Portugal celebrou, no último mês, os 50 anos da Revolução dos Cravos. Com atos por todo o país, a imprensa local registrou que as manifestações deste ano foram as mais populosas desde que a data é celebrada. O alto comparecimento é uma forte resposta às recentes tentativas de diminuir a importância do 25 de Abril, encabeçadas pela direita portuguesa.
Daniel Schiavini | Portugal
Portugal celebrou, no último mês, os 50 anos da Revolução dos Cravos. Mesmo após um cenário eleitoral muito negativo, a população saiu em peso às ruas para celebrar a deposição do regime fascista, que durou cinco décadas, e a breve, porém valorosa, experiência revolucionária no país. Com cravos nas mãos, partidos, coletivos e sindicatos conduziram os blocos que desfilavam pelas cidades, chamando o povo a se juntar. O Núcleo Internacional da Unidade Popular (UP) esteve presente nos atos do Porto e de Lisboa.
Com atos por todo o país, a imprensa local registrou que as manifestações deste ano foram as mais populosas desde que a data é celebrada. O alto comparecimento é uma forte resposta às recentes tentativas de diminuir a importância do 25 de Abril, encabeçadas pela direita portuguesa.
Dia de festa, dia de luta
No Porto, a celebração se iniciou com um ato em memória dos que resistiram à longa noite do fascismo. Estavam presentes pessoas que lutaram contra a ditadura de Salazar e viveram para ver a vitória. A homenagem lembrou também dos heróis, conhecidos ou anônimos, que deram a vida para construir a Revolução.
Embora seja a principal data cívica de Portugal, o 25 de Abril está longe de ser apenas uma defesa da memória. Enquanto parte dos cantos celebrava o fim do fascismo salazarista, pautas atuais, como a crise habitacional, a xenofobia e até a defesa da Palestina estavam presentes.
Em Lisboa, movimentos sociais construíram uma nova ocupação em pleno 25 de Abril, transformando um edifício abandonado em um novo centro social. A ação lembra o primeiro ano da Revolução dos Cravos, quando a população organizada iniciou ocupações e um processo de reforma agrária.
Memória em disputa
Se nas ruas o 25 de Abril era celebrado, no Parlamento português a data não é uma unanimidade. Parlamentares de direita não participaram da moção de aplauso aos heróis da Revolução. Posteriormente, enquanto a canção “Grândola, Vila Morena”, o hino da Revolução dos Cravos, era cantada, partidários do Chega (partido de extrema-direita) se retiraram da assembleia.
As tentativas de esvaziar os atos foram muitas. Em Lisboa, o prefeito Carlos Moedas não concedeu os repasses públicos para a realização do tradicional Arraial dos Cravos. Mesmo sem apoio estatal, o evento foi um sucesso.
Durante o regime fascista, mais de um terço dos habitantes de Portugal era de analfabetos. A fome assolava o país, as mulheres não possuíam direitos políticos e a saúde era privilégio dos ricos. Até 1974, Portugal ainda possuía colônias em África e promovia uma sangrenta guerra para impedir as independências.
Não é fácil traduzir em palavras uma Revolução. Entre cravos e cantos, a chama revolucionária do 25 de Abril de 1974 parece ainda estar viva no seio do povo português. A presença massiva nas ruas para a celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos mostra como os ideais que ajudaram a pôr fim ao fascismo no país ainda são capazes de mobilizar e encantar o povo.
Matéria publicada na edição nº 291 do Jornal A Verdade