No dia 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, Movimento de Mulheres Olga Benario constrói a Ocupação Alexina Crespo, sua primeira casa de referência na região do Alto Tietê, em São Paulo
Nathalia Vergara | Suzano (SP)
No Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, 25 de novembro, nasce a Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo, em Suzano (SP). A primeira ocupação de mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benario na região do Alto Tietê surgiu em um ato de denúncia à violência contra as mulheres na região e a falta de políticas públicas e amparo da prefeitura de Suzano. A cidade também é marcada pela ausência de uma Delegacia da Mulher que funcione 24 horas, deixando as mulheres sem qualquer suporte.
O imóvel estava vazio e sem cumprir qualquer função social há anos e, a partir de hoje, será utilizado como uma casa de referência para atender, acolher e organizar mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência.
Mesmo com a subnotificação de casos, o Alto Tietê é uma das regiões com um dos maiores índices de feminicídio do Estado. Segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo (SSP), a região registra, em média, cinco casos ao ano. Além disso, somente em 2024 houve um crescimento de 14% de casos de estupros, acometendo, principalmente, mulheres negras e periféricas.
De acordo com Camylla Valadares, umas das coordenadoras da casa, em meio aumento de casos de violência contra a mulher, a fundação da nova casa de referência é essencial na luta pela vida das mulheres em toda a região.
Alexina Crespo, presente!
Homenageada no nome da casa, Alexina Crespo representa a luta de todas as mulheres que ousaram se destacar na política, em defesa dos direitos da classe trabalhadora e do campesinato.
Alexina Lins Crêspo de Paula foi uma importante guerrilheira das Ligas Camponesas. Desde 1955, exerceu cargos de liderança na Liga Camponesa do Engenho Galileia e, posteriormente, nas Ligas de Pernambuco, contribuindo na formação político-ideológica contra os latifundiários da região e, posteriormente, contra os militares da Ditadura Militar.
A guerrilheira conheceu figuras históricas como Fidel e Che, em especial durante seu exílio em 1963. Quando retornou ao Brasil, em 1980, deu continuidade à luta pela Reforma Agrária e justiça social, além de atuar ativamente na organização das mulheres, com a fundação da Associação de Mulheres do Brasil.
Pela vida das mulheres
As casas de referência surgem como um espaço de construção coletiva e de resistência das mulheres. Esses espaços oferecem assistência jurídica, psicológica e formação, contribuindo para superar situações de vulnerabilidade, e são de extrema importância para preencher os vácuos que o estado permite existir.
O objetivo das casas de referência não é substituir as ações ou tomar para si a responsabilidade do Estado, mas sim acolher e encaminhar mulheres que, ao sofrerem agressões, necessitam sair o quanto antes dessa situação, para que não se agrave a ponto de serem vítimas de feminicídio.
A Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo surge para manter viva a memória de Alexina e de tantas outras lutadoras que atuaram pela vida das mulheres. “Nossa ocupação mantém viva todas aquelas que foram mortas pelo ódio fomentado pela sociedade patriarcal e cobra uma resolução dos casos que ainda não têm resposta por parte do poder público, deixando os assassinos sem a devida punição”, diz Camylla.
“Que a nossa casa possa ser uma referência às mulheres do Alto Tietê no que se refere a viver dignamente e a importância de se organizar e lutar pela nossa emancipação”, reforça a representante do Movimento Olga Benario.