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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Trabalhadoras metroviárias e a luta contra o assédio e as privatizações

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Nos últimos anos, avançaram os ataques contra os direitos dos trabalhadores. Um desses ataques é a privatização de empresas estatais, tais como de saneamento e abastecimento de água, e também dos transportes públicos.

Na luta contra as privatizações, o jornal A Verdade conversou com Amanda Souza, diretora do Sindicato dos Metroviários do Distrito Federal (DF) e com Andrea Lemos, metroviária de São Paulo, para entender a realidade das trabalhadoras e como a privatização piorar as condições de trabalho de todos os trabalhadores, especialmente das mulheres trabalhadoras.

Larissa Mayumi | São Paulo


A Verdade – Quais são as condições de trabalho para as mulheres metroviárias?

Amanda Souza – No metrô de Brasília, as condições de trabalho da mulher vão de mal a pior. As mulheres chegam a cumprir jornadas exaustivas de mais de nove horas, com apenas 30 minutos de intervalo. Hoje, o metrô passa por um processo de sucateamento, o que vulnerabiliza ainda mais a situação da mulher, afetando diretamente as condições de trabalho e ocasionando graves danos à sua saúde, sobrecarregando ainda mais, pois essas mulheres já fazem dupla jornada, considerando as tarefas domésticas. A soma dos fatores (equipamentos de labor em péssimas condições, sobrecarga de trabalho, jornadas exaustivas, excesso de responsabilidade e excesso de exigências) afeta diretamente a saúde física e psicológica da metroviária.

Um dos processos da privatização é a falta de investimento nos serviços, como tem sido o processo de sucateamento do metrô de São Paulo?

Andrea Lemos – Em relação à privatização, é triste e doloroso ver e acompanhar a precarização dos nossos serviços. Houve, desde a pandemia, uma brusca redução no quadro de funcionários. Terceirizaram muitos serviços e departamentos inteiros, como as bilheterias, manutenção, a linha de bloqueios (catracas) e, nesta última semana, o pessoal da pintura foi todo demitido! Os funcionários do metrô na sua maioria têm muito tempo de casa, e estamos muito fora do mercado. Os que têm curso superior, não têm experiência na função e são desatualizados, enquanto muitos com idade avançada contam os longos dias para sua aposentadoria. O processo de privatização é doentio pra todos e todas!

Sabemos que em muitas categorias com maioria feminina, as mulheres não ocupam cargos de liderança. Isso acontece no metrô?

Amanda – O metrô, como empresa pública, tem provimento de pessoal por concurso, mas, nem desta maneira, a mulher está livre da desigualdade salarial. As promoções se dão por cargos de confiança, e no metrô não se diferencia da sociedade como um todo, em que a maioria das funções gratificadas é ocupada por homens. A diferença é mais gritante quando levamos em consideração cargos estratégicos dentro da companhia. Por exemplo, o Conselho Administrativo tem em sua composição seis conselheiros, dentre eles, apenas uma mulher. Já o quadro de diretoria é composto por cinco diretores, sendo zero mulheres.

As mães realizam uma dupla jornada de trabalho, porque recai principalmente para as mulheres o trabalho não remunerado de cuidado dos filhos e das tarefas domésticas. Como é para as metroviárias mães? 

Amanda – As mulheres que trabalham na operação já encontram a primeira barreira nos horários de trabalho, em que o primeiro turno se inicia às cinco da manhã. O outro, se encerra às 00h. É extremamente necessário que a mãe conte com uma rede de apoio, pois não existem creches para filhos de metroviárias e, ademais, quais são as creches que atendem nesses horários? Nenhuma! Caso a mãe não tenha um apoio, alguém que possa cuidar de seu filho, a empresa não se dispõe a facilitar ou fazer qualquer ajuste nestes horários. É o famoso “dê seu jeito”. Sem contar que, para receber o auxílio-creche, benefício que é previsto em lei, a metroviária precisa comprovar que o filho está matriculado em instituição particular de ensino.

De acordo com o Instituto Patrícia Galvão, 76% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência, perseguição, constrangimento ou assédio no trabalho. Como são tratados os casos de assedio no metrô?

Andrea – Trabalho na empresa há 20 anos e, assim como eu creio, que 90% das companheiras já sofreram assédio, tanto moral quanto sexual. Normalmente, o assédio moral é seguido de um assédio sexual mal sucedido. A empresa faz vista grossa, mostrando conivência com os assediadores. Hoje, mesmo o assédio sendo reconhecido na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (Cipaa); a empresa se nega a ter uma comissão de mulheres pra tratar do assunto ou até mesmo um canal específico pra isso.

O que temos a nosso favor é a conscientização de nossos direitos e a união de nossas forças. Hoje temos um movimento chamado “mexeu com uma, mexeu com todas” e também um Audiômetro, onde contabilizamos toda atitude e citações de assédio! A empresa nos dá apenas um canal de denúncia, onde entre outras cabe à denúncia de assédio, porém já foi confirmado que não é tão eficaz. O processo é lento e inibidor pra qualquer vítima.

Qual é o desafio de ser uma dirigente sindical?

Amanda – O ambiente sindical ainda é de predominância masculina. O Sindmetrô-DF tem em sua composição sete diretores liberados, entre os quais, quatro são homens e três, mulheres. Ao lidar com os metroviários, algumas vezes precisamos ser um pouco mais enérgicas diante de divergências de opiniões, para que possamos ser ouvidas e respeitadas. Já nas negociações com a chefia, passamos por várias situações de sermos interrompidas, desconsideradas, e, quando é o homem a falar, parece que ele tem a melhor ideia do mundo!

Entrevista publicada na edição nº 290 do Jornal A Verdade.

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