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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Fome: mulheres e crianças são as mais afetadas

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Os dados do IBGE apontam que 64 milhões de brasileiros ainda convivem com a insegurança alimentar em 2024. Só a organização popular será capaz de encontrar uma saída para o problema da fome, que afeta principalmente as mulheres e crianças do país

Catarina Matos e Ingrid Sousa


Dados divulgados pelo IBGE, em abril deste ano, afirmam que 64 milhões de brasileiros passam fome, apontando que as políticas de enfrentamento à insegurança alimentar em nosso país têm sido insuficientes para resolver o problema do povo. Contrário a isso, a Organização das Nações Unidas declarou que há produção de alimentos suficiente para toda a população do mundo. Ou seja, se fosse de interesse do capitalismo, o problema da fome já estaria resolvido.

Em estudo realizado pela consultoria MindMiners, foi constatado que mais de 90% do desperdício alimentar não ocorre nos lares, mas sim na rede de produção dos alimentos. Mais uma confirmação de que as principais responsáveis pela fome são as grandes empresas capitalistas.

Para a dona de casa Célia (71 anos), moradora da periferia de Fortaleza (CE), não há condições de sua família ter uma alimentação saudável: “Não, não dá. É só o básico. Arroz, feijão, uma misturinha. Às vezes, dificilmente, uma verdura… Comprar é muito difícil… Uma verdura, beterraba, cenoura, dificilmente”.

O que dona Célia talvez não saiba é que R$ 1,3 bilhão de frutas e verduras dos supermercados brasileiros vão para o lixo anualmente. Tal absurdo sequer é impedido pelos governos capitalistas, que andam de braços dados com essas empresas, conciliando com os altos preços dos alimentos nas prateleiras dos mercados.

A trabalhadora Roseline (38 anos), moradora da Ocupação Novo Dendê, também em Fortaleza, assim como outras mulheres chefes de família, considera a carne um alimento essencial, mas não consegue comprá-la pelo alto custo, o que torna a alimentação de sua família pouco nutritiva.

“Haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer”

No Brasil, quase 50% das famílias são chefiadas por mulheres. Destas, as mais pobres são pretas e pardas. Tais mulheres estão representadas na obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, que também viveu a fome junto de seus filhos. Em um trecho, a autora escreve: “Resolvi tomar uma medida e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos”.

Carolina era catadora de lixo, vivia em busca de seu “pão de cada dia”, assim como milhões de mulheres brasileiras que não têm renda fixa e sustentam suas famílias através de trabalhos informais. Há um grande percentual de mulheres trabalhando informalmente, seja pela necessidade de cuidar de seus filhos, seja pela falta de empregos formais, situação confirmada pela Pnad Contínua, que aponta o desemprego em maior incidência na população feminina e negra.

Aparecida (40 anos), militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), é diarista e relata que faz o serviço de faxina para complementar sua renda, pois “o auxílio do governo não dá para nada”. Além das faxinas, ela tem uma banquinha na qual vende sopa para garantir o sustento de seus dois filhos. A mulher não tem ajuda do pai das crianças, acumulando várias horas de trabalho dentro e fora de casa diariamente.

Diante dos depoimentos, podemos perceber que são as mulheres as mais atingidas pela fome e pela pobreza em nosso país. Cada uma delas se mobiliza como pode, pois se veem em desespero quando não conseguem prover o alimento aos seus filhos. É desumano um sistema em que uma mulher se sente culpada por não conseguir alimentar os seus, muitas vezes tendo que escolher entre pagar uma conta ou comer. Dona Célia, por exemplo, paga um aluguel de R$ 600 e recebe apenas R$ 500 da aposentadoria. A conta não fecha. Por essa situação, algumas vezes, se alimenta apenas com pão e água cedidos por seus vizinhos.

Não é possível viver num país onde mulheres e crianças precisam catar comida no lixo para se alimentar. Não é possível viver num país no qual essa população não consegue trabalhar e estudar, pois seus corpos não sustentam a desnutrição que passam. Não é possível aceitar que enquanto toneladas de alimentos são jogadas fora, milhões de seres humanos morram sem ter o que comer.

É preciso denunciar quem são os verdadeiros culpados pela miséria do nosso povo, os grandes empresários do ramo alimentício, que lucram bilhões todos os anos em cima da necessidade que é se alimentar. Por isso, é fundamental organizar cada uma dessas mulheres, pois elas sabem o que vivem e têm coragem para desafiar aqueles que lhes impõem uma vida de fome e sofrimento. São as trabalhadoras, as mães, as mulheres da periferia, aquelas que podem encontrar as soluções definitivas para os problemas das suas vidas, através do poder popular e da construção do socialismo.

Matéria publicada na edição impressa nº 300 do jornal A Verdade

*Catarina Matos e Ingrid Sousa são do Movimento de Mulheres Olga Benário

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