Em trinta cidades do país, as famílias do MLB estão promovendo a ocupação de mercados da rede Carrefour. Como uma ação da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome, o MLB defende que o mercado entregue cestas básicas para enfrentar a insegurança alimentar de mais de 65 milhões de brasileiros.
Guilherme Arruda | Redação SP
Na manhã de sábado (7/9), sob o lema “Pátria sem fome”, supermercados da rede Carrefour em trinta cidades do país foram ocupados por milhares de famílias organizadas com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
O MLB é um movimento nacional de luta pela reforma urbana que existe desde 1999 e atua em mais de vinte estados do país.
De acordo com a comissão nacional de negociação, a principal reivindicação é a entrega de 36 mil cestas básicas, com 12 mil distribuídas nos próximos três meses. Esse número corresponde às 12 mil famílias organizadas pelo movimento que atualmente vivem em situação de fome e insegurança alimentar.
Atualmente, segundo o IBGE, mais de 64 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar, não tendo certeza do que vão comer nos próximos dias. Desses, 8,7 milhões vivem a fome grave, não tendo o que comer.
A ocupação dos mercados faz parte da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome, organizada todos os anos pelo MLB há mais de 20 anos. O movimento defende que só a organização do povo para a luta é que pode acabar com a fome e a miséria no país.
Empresas lucram com a fome
Como destacado na edição n° 298 do jornal A Verdade, mais de 90% dos alimentos consumidos no Brasil são vendidos em supermercados. No ano passado, as empresas monopolistas que controlam os mercados do país, como o Grupo Carrefour (que é dono da rede Atacadão, que foi ocupada) e o Grupo Pão de Açúcar, tiveram juntas mais de 1 trilhão de reais de faturamento, segundo a própria Associação Brasileiro de Supermercados (Abras).
Além disso, estudos apontam que 27 milhões de toneladas de alimentos são descartados por ano no Brasil sem serem consumidos, principalmente pelas redes de supermercados e restaurantes. O alto preço dos alimentos, imposto pelos donos dos mercados, dificulta que as pessoas comprem a comida de que precisam para sobreviver.
Por essas razões, o MLB defende que é preciso questionar porque essas empresas bilionárias não contribuem com a luta contra a fome no Brasil. As ocupações dos mercados servem como uma forma de chamar a atenção para a necessidade urgente de mais ações para impedir que milhões de brasileiros não tenham o que comer.
O movimento também ocupa para demonstrar a ligação do cenário de fome com o sistema capitalista e a política dos ricos. Em 2023, as lojas do grupo Carrefour foram ocupadas para denunciar que a rede francesa doou alimentos para o Exército de Israel, que comete um genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza, enquanto cerca de 75 milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar.
“O Carrefour, que é dono do Atacadão, é uma rede muito rica, trilionária, mas que não é daqui. Lá fora, eles ajudam a sustentar um exército para destruir Gaza. Não é certo que crianças e mulheres estejam morrendo de fome aqui e lá e a gente sabe que a rede Carrefour está fazendo parte disso”, diz Nadja Barreto, do MLB de Jaboatão dos Guararapes (PE).
Neste 7 de setembro, a direita fascista ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro está promovendo atos anti-democráticos e anti-povo no país. Durante a desastrosa presidência de Bolsonaro, a fome chegou a afetar mais de 100 milhões de brasileiros. A Jornada Nacional Contra a Fome do MLB também é uma denúncia do papel criminoso dos fascistas na disseminação da fome no país.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de alimentos do mundo. Mesmo assim, milhões de trabalhadores vivem a humilhante situação de não ter comida para pôr no prato de seus filhos. Na visão do MLB, os latifundiários do agronegócio é que decidem vender para o exterior a maior parte dessa comida, e o que sobra, encontramos a altíssimos preços nos mercados do país.
Enquanto resistem e cantam palavras de ordem contra a fome, as famílias do MLB afirmam que não vão encerrar as ocupações por todo o país até que os supermercados se abram para negociar a entrega das cestas básicas pedidas.
“A nossa luta é justa, porque o povo não pode seguir passando fome sem que ninguém faça nada. Nosso salário não dá pra comida e aluguel tão caros”, diz Iranir, moradora da Zona Sul de São Paulo e membro do MLB que está participando da ocupação de um Atacadão na capital paulista.
A coordenação do movimento afirmou que as ocupações continuarão até que as negociações sejam concluídas.