A luta secundarista pode vencer o Governo de São Paulo

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Em 2015 e 2016, o movimento de ocupações derrotou o projeto de “reorganização escolar” do então governador Geraldo Alckmin. É prova de que a luta secundarista pode vencer a tentativa do fascista Tarcísio de privatizar e militarizar escolas

Biana Politto* | São Paulo (SP)


Em novembro de 2015, depois de grandes manifestações estudantis espalhadas pelos bairros e pelas cidades, uma onda de ocupações de escolas tomou o Estado de São Paulo.

Na época, o então governador Geraldo Alckmin (hoje, vice-presidente da República) elaborou, junto com seu secretário de Educação Herman Voorward, um projeto nomeado de Reorganização escolar. Foi uma resposta à greve dos professores da rede estadual, que durou 92 dias, com imensa adesão da categoria, quando a Avenida Paulista ficava pequena para os protestos, mesmo com uma violenta repressão com bombas e cassetetes da Polícia Militar.

Na prática, apesar de o governo tentar maquiar, a “reorganização” propunha o fechamento de 94 escolas, o que afetaria diretamente mais de 300 mil estudantes e cerca de 74 mil professores. Algumas escolas seriam entregues às Prefeituras Municipais, enquanto outras 28 não tinha sequer destino definido.

Diante dessa situação, as palavras de ordem dos estudantes eram claras: Não vamos permitir que fechem nossas escolas e vamos lutar até o fim! Vamos ocupar e resistir!

Sendo assim, mesmo as escolas que não eram diretamente atingidas pelo projeto, foram ocupadas pelos estudantes. Todos os dias, surgiam novas ocupações, mais estudantes despertavam sua consciência para lutar pelos seus direitos, contra o fechamento e a superlotação das escolas, por mais verbas para a educação, por aumento de salário para os professores, reformas nas salas de aula, abertura das bibliotecas, reformas nas quadras esportivas, ampliação e abertura de salas de vídeo, salas de informática, etc.

A primeira escola ocupada, em 09 de novembro de 2015, foi a E.E. Diadema, no ABC Paulista. No dia seguinte, foi a vez da E.E. Fernão Dias, na Zona Oeste de São Paulo e, assim por diante, dezenas de escolas foram se integrando nessa luta. Em pouco tempo, mais de 200 foram ocupadas na Capital, no ABC, Guarulhos, Osasco, Campinas, Jundiaí, Sorocaba, São José dos Campos, Jacareí, Ribeirão Preto, Santos, entre outras.

Cabe dizer que, de imediato, em resposta às ocupações, Alckmin entrou com pedido de reintegração de posse e cercou as principais escolas com a Polícia militar, numa clara intenção de intimidar, perseguir e acabar rapidamente com a luta dos secundaristas. Porém, nos trâmites da Justiça, o Governo foi derrotado duas vezes.

A democracia nas ocupações

Como essas ocupações eram construídas? Quem as organizava? Os grêmios estudantis contribuíram muito para a luta dos estudantes e geralmente um grêmio combativo e presente na escola já preparava a turma toda para participar de debates e principalmente da assembleia estudantil. Em assembleia, com espaço para defesa das ideias, a maioria tomava a decisão sobre realizar ou não a ocupação da escola.

Onde não se tinha um grêmio organizado, os alunos mais ativos formavam essa linha de frente. Em geral, as direções das escolas não se posicionavam contra o projeto e faziam de tudo para impedir a luta, mas a força dos estudantes organizados e mobilizados era realmente superior a qualquer atitude isolada da direção. Formava-se, na prática, um verdadeiro exercício de democracia. Instalada a ocupação, era necessário garantir o funcionamento de atividades, como debates, aulas públicas, atividades esportivas e culturais.

A vitória dos estudantes

Além das ocupações, vale ressaltar também que o movimento continuou tomando as ruas, inclusive enfrentando toda truculência por parte do Estado, que batia e até prendia os estudantes. Alexandre de Moraes (hoje ministro do STF), era o secretário de Segurança Pública na época e não hesitava em dizer que a PM sempre interviria para tirar os alunos da rua.

Mas o movimento popular só crescia e, além dos sindicatos de educação e movimentos sociais, pais e mães formavam comitês de apoio às ocupações. Foi então que, 42 dias depois da primeira ocupação, Geraldo Alckmin vai para a TV anunciar a suspensão da reorganização escolar e a demissão do então secretário de Educação.

Os estudantes não se rendem

Infelizmente, nesse sistema capitalista, o habitual não é garantir educação de qualidade e com viés libertador para a juventude. Pelo contrário, os governos neoliberais e representantes da burguesia, gananciosos por dinheiro público, sucateiam o ensino, visam privatizar e lucrar com a educação.

Por isso, atualmente, o Governo de São Paulo, dirigido pelo fascista Tarcísio de Freitas, arquiteta outro ataque feroz à juventude secundarista, que é o projeto de militarização das escolas. Sendo assim, cabe novamente ao povo, às mães e aos pais, aos moradores do bairro da escola, aos estudantes, aos professores e funcionários, unidos e organizados, se mobilizarem para derrotar esse projeto, derrotar o Tarcísio e seus interesses, pois eles são completamente opostos aos interesses da juventude e da classe trabalhadora.

*Biana Politto é militante da União da Juventude Rebelião (UJR).

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade