Estudantes lutam contra violência de gênero na Unicamp

193

Patrulha do Movimento de Mulheres de Olga Benário revela crescimento alarmante dos casos de assédio na Unicamp e a precariedade do Serviço de Atenção à Violência Sexual (SAVS) da universidade. Núcleo do movimento convoca estudantes e trabalhadoras da Unicamp a se organizarem para lutar contra a violência de gênero

Sofia Koyama Rehder* | Campinas (SP)


Nos últimos meses, o núcleo do Movimento de Mulheres Olga Benário na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vêm chamando atenção para uma série de casos de assédio e tentativa de estupro na instituição de ensino.

Em novembro do ano passado, uma patrulha do núcleo do Olga no Serviço de Atenção à Violência Sexual (SAVS) da Unicamp coletou dados alarmantes, que mostram como o direito à vida das mulheres na universidade não está assegurado, e parece não ser uma prioridade para a reitoria. Uma única funcionária, lotada no campus de Campinas, deve atender todos os alunos e trabalhadores não apenas dessa cidade, mas também dos campi de Limeira, Piracicaba, da moradia estudantil e dos colégios técnicos.

A realidade das mulheres da Unicamp é de luta constante para ocupar um espaço que não garante sua permanência e sua segurança.

Acolhimento insuficiente

Na patrulha, o núcleo do Olga descobriu que o SAVS realizou 139 atendimentos entre janeiro e agosto de 2023, um aumento de 300% em relação ao período anterior. Apesar desse aumento na violência, não há serviço de apoio psicológico e jurídico no SAVS e nem perspectiva de novas contratações que fortaleçam o serviço.

Como se não bastassem essas questões, há um problema de infraestrutura: o SAVS é um espaço mal localizado, pequeno e de divulgação limitada. São poucas as estudantes e menos ainda as trabalhadoras que sabem que podem procurar esse atendimento. As informações coletadas, junto dessas condições precárias, demonstram a urgência da ampliação do serviço para que todas as pessoas que precisam de acolhimento possam recebê-lo.

Violências em série

Nos últimos anos, o núcleo do Olga acompanhou uma série de casos de violência contra as mulheres na universidade. Um dos mais notórios é o de um professor do Departamento de Filosofia conhecido por ser um assediador em série. Após ser denunciado por diversas alunas, ele não só processou todas elas como também foi à Justiça contra as professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) que foram favoráveis a seu afastamento das instâncias institucionais da Unicamp.

Outro caso grave é o de um aluno do Instituto de Geociências (IG) que foi identificado como responsável por violentar e perseguir alunas de vários cursos. Esses dois homens violentos continuam livres, quando sua presença na universidade deveria ser cassada e segue gerando a evasão de diversas mulheres da graduação.

A violência de gênero é uma das muitas formas de opressão presentes no sistema capitalista. Junto das explorações de classe e raça, ela impõe uma vida dura para as mulheres trabalhadoras. A violência que ocorre nas universidades revela que seu projeto original não inclui as mulheres e as minorias: em sua origem, estão a exclusão e o elitismo que geram um ambiente de violência.

Contra a situação denunciada pela patrulha na Unicamp e descasos similares em todo o país, o Movimento de Mulheres Olga Benário segue lutando contra as violências que são cotidianas na vida das mulheres e acolhendo cada vez mais companheiras em nossas ocupações construídas no Brasil inteiro!

*Sofia Koyama Rehder é militante do Movimento de Mulheres Olga Benário em Campinas (SP)