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domingo, 22 de dezembro de 2024

Caos na saúde do DF já matou centenas de pessoas neste ano

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Caos na saúde do DF deixa SUS com falta de milhares de profissionais da saúde e filas de espera enormes para atendimento.

Alexandre Ferreira | Redação


BRASIL O Distrito Federal (DF) é a região do país proporcionalmente com mais mortes por dengue em relação aos estados brasileiros. Considerando a quantidade de mortes a cada 100 mil habitantes, o índice de óbitos na capital do país é 14,5; três vezes maior do que o Paraná, segundo estado com mais mortes (4,3). No topo do ranking também está Goiás (4,13), seguido de Minas Gerais (3,3) e São Paulo (2,6). Até o fechamento desta edição, foram 409 vidas perdidas no DF só neste ano.

Para se ter uma ideia da gravidade, somente na Região Administrativa de Ceilândia, foram contabilizadas 59 mortes. Esse número é maior do que a quantidade total de óbitos em 18 estados, a exemplo de Pernambuco, com quatro mortes, mas que tem uma população 25 vezes maior do que a de Ceilândia.

Esta situação dramática que a população vem passando é resultado de um verdadeiro caos na saúde do DF promovida pelo governador milionário Ibaneis Rocha (MDB). O jornal A Verdade vem acompanhando este cenário, que só piorou nos últimos três meses, chegando a 880.152 pessoas à espera por consultas, um aumento de 12.976, com tempo de espera médio de 608 dias.

As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os hospitais estão diariamente superlotados e a população se desloca para outras unidades com a esperança de conseguir ser atendida, porém, não encontra vagas. O resultado é desesperador: várias pessoas morrem na fila do hospital ou em casa por não conseguir atendimento, inclusive, crianças.

Em apenas 30 dias, quatro crianças morreram por demora no atendimento. Isadora Cristina, uma mãe que perdeu seu bebê à espera de um procedimento, relata: “A médica veio até mim, me abraçou, pegou na minha mão, pediu perdão e saiu aos prantos”.

Jasminy Cristina, com apenas um mês de vida, morreu esperando na UPA do Recanto das Emas. O mesmo aconteceu com Enzo Gabriel, de apenas um ano, que não aquentou esperar por 12 horas uma ambulância para ser transferido à UTI. Já a família de Anna Júlia, de oito anos, teve que peregrinar por quatro unidades de saúde sem sucesso, e a menina acabou morrendo no dia 17 de maio.

Cleuzivânia Aguiar, mãe de Enzo Gabriel, falou ao jornal A Verdade: “Inicialmente, a gente levou ao posto de saúde e lá ele foi diagnosticado com bronquiolite, asma e os pulmões inflamados. Foi medicado e, mesmo assim, eles mandaram voltar para casa na segunda-feira. Na terça, como não teve melhora, eu voltei, aí encaminharam para a internação. Depois dos exames, decidiram entubar pela gravidade da inflamação dos pulmões. Ele necessitava com urgência ir para uma UTI, mas conseguimos a vaga só às 22h. O quadro foi piorando e a ambulância não chegou. Ele esperou mais de dez horas e não resistiu à espera pela ambulância”.

E esses não são casos isolados. Só em 2024, já foram 66 mortes de bebês internados no sistema de saúde do DF, segundo dados do Infosaúde. Apesar da dedicação dos trabalhadores da área, as péssimas estruturas e o déficit de servidores impedem um bom atendimento, causando, inclusive, uma sobrecarga física e mental para estes trabalhadores.

Caos na saúde é real

Apesar de toda esta catástrofe na saúde pública, o Governo do DF insiste em afirmar que “não há crise, não há caos na saúde do DF”. Declaração feita em coletiva pelo secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha. No entanto, nada se falou sobre os mais de 25 mil trabalhadores da saúde que faltam na rede pública, sendo mais de 4.800 médicos, 1.600 enfermeiros e 5.000 técnicos de enfermagem, entre outras categorias.

Essa fila de espera tem relação direta com a falta de trabalhadores disponíveis para fazer funcionar o serviço público. Como é possível operar normalmente um hospital sem médicos, enfermeiros e técnicos?

Junto a isso, o processo de privatização e de terceirização na gestão da saúde tem relação direta com este cenário devastador. Com a ampliação do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF), a qualidade do serviço piorou e dezenas de casos de corrupção estão sendo investigados.

Manifestantes seguram faixa "Basta de caos na saúde!".
BASTA DE CAOS. População do DF exige respeito e justiça. Foto: Guilherme Maritns/ JAV-DF

Quantos mais morrerão na fila?

Infelizmente, as 409 mortos pela dengue e as dezenas de crianças que morreram na fila de espera não comovem o governador Ibaneis. Fica evidente que não é uma incompetência do Governo, mas sim um projeto de desmonte da saúde pública que vem sendo implementado. “O atual Governo foi o que menos investiu na saúde nos últimos 25 anos”, afirma Jorge Henrique, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal. No próprio Portal da Transparência é demonstrado que o GDF diminui R$ 1,3 bilhão em investimentos na área da saúde pública entre 2022 e 2023.

Com muita revolta, Cleuzivânia denuncia a falta de humanidade deste governo fascista: “A gente se revolta com a falta de humanidade do governador quando ele afirma que não há crise. Para eles, são apenas problemas que acontecem. A morte dessas crianças à espera da ambulância é só um problema?! Então eles naturalizam algo que é revoltante para a gente que fica sem os nossos filhos”.

Esta falta de sensibilidade com a vida humana é a marca do sistema econômico capitalista a que estamos submetidos, no qual as vidas dos pobres não passam de uma mera estatística, que se faz de tudo para esconder. Os ricos e os seus representantes só estão preocupados com suas fortunas.  Por isso que a única saída é o povo se organizar e lutar.

E a luta contra o caos da saúde e por justiça cresce. “Estamos aqui pedindo justiça pela vida da minha filha, que foi ceifada pela negligência do GDF”, desabafa, muito emocionada, Milena Galvão, mãe de Ana Júlia. “Primeiro, foi dado um diagnóstico errado. Depois, teve uma grande demora no atendimento e transferência, ou seja, foram uma série de erros. Estou aqui para pedir justiça, a prematura vida dela, apenas oito anos, tiraram isso dela”.

Luta em prol da saúde

Diante desta situação, a Unidade Popular (UP) realizou um Encontro Distrital, em março, com o objetivo de debater os principais problemas de Brasília. As mais de 80 lideranças presentes aprovaram a CAMPANHA CONTRA O CAOS NA SAÚDE DO DF como eixo principal de lutas, promovendo denúncias e agitações nas praças, pontos de ônibus e bairros populares. Já foram milhares de panfletos distribuídos e cartazes colados por todo o DF, exigindo a imediata contratação dos 25 mil trabalhadores que estão em falta, a extinção do IGESDF, uma verdadeira máfia da saúde, aumento nos investimentos públicos e por uma melhor gerência da área.

No dia 04 de junho, aconteceu um ato unificado, com presença de vários familiares de vítimas do descaso com a saúde e de movimentos sociais. O protesto teve início em frente ao Palácio do Buriti, sede do GDF, e seguiu até a Câmara Distrital, exigindo a instalação de uma CPI da Saúde.

Não podemos esperar que os governantes dos ricos façam isso de bom grado. É preciso arrancar, com mobilização e luta, o que é nosso por direito. Estas mobilizações em conjunto com várias entidades e movimentos sociais já tiveram efeito e algumas nomeações de trabalhadores já ocorreram.

Matéria publicada na edição nº 294 do Jornal A Verdade.

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