Cerca de 10 mil pessoas participaram de uma grande marcha pela educação que encheu Brasília nesta quarta-feira (17). A jornada unificada pela recomposição orçamentária da educação teve presença de docentes, técnicos administrativos e estudantes de todo país.
Anna Matos e Pedro Gheventer | Brasília
EDUCAÇAO – Cerca de 10 mil pessoas participaram de uma grande marcha pela educação que encheu Brasília nesta quarta-feira (17). Pela manhã os manifestantes fizeram uma passeata na Esplanada dos Ministérios e uma aula pública em frente ao Ministério da Educação (MEC) pela tarde. A jornada unificada pela recomposição orçamentária da educação teve presença de docentes, técnicos administrativos e estudantes de todo país.
Os servidores federais registram perdas históricas desde 2010, que se intensificaram em 2016 com o Governo Michel Temer e do fascista Bolsonaro, visto que não houve qualquer reajuste salarial.
“As perdas acumuladas apenas entre setembro de 2016 e dezembro de 2023, levando em conta as projeções da inflação para 2024 e 2025, chegam a 42,9%. Em outras palavras, nestes anos nós perderemos quase metade do nosso salário”. Relata o professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Aroldo Félix.
Neste sentido, o Sindicato Nacional de Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) realizou no dia 10 de Abril, com representações docentes de 34 seções sindicais presentes na reunião, uma ampla plenária, quando foi deliberada a deflagração da greve nacional nas universidades federais, institutos federais e CEFETs a partir do dia 15 de abril.
Esta decisão segue em sintonia com a disposição dos professores em todo o Brasil, a exemplo da assembleia geral da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), onde com auditório lotado, com mais de 600 pessoas, deflagraram greve.
Os professores propõem que haja um reajuste de 22,71% dividido em 3 parcelas iguais de 7,06% em 2024, 2025 e 2026. “A greve é essencial. Não é por aumento, é por uma recomposição do que foi perdido pela inflação”, afirma Pedro Xavier do Movimento Luta de Classes (MLC) e do comando de greve nacional da Federação Nacional dos Técnicos Administrativos das Universidades Públicas (FASUBRA).
Em reunião da mesa de negociação no dia 10 de abril, o governo afirmou a proposta de reajuste salarial zero para o funcionalismo público federal em 2024 e apenas apresentou uma proposta de aumento nos benefícios. Ao mesmo tempo, extinguiu a mesa de negociação unificada, cabendo a partir de agora cada categoria abrir o diálogo individualmente. Se não bastasse, o governo também tentou restringir o movimento de greve, ameaçando que qualquer interrupção (parcial ou total) de serviços públicos resultaria na suspensão das negociações em curso com a categoria específica, mas após pressão recuou.
“Está bem nítido que esta manobra do governo tem como objetivo desmobilizar a construção coletiva dos servidores e garantir as metas do arcabouço fiscal para 2024, sendo uma delas, deixar os servidores com ZERO de recomposição para este ano”, denuncia Aroldo.
Cícero Lopes da Silva, 69 anos, professor aposentado de agronomia da UNB, desabafa, “participo de greves desde 1982, e a gente nunca teve uma reposição salarial sem uma movimentação, sem luta e sem greve, então acho necessária. Essa posição de 0% de 2024 é vergonhosa”.
Greve nacional unificada da educação ganha força
Apesar da falta de disposição do Governo em garantir recomposição salarial, a greve da educação vem crescendo, abarcando cada vez mais setores e assumindo um caráter nacional e unificado. Prova disso é que os servidores dos institutos federais (IFs) representados pelo Sindicato Nacional, o SINASEFE, decretaram greve no dia 03 de Abril e os técnicos administrativos das universidades federais estão em greve desde o dia 11 de março. Ou seja, toda a Educação Federal está em greve.
A greve é instrumento fundamental da classe trabalhadora para defender e conquistar direitos. Como bem afirmou Luiz Carlos Galetti, professor aposentado pelo departamento de Sociologia da UNB, “A greve é importantíssima, é o estopim, é a chama viva da mobilização, precisamos de povo na rua, de professores, técnicos, estudantes, juventude na rua, inclusive para barrar esse crescimento da extrema direita, do fascimo”.
Os trabalhadores da educação estão em luta pela recomposição salarial mas também em defesa da educação pública que tanto vem sendo sucateada e sofrendo corte de recursos. A falta de orçamento para educação é uma das pautas principais da greve nacional. Mesmo com a educação em crise há mais de uma década, no ano passado o Governo Federal anunciou corte de R$ 310 milhões.
Após pressão popular, o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma recomposição de R$ 250 milhões, que não chega nem perto de solucionar os problemas que assolam a educação brasileira. A comunidade acadêmica precisa de estrutura física adequada, verba para assistência estudantil e valorização dos profissionais que trabalham nas universidades. Devido a isso os estudantes vem apoiando esta mobilização e em vários estados em assembleia aprovando greves estudantis.
Afinal, com o sucateamento das universidades públicas, as universidades privadas fortalecem o monopólio da educação. É necessário defender a educação pública, gratuita e de qualidade, e o fim do lucro em cima dela. Enquanto o lucro for prioridade, o ensino será sempre secundarizado, por isso precisamos defender os serviços públicos, apoiar e fortalecer a luta pela educação. Sigamos firmes na construção e fortalecimento da Greve da Educação Federal e rumo à Greve de todos os Servidores Públicos Federais.