Despejo da Casa Laudelina promove a violência contra as mulheres

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Coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benario denuncia que a ação conjunta do prefeito Ricardo Nunes e do governador Tarcísio de Freitas, que querem despejar a Casa Laudelina de Campos Melo, deixará uma região de São Paulo sem um centro de referência para mulheres e aprofundará o problema da violência de gênero

Julia Soares e Sara Melissa* | São Paulo (SP)


Em pleno mês de novembro, marcado pela luta internacional pelo fim da violência contra as mulheres, a Casa de Referência para Mulheres Laudelina de Campos Melo enfrenta um despejo brutal. O imóvel – abandonado por mais de 30 anos e carregado de dívidas – foi arrematado em um leilão que privilegia a especulação imobiliária. Essa é mais uma expressão da violência estrutural contra as mulheres trabalhadoras e pobres e da política fascista de Nunes e Tarcísio.

A Casa Laudelina, organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, não é apenas um teto: é um espaço de organização e luta coletiva das mulheres – um exemplo vivo do feminismo marxista em ação que se inspira na trajetória de Laudelina de Campos Melo, mulher negra e comunista pioneira na organização das trabalhadoras domésticas.

Desde sua fundação, em janeiro de 2021, a Casa já recebeu mais de 10 mil mulheres em suas diversas atividades. Para aquelas que foram vítimas de violência, ofereceu atendimento jurídico, psicológico, social e político. Por meio de oficinas de capacitação e debates formativos, promoveu a autonomia e a consciência de classe de mulheres que enfrentam o machismo, o racismo e a exploração capitalista em suas formas mais cruéis.

Ao contrário das políticas liberais que tratam a violência de gênero como um problema isolado e individual, o movimento entende que a violência contra a mulher é uma expressão do sistema capitalista, que explora a força de trabalho feminina enquanto aprofunda as desigualdades e mantém milhões de mulheres na pobreza e no isolamento.

O despejo da Casa Laudelina expõe a aliança entre o Estado e os interesses privados dos grandes ricos. A Prefeitura de São Paulo, sob a gestão de Ricardo Nunes, cortou verbas de serviços essenciais para as mulheres e desmontou políticas públicas de abrigamento, assistência social e atendimento a mulheres vítimas de violência. É a mesma lógica que terceiriza creches, sucateia escolas, desmantela a saúde pública e privatiza todos os serviços: o lucro vale mais que a vida das trabalhadoras.

Esta violência institucional se soma à escalada do feminicídio e ao aumento das desigualdades no Brasil e no estado de São Paulo que registrou entre janeiro e abril deste ano 88 casos de feminicídio. Na capital paulista houve um aumento de 40% – com 18 mulheres assassinadas, segundo a SSP/SP.

No país onde uma mulher é assassinada a cada seis horas, reintegrar uma casa de referência para vítimas de violência não é apenas negligência – é cumplicidade com o sistema que mata mulheres diariamente. É o Estado capitalista reafirmando sua função: proteger os interesses das elites enquanto abandona a classe trabalhadora à própria sorte.

O movimento de mulheres já realizou três atos na subprefeitura da região, na Mooca, apresentando o trabalho desempenhado na casa e levando alguns dos relatos das mulheres que tiveram suas vidas salvas através da luta coletiva.

Foi esse o caso de Maria (nome fictício): uma mulher imigrante que estava em situação de trabalho escravo em uma oficina de costura clandestina e era constantemente abusada sexualmente pelo patrão. Através dos atendimentos na Casa, ela pôde se libertar e se organizar no MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), conquistando sua moradia e emprego e passando a viver com dignidade.

Frente a esses relatos, os representantes da prefeitura de Nunes lavam suas mãos e dizem que nada podem fazer para garantir um espaço na região central da cidade em que haja a continuidade desse trabalho. Assim, a região continuará sem nenhuma Casa de Referência para Mulheres.

Neste 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, a luta pela Casa Laudelina ganha ainda mais força e urgência. Reivindicamos que o Estado cumpra sua função social e destine um imóvel para garantir a continuidade desse trabalho vital.

Mas sabemos que a solução não virá de cima: é na organização das mulheres trabalhadoras, na resistência e na luta coletiva pela sociedade socialista que construiremos um futuro em que a vida seja prioridade e as mulheres possam romper de vez com a violência.

Casa Laudelina fica! A luta é pela vida das mulheres e contra a exploração!

*Julia Soares e Sara Melissa são coordenadoras do Movimento de Mulheres Olga Benario