Manifestações por todo o país defenderam o fim da escala 6×1, que impõe uma rotina degradante de exploração aos trabalhadores. Povo organizado exige seu direito ao descanso, lazer e cultura
Guilherme Arruda e Jesse Lisboa*
TRABALHADOR UNIDO – Nesta sexta-feira (15), cidades de todo o Brasil foram palco de manifestações pelo fim da escala 6×1. Milhares de pessoas se mobilizaram nas ruas e praças do país contra esse regime de trabalho desumano e abusivo, em que o direito ao descanso, lazer e cultura é completamente negado aos trabalhadores e trabalhadoras.
No início da semana, com o impulso que a pauta tomou na sociedade, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) ligada ao tema foi protocolada pela deputada Erika Hilton no Congresso Nacional. Se aprovada, a PEC acabaria com a escala 6×1 e promoveria um regime onde o trabalhador teria três dias de folga, incluindo o fim de semana.
Regime desumano
Por todo o país, a adesão às manifestações se deu principalmente entre trabalhadores que são contratados na escala 6×1 e sentem na pele a rotina degradante imposta pelos patrões a seus funcionários nesse regime de trabalho.
Em Florianópolis (SC), o manifestante João contou ao jornal A Verdade sobre os motivos de sua participação: “A exploração do trabalho tá muito grande no Brasil. Eu trabalho na escala 6×1 e eu vejo que o tempo não sobra, especialmente quem é pai e mãe tem muita dificuldade. Acabar com essa escala não vai dificultar nada pro país, o trabalhador precisa de mais oportunidade para viver”.
“Hoje, eu trabalho de segunda a sábado. Quando eu quero ter um passeio em família ou preciso resolver algum problema em outro dia, eu não consigo, porque minha folga é fixa. Acabar com a escala 6×1 vai trazer muitos benefícios para nós trabalhadores”, disse Paulo Silva, que trabalha em um shopping na cidade de Porto Alegre (RS).
Já na manifestação de São Paulo (SP), conversamos com Victor Rocha, que não trabalha mais na escala 6×1 mas mesmo assim foi ao ato, para “mostrar minha indignação com uma escala em que se vive para trabalhar em vez de trabalhar para viver”.
Em seu relato, Victor falou das dificuldades de trabalhar nesse regime: “Não conseguia estudar, não tinha dinheiro sobrando e nem tempo para me divertir com os amigos e a namorada. Se não morasse em uma casa cedida, não teria como pagar aluguel e comer ao mesmo tempo. Isso tudo enquanto trabalhava para um supermercado internacional que fatura bilhões ao ano”.
Unidade Popular defende o fim da escala 6×1
As manifestações populares contaram com forte participação da Unidade Popular e de movimentos sociais como o Movimento Luta de Classes (MLC), o Movimento de Mulheres Olga Benário, a União da Juventude Rebelião (UJR) e o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que somaram sua voz ao grito de denúncia da classe trabalhadora contra a escala 6×1. Em diversas cidades, a UP também cumpriu um papel ativo na organização das manifestações.
Vinicius Benevides, membro do diretório municipal da Unidade Popular no Rio de Janeiro, destacou em sua fala: “Só a nossa mobilização vai mudar esse cenário. E a Unidade Popular prova que o socialismo é a única saída para derrubarmos o capitalismo e essa escala miserável, e todo retrocesso que a burguesia faz para atacar a classe trabalhadora. Nós que somos trabalhadores precarizados temos que dar essa resposta todo dia!”
“Aqui no Vale do São Francisco, nós organizamos junto do Movimento VAT (Vida Além do Trabalho) um ato que uniu os trabalhadores de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). A manifestação atravessou a ponte Presidente Dutra e ocupou a Prefeitura de Petrolina como forma de reivindicar nossos direitos”, conta Maria Clara, que faz parte da Unidade Popular e do Movimento Luta de Classes (MLC) no município do Sertão pernambucano.
Em São Paulo, a banquinha de filiação à Unidade Popular, com fichas impressas disponíveis para os interessados, foi um dos destaques da manifestação. Ao longo do dia, 24 trabalhadores se filiaram ao partido antifascista do Brasil, por reconhecer nele uma ferramenta essencial não apenas para organizar a luta pela redução da jornada de trabalho, mas para construir um país justo, democrático e sem opressão de classes.
“Esse é o primeiro passo de muitos que virão na luta para derrubar o capitalismo, que é um sistema opressor e de exploração. Hoje, a pauta é o fim da escala 6×1, mas estamos lutando também para construir uma nova sociedade”, defendeu Maria Clara.
Mobilização estudantil
Em Recife, a manifestação se concentrou no bairro da Boa Vista, contando com forte participação da juventude e movimentos estudantis como o Movimento Correnteza e a Rebele-se. Miguel, estudante do IFPE de Olinda, coloca que “o capitalismo suga a vida dos trabalhadores. Nós, estudantes, também sofremos, porque muitas vezes precisamos estudar e trabalhar para complementar a renda de casa, e acabamos nos submetendo à escala 6×1.”
Kamila Nascimento, presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE) saudou a presença dos estudantes no ato. “Porque a juventude também pertence à classe trabalhadora. Hoje, se a gente for ver as pessoas que abandonam a escola, são as mesmas que estão se submetendo a trabalhar na escala 6×1, em subempregos, vendendo água no sinal”.
*Tiz colaborou com a apuração em Florianópolis (SC). Lucas Neumann colaborou com a apuração em Porto Alegre (RS).
Mais uma vez , e como sempre a revolução brilha , no fim do túnel!