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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Estudantes secundaristas se mobilizam contra a precarização da educação pública

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A Verdade entrevistou algumas das principais lideranças estudantis secundaristas do país, que nos trazem exemplos importantes de lutas e se preparam para participar do 45º Congresso da Ubes, que acontecerá de 16 a 19 de maio, em Belo Horizonte (MG).

Katerine Oliveira | Rio de Janeiro


ENTREVISTA – Apesar da Constituição de 1988 ter estabelecido a educação como um direito social, muitos brasileiros não possuem a garantia do pleno acesso às salas de aula. São 2,5 milhões de crianças de 0 a 3 anos sem acesso à creche (Pnad) e 2 milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos que não estão nas escolas no Brasil (Unicef).

Além de lutar pelo acesso, a juventude brasileira tem o grande desafio de permanecer estudando. A situação se agravou ainda mais diante dos ataques impostos pelo Congresso Nacional, com sua maioria de deputados reacionários. Principalmente com a falsa Reforma do Ensino Médio e as sucessivas tentativas de cortes no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). 

A Verdade entrevistou algumas das principais lideranças estudantis secundaristas do país, que nos trazem exemplos importantes de lutas e se preparam para participar do 45º Congresso da Ubes, que acontecerá de 16 a 19 de maio, em Belo Horizonte (MG).

A Verdade – A principal batalha dos estudantes hoje é a luta contra o Novo Ensino Médio (NEM). Como a atuação do movimento estudantil forçou os deputados a debaterem com estudantes e educadores as propostas?

Caetano Teles (presidente da Uesb-Pará) A organização do movimento estudantil foi crucial para conseguirmos escancarar para os estudantes e para a sociedade o plano de desmonte da educação que existe por trás dessa proposta. Passamos nas escolas, debatemos com os estudantes e denunciamos que essa proposta de “reforma”, na verdade, veio para tirar dos estudantes mais pobres a oportunidade de entrar na universidade pública. A organização das plenárias de formação sobre a proposta do NEM nas escolas é crucial para que nós, estudantes, compreendamos, na prática, que só com nossa organização poderemos derrotar os projetos antipovo que surgem o tempo todo.

A Verdade – Um dos principais problemas nas escolas brasileiras é a infraestrutura. De que forma isso prejudica o dia a dia de aprendizagem dos estudantes? 

Yasmim Farias (presidente da Aerj) – São inúmeros os problemas que vivenciamos devido à falta de investimento. Um dos dados mais alarmantes do Censo Escolar é que mais de 5 mil escolas não têm banheiro e 8 mil não possuem acesso à água potável. Além das velhas dificuldades estruturais das escolas, outro sufoco é estudar com o calor que está fazendo na maioria das cidades do Brasil. No Rio, por exemplo, as salas chegam até 58,5°C na capital e quase metade das escolas públicas não tem climatização adequada. Os estudantes estão se organizando para lutar pelo direito de assistir às aulas, com apoio das entidades estudantis e até mesmo espontaneamente, realizando atos, cartas e abaixo-assinados para à Secretaria de Educação. Por exemplo, na Zona Oeste da Capital, estudantes do CE Collechio e CE Maria Teresinha organizaram manifestações e se recusaram a fazer uma prova aplicada pela Seeduc, o que foi fundamental para chamar a atenção e cobrar providências da Secretaria.

A Verdade – A participação nos grêmios é normalmente o primeiro contato dos jovens com de luta para mudar suas condições de vida. Em que isso reflete na organização estudantil? 

Kamila Nascimento (presidente da Uespe) – O Grêmio cumpre o papel de organizar a luta estudantil na base, além de proporcionar ao estudante debates e eventos culturais que geralmente são de difícil acesso nas escolas. Também é fundamental para falar de aluno para aluno, mostrar o que está acontecendo com a educação no geral e como isso afeta a realidade na escola. Os cortes no orçamento da nossa educação atualmente atingem a estrutura das nossas escolas, a exemplo da qualidade da merenda que comemos todos os dias.

