“Hoje, dia 10 de maio, sexta-feira. Estamos dentro da Ocupação Sepé Tiaraju, do MLB, no Centro de Porto Alegre, desde a última sexta-feira (03), isolados. Desde o primeiro momento, a força da solidariedade e da camaradagem, estimuladas e aprofundadas na ocupação, são perceptíveis.”
Bruno Ferreira | Porto Alegre (RS)
Hoje, dia 10 de maio, sexta-feira. Estamos dentro da Ocupação Sepé Tiaraju, do MLB, no Centro de Porto Alegre, desde a última sexta-feira (03), isolados, observando e acompanhando o volume da água do Guaíba subir dentro do prédio.
Desde o primeiro momento, a força da solidariedade e da camaradagem, estimuladas e aprofundadas na ocupação, são perceptíveis. A retomada das assembleias diárias vem proporcionando momentos incríveis de troca de experiências, como seguir em frente física e psicologicamente.
A retomada das alimentações coletivas, das comissões de limpeza, de momentos de exercícios, de leituras do jornal A Verdade, sarau com música e violão e até mesmo de seguir fazendo a denúncia da política contra o governador Eduardo Leite e do prefeito Sebastião Melo, que vêm devastando nossa capital e nosso Estado dia a dia, têm sido feitas, através do que passamos a chamar de “Rádio Sepé”, onde temos tentado, duas vezes por dia, utilizar nossos megafones para falar aos vizinhos ilhados que a culpa da enchente é do sistema capitalista e desta política neoliberal desenfreada.
Além disso, contamos com o apoio de diversos camaradas da Unidade Popular e da União da Juventude Rebelião, que, desde o início do caos, têm produzido marmitas e trazido para nós. Mas não só para nós. Através desta rede, além de nos mantermos alimentados, ainda conseguimos levar marmitas e água para pessoas dos prédios próximos, na região da Av. Farrapos.
Acredito que é importante ressaltar que o Rio Grande do Sul, há pouco mais de uma década, foi transformado em um laboratório do neoliberalismo e do “Estado mínimo”, com diversas empresas públicas sendo privatizadas e com o estímulo de concessões através das Parcerias Público-Privadas (PPPs), como, inclusive, a rede do Sistema Único de Saúde, que, mesmo antes do que estamos passando, já vinha totalmente colapsada.
Como já mencionado em matéria escrita ao jornal A Verdade no ano passado, 97% das Unidades Básicas de Saúde de Porto Alegre estão entregues nas mãos de quatro empresas privadas para fazerem a gestão, o que, obviamente, destruiu o trabalho da Atenção Primária em Saúde, onde deveria ser realizado o trabalho de promoção e prevenção em saúde. Isso refletiu diretamente na superlotação em hospitais e UPAs que também são geridas por estas mesmas empresas privadas.
Ainda por cima, pensando um pouco pra frente, quando iremos reconstruir nosso Estado, mesmo não sabendo quando, certamente estaremos submetidos a esses governos que pensam apenas no lucro e com uma dívida pública estadual que consome uma gigantesca parte do orçamento e que, infelizmente, dificulta nesta reconstrução.
Teremos dias duros pela frente, mas estar aqui, na ocupação com pessoas e momentos incríveis, nos dá esperança de que teremos um caminho a seguir e este é o caminho da construção coletiva, da construção do poder popular e do socialismo! Viva o MLB e a Unidade Popular!
Matéria publicada na edição nº 292 do Jornal A Verdade