Abelardo da Hora nasceu em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife. Falecido em 2014, o multiartista completaria 100 anos em 31 de julho de 2024 e o jornal A Verdade homenageia o artista nesse 1 século de luta e imortalidade.
Clóvis Maia | Redação PE
CULTURA – Abelardo Germano da Hora nasceu em São Lourenço da Mata, no Recife, em 31 de julho de 1924. Artista plástico, escultor, desenhista, gravurista, ceramista, escritor, poeta, professor e militante comunista toda a vida, sua relação com as artes e com a militância iniciou ainda na juventude, quando o jovem Abelardo, que queria estudar mecânica, teve como opção o curso técnico de Artes Decorativas, na Escola Técnica Agamenon Magalhães (ETEPAM), no bairro da Encruzilhada. O destaque nas aulas lhe rendeu uma bolsa de estudos em Artes Plásticas, na Escola de Belas Artes do Recife.
Criado no bairro da Várzea, subúrbio proletário do Recife, Abelardo desenvolveu seu olhar para a cultura popular, crescendo com as expressões populares. Na Escola de Belas Artes, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico em 1941, onde passou a organizar excursões com os estudantes para produzir e estudar a arte nos subúrbios do Recife. De 1943 a 1945, as intervenções culturais de Aberlado passaram a fazer parte da paisagem dos subúrbios do Recife, intercalando a cultura popular com as denúncias mazelas do capitalismo, a maioria das obras feitas de forma gratuita.
Organizado no Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde o início dos anos 40, Abelardo passou a integrar a direção do partidão, chegando a ser secretário de Agitação e Propaganda do partido, estando a frente de diversas manifestações contra o Estado Novo de Vargas, o que lhe rendeu dezenas de prisões, e perseguição ao artista. Já consolidado pelo seu trabalho, começa a se dedicar como professor, tendo alunos renomados como Francisco Brennand e formado vários coletivos de arte, Aberlado se muda para o Rio de Janeiro, onde segundo ele, passou a desenvolver ainda mais sua consciência social para entender os problemas da nossa sociedade.
“Minha obra é pautada pelo amor e solidariedade”
Do final dos anos 40 até meados de 1963, o artista organizou diversas entidades, associações e ateliês coletivos, como a Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde articulava aulas para novos artistas, além de promover as artes plásticas com a cultura popular. Fruto de sua atividade política, é escolhido para ocupar cargos públicos, como o de secretário de Educação e Cultura no governo de esquerda do Prefeito Pelópidas Silveira, que teve seu mandado cassado pelo golpe militar de 1 de abril de 1964.
Abelardo é preso com Gregório Bezerra e outros militantes, tendo passado por um dos momentos mais difíceis de toda sua carreira: em represália ao artista e a tudo que sua arte representava, os militares destruíram várias de suas obras públicas, entre elas uma escultura no Engenho Galiléia em Vitória de Santo Antão, que homenageava as Ligas Camponesas, e incendiaram a metade da tiragem de sua mais importante obra, “Meninos do Recife”, uma série de desenhos feitos à bico de pena denunciando a fome na Capital Pernambucana.
Abelardo presenciou na prisão as bárbaras cenas de tortura a que Gregório Bezerra fora submetido na Praça de Casa Forte. Após solto, Abelardo voltou a se dedicar ainda mais à militância, mesmo enfrentando ainda mais prisões, invasões domiciliares e perseguições pelo regime. Crítico aos erros do partidão na condução e enfrentamento ao golpe de 64, Abelardo sai do PCB, mas continua com sua militância política. Durante os anos 60, ele participa de diversas exposições em países como a China, EUA, Mongólia, Israel, Argentina e, claro, a União Soviética.
Nos anos 70, vai para Paris, onde expande seus trabalhos, e volta para o Brasil nos anos 80, onde retoma seu trabalho e sua atuação nas entidades e órgãos públicos. Com a militância do Jornal A Verdade e do Centro Cultural Manoel Lisboa, Abelardo sempre foi um incentivador e aliado.
Legado de luta e arte
Até a sua morte em 23 de setembro de 2014, Abelardo deixou centenas de obras espalhadas pelo mundo, além de ter trabalhado incansavelmente até seus 90 anos. Infelizmente, em 2018, a família de Abelardo teve que doar um acervo com 179 peças do artista para o Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa (PB), onde foi criado um Memorial para o artista, após o governo de Pernambuco, na época governado pelo PSB, se negar a manter as obras do artista na capital pernambucana.
Em seu centenário, diversas exposições em alusão ao artista celebram sua obra, mas é inegável notar o caráter popular de Abelardo, sua presença nos parques e praças da cidade e toda a sua diversidade.
É impossível falar das obras de Abelardo da Hora sem falar de “Os Cantadores” e “O Sertanejo”, do Parque 13 de Maio; ou de “O Vendedor de Pirulito” no Horto de Dois Irmãos; ou de tantas obras como “Monumento ao Maracatu”, “Heróis da Revolução de 1817”, “Os Retirantes” ou o “Monumento a Zumbi” na Praça do Carmo ou seu “Monumento ao Frevo” na Rua da Aurora.
Quem teve o prazer de conhecer o artista lembra de sua alegria e entusiasmo. Abelardo era mais que um otimista. Era um comunista convicto e nunca negou sua luta e sua história. Por isso que eternizou sem nome junto aqueles que lutam.
Como costumamos dizer: Abelardo da Hora, Presente!