Apesar de negociações com a Prefeitura de Belo Horizonte, a Polícia Militar e a Guarda Municipal realizaram um despejo violento. Maria Margarida, militante do Movimento de Mulheres Olga Benario foi retirada à força da Casa Ednéia Ribeiro, sofrendo violência da polícia.
Redação MG
MULHERES – No dia 06 de dezembro de 2023, o Movimento de Mulheres Olga Benario ocupou um terreno ocioso da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte e construiu a Casa da Mulher Trabalhadora Ednéia Ribeiro. Entre as razões para a ocupação está o fato de que, entre 2022 e 2023, o número de feminicídios triplicou na cidade. Em cinco meses, a Casa acolheu dezenas de mulheres e serviu de base para a realização de feiras, debates, encontros, cursos, entre outras atividades.
A Prefeitura alega que no local será construída a Casa da Mulher Brasileira, porém, o imóvel onde estava a ocupação é parte de um terreno muito maior, e que não faz parte da área onde haverá construção. Ocorreram duas reuniões entre a Prefeitura e o Movimento e a terceira estava marcada para o dia 10 de maio, mas o prefeito Fuad Noman e alguns de seus secretários não honraram o acordo para dialogar e garantir, ao mesmo tempo, a construção da Casa da Mulher Brasileira e a manutenção da Casa Ednéia Ribeiro. Durante a noite do dia 09, teve início o despejo.
Maria Margarida, militante do Movimento Olga Benario, estava fazendo escala na ocupação quando viaturas da Polícia Militar e da Guarda Municipal arrombaram o cadeado, por volta das 20h30. “Eu fui tirada à força e com violência de dentro da ocupação, que é um lugar acolhedor, que me acolheu, que acolhe mulheres. Mentiram falando que eu fiz a ocupação ontem e que não deveria estar lá. Vieram com violência e de forma abusiva. Na idade em que estou, com quase 60 anos, nunca tinha passado por isso. É muita humilhação e constrangimento”, desabafa Margarida.
Na porta da ocupação, a militância do Movimento e da Unidade Popular fez uma vigília e, durante a madrugada, foram atacados pela Guarda, como relata Fabrício Procópio, vizinho da ocupação: “Não teve reação violenta dos manifestantes, eu sou testemunha, meu prédio é de frente. A Polícia espalhou gás lacrimogênio e bomba de efeito moral. Eu vim aqui dar um apoio. É um absurdo o que está acontecendo. A ocupação está aqui há vários meses, a gente nunca teve problema, muito pelo contrário”.
O despejo organizado por Fuad tenta criar uma falsa contradição, colocando o Movimento como responsável pelo atraso das obras de construção da Casa da Mulher Brasileira. Em 2019, a Prefeitura de Belo Horizonte recebeu do Governo Federal mais de R$ 10 milhões para a obra, mas, até a ocupação, em dezembro do ano passado, não havia nenhuma movimentação para utilização do espaço e do recurso.
Como confiar em um prefeito de uma das cidades recordistas em feminicídios do país e que ordena um despejo truculento de uma casa que se tornou um espaço de enfrentamento à violência contra a mulher?