UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Milhares de atingidos na maior enchente da história do RS

Outros Artigos

População gaúcha sofre com enchentes catastróficas. Centenas de milhares de pessoas estão sendo afetadas e municípios inteiros sendo evacuados. Eventos climáticos extremos no RS são resultado do modelo de exploração capitalista que degrada o meio ambiente. 

Cauã Roca | Porto Alegre


BRASIL – O povo do Rio Grande do Sul enfrenta, há uma semana, as consequências de um sistema político e econômico que destrói o meio ambiente e expõe a classe trabalhadora a condições de vida cada vez mais precárias. Já são 235 municípios afetados pelas enchentes, contabilizando mais de 351 mil pessoas afetadas. Ao menos 39 pessoas morreram e 68 estão desaparecidas. Ainda, mais de 32 mil pessoas precisaram abandonar suas casas invadidas pela água.

Na capital, Porto Alegre, o nível do Rio Guaíba atingiu a marca de 4,77 metros na noite desta sexta-feira, ultrapassando a enchente de 1941, a maior registrada até então, quando o Guaíba atingiu 4,76 metros. A cidade conta com um sistema de proteção contra enchentes, que ainda assim foi incapaz de impedir que porções significativas das zonas norte e central fossem tomadas pela água.

Uma das comportas que compõem o sistema, a de número 14, rompeu sob a pressão da água, e, segundo a Prefeitura, ainda há a possibilidade do rompimento também da comporta 12. Isso sem falar na situação que enfrentam os moradores do bairro Arquipélago, composto por 16 ilhas e localizado completamente fora deste sistema de proteção.

O imprevisto que se previa

Essa é a quarta grande enchente de grandes proporções que o Rio Grande do Sul enfrenta em um período inferior a um ano. No ano de 2023, o estado contabilizou um total de 80 mortos em decorrência das enchentes, além de dezenas de milhares de desalojados.

“A burguesia não está aqui passando por isso, não está aqui sofrendo, perdendo tudo que tem. A última enchente foi em novembro, antes disso teve outra em setembro. A gente vê o povo tentando salvar o pouco que conquistou desde lá. Gente que perdeu a casa, perdeu móveis. De lá pra cá o povo teve que trabalhar pra repôr e vai passar por tudo de novo.”, relata Gustavo Ramos, vice-presidente estadual da Unidade Popular Pelo Socialismo e morador da cidade de Eldorado do Sul, na região metropolitana da capital. Em novembro, Gustavo e sua mãe precisaram sair de casa com a água passando da cintura, carregando os cachorros no colo. Nessa mesma enchente, uma das comportas da capital já havia vazado.

Ou seja, por mais que a burguesia e seus meios de comunicação tentem apresentar essa situação como algo inesperado, que foge ao controle dos governos, a realidade é que todos os anos o povo trabalhador fica desabrigado pelas enchentes, e cada vez com mais frequência. Além disso, nós sabemos quem morre, e sabemos que não são os ricos em suas mansões protegidas das chuvas.

Os bairros mais afetados são sempre os bairros da periferia. Enquanto a população mais pobre perde o pouco que tem, do outro lado estão os ricos, verdadeiros responsáveis pela crise climática, seguros e possibilitados de deixar o estado sem grandes dificuldades com seus helicópteros e jatos particulares. Já o trabalhador está impedido de circular ou sequer de receber ajuda: mais de 100 trechos de rodovias estaduais e federais estão bloqueados no Rio Grande do Sul.

As causas e os culpados

Ora, se o desastre podia ser previsto, também poderia ser prevenido. No entanto, mesmo após as enchentes do ano passado, o orçamento da defesa civil no Rio Grande do Sul não foi ampliado. Pelo contrário, foi reduzido, e representa menos de 0,2% do orçamento do Governo do Estado para o ano de 2024.

As falhas nas comportas de Porto Alegre refletem a pouca manutenção resultante de uma política de corte de verbas. Isso sem falar na ausência de qualquer planejamento ou investimento para garantir infraestrutura adequada, sistemas de drenagem eficientes, áreas de permeabilização do solo, projetos de contenção de cheias, e moradias dignas em locais que não sejam de risco. Naturalmente, a burguesia lucra muito mais reconstruindo as casas destruídas e vendendo os mesmos móveis e eletrodomésticos todos os anos para as pessoas que precisam repor o que perderam seus bens nas enchentes do que com um projeto real de revitalização da cidade.

Mais que isso, os governos seguem aplicando uma política de precarização e privatização das empresas públicas em áreas essenciais como infraestrutura, energia e água. Um exemplo é a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que teve seu setor de distribuição privatizado em 2021, vendido por apenas R$ 100 mil.

Como consequência da política do lucro acima de tudo, o povo gaúcho teve não só a conta de luz aumentada, como também vem enfrentando apagões cada vez mais frequentes e longos. Em março de 2022, moradores da capital ficaram 7 dias sem luz após uma tempestade. A situação se repetiu em janeiro de 2024, e em março deste ano mais de mil moradores do interior ficaram 12 dias sem energia elétrica.

O governo ainda planeja privatizar os setores de geração e transmissão de energia. Outra empresa na lista da privatização é o DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto), de Porto Alegre, que além de tratar a água da capital também é responsável pelas estações de bombeamento que despejam as águas da chuva de volta ao Rio Guaíba.

Para além disso, é importante lembrar que a crise climática é mais uma expressão das crises do capitalismo. A burguesia, movida pela ganância e o desejo de lucro, busca produzir sempre mais, sem se importar com a emissão desenfreada de gases poluentes, usando de forma inconsequente os recursos hídricos, derrubando e queimando florestas para expandir o cultivo de soja ou a criação de gado. Ao mesmo tempo que destrói o meio ambiente para produzir mais, esses produtos não chegam aos trabalhadores e, muitas vezes, apodrecem nas prateleiras dos supermercados. Para a burguesia, o lucro é mais importante que todas as formas de vida.

Portanto, é impossível solucionar o problema climático nos limites do capitalismo. Somente uma sociedade em que a produção seja direcionada a atender as necessidades do povo é capaz de garantir um desenvolvimento econômico e social em harmonia com a natureza e o meio ambiente. Somente um sistema em que os interesses dos trabalhadores sejam os principais permitirá que a riqueza social seja utilizada para prevenir os desastres “naturais” e proteger o povo. Para enfrentar a crise climática, só existe uma saída: a revolução socialista.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

1 COMENTÁRIO

  1. Revolução socialista já! É muito fácil colocar a culpa na mudança climática e não assumir a responsabilidade! Basta ver na TV e na Internet só a periferia que sofre, morando em lugares de risco! Só pergunto: até quando?

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes