atividade. Você acha que algum gestor do Black Rock já visitou Brumadinho ou Bento Rodrigues?

Os grandes acionistas, como o grupo Black Rock, exercem forte influência e pressão nas empresas, fragilizando a autonomia do corpo técnico, para que os retornos financeiros sejam maximizados com o menor gasto possível, doa a quem doer, morra quem morrer. Dessa forma, o fundo de investimento consegue garantir rentabilidade aos seus cotistas (especuladores que nada produzem e vivem às custas de recursos provenientes da valorização de empresas na bolsa de valores).

Ou seja, as decisões dentro dessas empresas seguem uma ordem hierárquica, que desconsidera muitas vezes os aspectos técnicos mais adequados a respeito da mitigação de riscos de acidentes, visando exclusivamente o lucro. Em outras palavras, a decisão a ser tomada deve ser aquela que vai gerar mais lucro e menos gastos, mesmo que seja a operação que envolva mais riscos e fatalidades.

O capitalismo financeiro é caracterizado pela financeirização da economia, por meio de grandes instituições bancárias e financeiras. O Black Rock, por exemplo, é um fundo de investimento americano que abocanha boa parte das ações de empresas de diversos setores da economia mundial, com o intuito de apenas gerar capital improdutivo no mercado de capitais, servindo apenas uma minoria de bilionários no mundo.

A precarização da qualidade dos serviços das empresas “engolfadas” por esses grandes grupos é uma etapa importante nessa estratégia, pois ela reduz os custos dos serviços e dessa forma, maximiza os lucros que são drenados para os grandes fundos de investimentos mundiais e distribuídos posteriormente aos seus cotistas multimilionários.

Lucro vale mais do que vidas

No contexto da mineração, por exemplo, alguns números atestam que no sistema de financeirização das empresas o lucro vale muito mais do que vidas.

Desde o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, a Vale distribuiu cerca de 140 bilhões de reais aos seus acionistas na forma de dividendos e juros sobre o capital próprio, conforme dados disponibilizados no site da empresa, na área de RI2. Valor que representa quase quatro vezes mais os 37 bilhões de reais disponibilizados, em acordo, para a reparação do indebitável prejuízo causado as famílias e ao meio ambiente, na tragédia de Brumadinho.

Nesse sentido, também é importante destacar que as ações da empresa chegaram a se valorizar mais de 100% em algumas cotações datadas entre 2019 e 2024, inclusive com valorização robusta dias após o rompimento criminoso. Portanto, a atividade rentista e especulativa, que nada produz, recebe benefícios financeiros em detrimento a espoliação dos recursos minerais e das consequências pérfidas de sua exploração, tanto para a população como para o meio ambiente.

Diante desse cenário, ressaltamos a proposta da Unidade Popular em defesa do Socialismo, que defende o fim das remessas de dividendos e lucros direcionados ao rentismo, estabelecendo a planificação da economia que inclui a reestatização de empresas como a Vale, de modo que os lucros obtidos sejam voltados em prol das necessidades da população e para a extirpação das desigualdades sociais.


Referências:

[1] https://www.suno.com.br/noticias/quem-manda-na-vale-vale3-socios-evm/

[2] https://vale.com/pt/dividendos-dividas-e-debentures

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