A Verdade – Ainda existem muitas tentativas de impedir a organização dos estudantes por parte de algumas direções de escolas e Secretarias de Educação. De que forma vocês estão enfrentando essa situação?

Ana Leite (presidente da Ares-ABC) – Assim como na ditadura militar, quando o estudante Edson Luís foi assassinado na luta pela comida, e milhares de estudantes ocuparam as ruas contra a repressão, a força dos grêmios também está na participação dos estudantes. Dessa forma, o movimento estudantil deve estar organizado para fortalecer a luta dentro das escolas, apresentar o papel de combatividade que os grêmios têm e denunciar a perseguição dentro e fora das escolas, em manifestações, plenárias e outras atividades. Outra forma de repressão que tem sido bastante comum, e que temos denunciado, é a tutela da organização dos grêmios por parte dos governos. As próprias direções, orientadas pelas Secretarias, organizam as eleições dos grêmios. O que, em princípio, parece uma “ajuda”, na maioria das vezes se tornam processos antidemocráticos, em que só participam alunos que se submetem às ordens da direção. 

A Verdade – Tratando-se desse tema da democracia das escolas, um aspecto importante, no qual ainda temos muito o que avançar no Brasil, é a eleição direta para as direções com a participação estudantil. 

Amanda Wenceslauv (presidente da Ufes) – A luta pela democracia nas escolas é muito necessária e atual. Em Santa Catarina, por exemplo, no ano passado, o Governo do Estado, em uma medida antidemocrática, colocou interventores nas direções das escolas, passando por cima do voto da comunidade escolar. Quando aconteceu isso, os estudantes, pais e professores logo se colocaram contrários, pois isso mexe com o direito básico de a comunidade escolar votar em um diretor ou diretora que conheça a realidade da escola e represente as demandas da comunidade. O processo de intervenção nas escolas era muito comum na ditadura, onde os militares colocavam pessoas alinhadas com o regime para reprimir estudantes e professores. 

A Verdade – Essa relação dos estudantes com o conjunto da comunidade escolar é um dos fios condutores para o sucesso das lutas. Como tem se dado a unidade dos estudantes com os educadores na defesa da educação? 

Vinícius Brainer (presidente da Apes-Paraíba) – É muito importante que se unifique a luta dos estudantes com os educadores porque a escola é um espaço coletivo, não apenas dos estudantes. Os educadores, assim como nós, estudantes, são extremamente desvalorizados, desde a falta de valorização das carreiras em si até a precariedade material com a qual trabalham. A gente vê que em várias instituições de ensino o teto que cai no estudante também cai nos educadores. E quando nós estamos juntos com os trabalhadores, lutando pelo que se tem de melhor na escola, nada nem ninguém consegue parar. Nossa força aumenta! A exemplo dos vários atos pelo fim da reforma do novo ensino médio que tivemos nos últimos períodos, em que contamos com apoio dos sindicatos da área nas mobilizações, e isso foi fundamental para garantir vitórias. 

A Verdade – Que futuro o movimento estudantil está buscando para a juventude brasileira?   

Bia Jovem (Tesoureira da Ames-BH) – Nós, do movimento estudantil, queremos uma sociedade digna e um futuro com qualidade de vida para a juventude, onde tenhamos acesso à educação em todos os níveis. Hoje, infelizmente, menos de 25% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem ingressar no ensino superior. Precisamos de políticas públicas que dupliquem, tripliquem o número de vagas nas instituições públicas e que mirem o livre acesso à universidade. O Brasil precisa investir financeiramente nos estudantes, investir na rede básica. Queremos que nosso povo tenha total acesso a uma escola de qualidade e também às universidades públicas. Mas sabemos que o povo pobre ter acesso à educação de qualidade vai contra os anseios dos bilionários, que compram os deputados e senadores para garantir seus interesses no Congresso. Por isso, nossa luta vai além da educação, precisamos lutar para que o povo esteja no poder para garantir os seus direitos. 

Entrevista publicada na edição nº290 do Jornal A Verdade.

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