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domingo, 22 de dezembro de 2024

Famílias da Ocupação Sarah Domingues conquistam terreno

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Vitória da luta por moradia no Rio Grande do Sul: após enfrentar o autoritarismo do governador Eduardo Leite, famílias da Ocupação Sarah Domingues do MLB conquistaram um terreno para construir um conjunto habitacional.

 Gustavo Ramos | Porto Alegre (RS)


No dia 26 de julho, dezenas de famílias organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) se posicionaram em frente ao Palácio Piratini, o palácio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, pela quarta vez em pouco mais de um mês. Uma comissão entrou no local para a reunião de negociação com o governador para garantir a moradia das famílias da Ocupação Sarah Domingues, despejadas em junho com muita truculência. Os gritos dos camaradas ecoavam pelos salões quando se firmou a garantia de que o Governo cederia um terreno para as famílias. Essa grande conquista veio após meses de luta, sangue e suor.

Da lama à luta

A dor profunda de perder tudo pelo qual se trabalha uma vida inteira, de perder familiares, conhecidos, amigos, marcou as mentes e os corações do povo gaúcho durante e depois das enchentes de maio. Quando nesse abismo não parecia haver mais esperança, esse mesmo povo encontrou na bandeira vermelha do MLB um verdadeiro abrigo e decidiu erguer a cabeça e ir à luta.

Foi esse o sentimento, de arrancar o que é nosso por direito, que guiou as mais de cem famílias a ocuparem o prédio do Governo do Estado, abandonado há mais de dez anos, na madrugada do dia 16 de junho. O trauma da chuva, da água, da lama, foi transformado em combustível.

Sem pestanejar, esse povo transformou um prédio abandonado, sujo de lama da enchente, num espaço limpo, com cozinha e creche para as crianças. A angústia do que tínhamos passado, os rostos marcados pela dor, agora davam lugar ao sorriso da construção de algo novo, diferente, na Porto Alegre destruída pela enchente.

Porém, rapidamente o Governo enviou seus carrascos da Tropa de Choque para cima das famílias, das crianças, do trabalhador sem-teto. Com táticas fascistas de repressão, foram lançados spray de pimenta e bombas de gás, que tomaram conta do ar no interior do prédio. Crianças pequenas choravam, desesperadas. Outras vomitavam. Ao sair do prédio, fomos todos revistados, tratados como criminosos e inimigos. Com prazer, os policiais jogavam os pertences das famílias na lama suja. Das mochilas reviradas, caíam somente talheres, frutas que as famílias tinham levado para passar a noite. Nada mais, justamente porque não tínhamos mais nada.

Depois disso, uma tarde inteira sob a chuva fria, encharcados, emparedados contra a Tropa de Choque, isolados de qualquer atendimento jurídico, para, após isso, sermos encaminhados em ônibus para a delegacia. A todo momento, tentavam nos intimidar, nos convencer de que estávamos do lado errado, de que éramos nós os criminosos, de que não valia a pena lutar. E a nossa luta e organização nos deram mais e mais certeza, ao longo desse duro dia, que estávamos do lado certo, que estávamos com a razão, mesmo diante de todo o aparato de repressão. E isso, novamente, reacendeu a chama de luta das famílias e dos militantes do MLB.

A luta continua

O povo foi, então, acertar suas contas com os culpados pela sua miséria e sofrimento. Rapidamente, apareceu no Palácio Piratini o governador Eduardo Leite (PSDB). Ao ser perguntado sobre o que queríamos, um companheiro virou as costas e apontou para as palavras no verso da camiseta do MLB: “Morar dignamente é um direito humano”. Essa pressão, a fúria do povo, garantiram uma reunião marcada para a semana seguinte, com a presença do governador. Nos ônibus de volta aos bairros, gritavam palavras de ordem e o vermelho de nossas blusas se avermelhava ainda mais.

A luta direta deu outros rumos à negociação. Depois de várias reuniões, enfim chegava a resposta do governo: um terreno na Zona Sul da cidade a ser cedido para o MLB para a construção de um habitacional por meio do programa Minha Casa, Minha Vida Entidades. Na mesma semana, já foi garantida uma visita ao terreno, com a coordenação do MLB, confirmando as condições do local. Longe dos pontos de alagamento e das zonas de risco, o terreno é muito bem localizado, perto de escolas e CRAS. Enquanto isso, nos núcleos o espírito da vitória e da conquista traz novos ares para o povo que luta. Novos horizontes, a certeza da necessidade de lutar, renovaram os compromissos de todos com a luta pela moradia e pelo socialismo.

Podem tentar nos matar afogados, nos tirar tudo que temos, nossa casa, nossas vidas, mas não há nada que pare o movimento dos que lutam, da nossa classe trabalhadora, e a luta da Ocupação Sarah Domingues veio para provar isso.

Da lama suja da enchente, do cheiro de morte que cobriu nossas ruas e o nosso estado, brotou o fervor da luta, e o povo decidiu tomar o seu destino em suas próprias mãos. Não temos nada a perder na luta, mas sim um mundo inteiro para conquistar.

Viva o MLB! Viva a Ocupação Sarah Domingues!

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade

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