A Unidade Popular (UP) deve ser um instrumento da luta das mulheres trabalhadoras brasileiras, exploradas em empregos precários com salários mais baixos e duplas ou triplas jornadas. Todos os núcleos da UP devem se dedicar à tarefa de convocá-las a se organizar com o partido para lutar pela revolução
Carol Vigliar e Nana Sanches*
As mulheres da classe trabalhadora sentem na pele, de forma mais brutal, a desigualdade social, a precarização do trabalho, a retirada de direitos, o alto preço dos alimentos e do aluguel. Segundo o IBGE, a quantidade de mulheres chefes de família tem aumentado a cada ano. Elas são consideradas chefes de família quando são as principais responsáveis pelo sustento da casa e dos filhos. Entre 2012 e 2023, este número aumentou 82,5%, passando de 22,2 milhões para 40,5 milhões de mulheres, que chefiam metade dos lares brasileiros.
Mesmo assim, as mulheres ainda recebem menores salários que os homens (17% a menos, em média, segundo o IBGE), ocupam os postos de trabalho mais precarizados e são as primeiras a serem demitidas.
Tendo em vista esse cenário de imensa desigualdade, mas também de disposição de luta, o Movimento de Mulheres Olga Benario, junto com outros movimentos, decidiu fundar um partido político para organizar as lutas do povo brasileiro.
Assim, em 2016, surgiu a Unidade Popular (UP). Mas, para garantir que o partido tivesse seu registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), milhares de trabalhadores e trabalhadoras, jovens, famílias sem-teto, coletaram mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas de apoio em todo país. Em 10 de dezembro de 2019, o TSE confirmou a vitória deste imenso trabalho.
A UP foi fundada como uma resposta da classe trabalhadora ao avanço do fascismo enquanto ideologia política da burguesia no Brasil e no mundo. No poder no Brasil, os fascistas implementaram medidas econômicas neoliberais, que causaram empobrecimento, desemprego e aumento da violência, sendo a UP uma das principais organizações que deu enfrentamento a isso nas ruas, mesmo durante o período da pandemia de Covid-19.
Segundo Amanda Bispo, mulher jovem e trabalhadora que participou desse processo de fundação e que hoje é candidata a prefeita em Mauá (SP), “nós estávamos cansadas de ver os mesmos homens, os mesmos poderosos serem eleitos para fazerem políticas de extermínio do nosso povo, ou para conciliarem com os mais ricos e virarem as costas pra gente. Por isso, nós mulheres decidimos tomar essa luta como nossa e fundar a UP para mostrar que nosso povo pode e deve construir o poder popular e o socialismo”.
Organizar as mulheres
Durante o período eleitoral, muita gente debate política e está aberta a novas ideias. Nestas eleições municipais, a UP lançou dezenas de companheiras combativas como candidatas, que têm usado essa importante tribuna para falar das questões mais sentidas pelas mulheres. A partir disso, cabe aos núcleos do Movimento Olga e da Unidade Popular aproveitarem essa oportunidade para falar com mais mulheres e organizá-las. Os núcleos podem preparar cursos, plenárias, caminhadas, reuniões abertas e chamar as candidatas da UP para participar. Também podem organizar mutirões de filiação de mulheres.
As mulheres precisam se organizar se quiserem alterar a conjuntura de seus bairros, cidades e do país. Se quiserem fazer frente à tamanha violência a que são submetidas e à gigantesca desigualdade que afeta as cidades.
Para Indira Xavier, da Coordenação Nacional do Olga e candidata a prefeita de Belo Horizonte (MG), “tomar partido é uma necessidade se quisermos resolver a situação de violência de gênero e violência do sistema capitalista. A UP é um partido que proporciona ao conjunto de suas mulheres não só atuar, mas dirigir esse processo, porque entendemos que sem as mulheres participando ativamente da política não será possível uma transformação radical da sociedade”.
*Carol Vigliar e Nana Sanches são da coordenação do Movimento de Mulheres Olga Benário
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade