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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O projeto de assassinato do povo Xokleng

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No último período, as ações de latifundiários e do governo catarinense contra o povo Xokleng se tornaram ainda mais frequentes, com uma onda de assassinatos e incêndios criminosos. Mesmo assim, os Xokleng resistem ao roubo de suas terras

Thiago Augusto Zeferino | Blumenau (SC)


Desde o início do século passado, o Estado de Santa Catarina tenta exterminar todo um povo, o povo Laklãnõ-Xokleng. Hoje, uma grande parte desta população indígena mora a cerca de 90 km a oeste de Blumenau, em uma terra demarcada, vivendo sob constantes tentativas de assassinato por pistoleiros e policiais militares.

Quando os governos começaram a ocupar terras em Santa Catarina para criar uma logística para conectar São Paulo ao Rio Grande do Sul, os vários indígenas da região lutaram contra as ocupações violentas. O Governo Estadual decidiu, então, criar um grupo de extermínio que recebia dinheiro para entrar nas matas e matar todo indígena que encontrasse.

Esses assassinos ficaram conhecidos como “bugreiros”. Para provar seu trabalho, os bugreiros voltavam com as orelhas cortadas de suas vítimas, além das crianças indígenas que sequestravam. Esse grupo de extermínio continuou atuando até pelo menos 1930, sendo responsáveis por 2/3 das mortes do povo Xokleng, além de outros assassinatos financiados pelo governo para auxiliar a ocupação de terras por latifundiários e coronéis.

Ditadura militar

No processo de extermínio dos Xokleng e da construção de obras superfaturadas para encher o bolso de militares e da burguesia, o governo decidiu, nos anos 1970, criar uma barragem no meio do território indígena. Essa tinha como objetivo evitar enchentes em cidades do Vale do Itajaí, como Blumenau, onde moravam os herdeiros das terras roubadas a sangue pelos bugreiros.

A construção dessa barragem não contou com a pesquisa sobre os impactos ambientais no terreno e ocasionou um grande aumento do nível do rio, inundando centenas de quilômetros de terras férteis e a destruição de moradias. Essa “tragédia programada” acarretou na eliminação do sustento das pessoas da região, obrigando que migrassem para lugares mais altos e tornando-os ainda mais dependentes das empresas, sendo obrigados a venderem sua mão de obra por um salário de miséria.

Devido às várias injustiças, a barragem foi ocupada pelos indígenas em 2014, como protesto ao descaso por parte do governo, que, desde 1990, nunca cumpriu sua parte nas negociações.

Marco Temporal

A tese do Marco Temporal, também chamada “Lei do Genocídio”, que vai causar a morte de vários indígenas ao redor do país, além de desmatamento, poluição e expulsão de pessoas de suas casas, está sendo alvo de debates há alguns anos. Seu objetivo é apenas beneficiar os latifundiários para que possuam ainda mais terras.

No próximo dia 30 de outubro, várias organizações indígenas realizarão mais uma grande jornada nacional de lutas contra a Proposta de Emenda à Constituição nº 48 (PEC 48), que tramita no Congresso Nacional sobre o Marco Temporal. O debate jurídico sobre o tema também acontece no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos últimos anos, a questão ganhou grande destaque devido aos conflitos entre o povo Xokleng e as madeireiras. Estas continuam a invadir ilegalmente territórios indígenas em todo o país, territórios estes que são habitados há séculos por povos como os Xokleng. Muitos desses povos foram violentamente expulsos de suas terras, uma situação que já era evidente em 1988, ano da promulgação da Constituição Federal.

De modo oportunista, ruralistas usaram esse caso para dizer que todas as terras que foram invadidas por latifundiários de 1988 até hoje e que não estavam ocupadas pelos indígenas, são terras dos invasores, pois “chegaram primeiro”, num ato claramente desprezível, já que essas invasões significaram o extermínio e a expulsão de milhares de indígenas de suas terras.

Entre março e abril deste ano, houve diversas tentativas de assassinato e intimidação contra o povo Xokleng, justamente no território onde está em disputa por conta do Marco Temporal. Os indígenas Pedro e José (nomes fictícios) foram alvejados. Já o jovem Hariel Paliano, de 26 anos, foi assassinado e teve sua casa incendiada por ruralistas. Tudo com a conivência do Estado de Santa Catarina.

Na verdade, a própria estrutura do governo é usada pelos latifundiários e burgueses para realizar esses ataques e saírem impunes. Além de todos os casos citados, em outubro do ano passado, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), chegou a enviar 100 policiais militares e helicópteros contra os Xokleng, que se manifestavam contra a enchente do seu território causada pela barragem.

O Estado brasileiro já demonstrou seu ódio à classe trabalhadora, e nenhuma eleição ou herói nos salvará. Precisamos nos organizar mais e mais, difundir e promover o pensamento crítico (como por meio da divulgação do jornal A Verdade).

Tudo para nos prepararmos para a luta que levará o povo brasileiro ao poder e colocará fim aos mais de 520 anos de genocídio que acontece no nosso país. A única saída é o povo organizado contra a burguesia e os latifundiários.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

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