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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Pressão de familiares e movimentos garante condenação dos executores de Marielle e Anderson

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Sentenças de prisão para os perpetradores do crime político contra Marielle Franco e Anderson Gomes são um importante passo na luta para desmantelar a aliança entre a direita e os grupos criminosos no Rio de Janeiro e no Brasil

Redação


O dia 31 de outubro de 2024 entrou para a história do Rio de Janeiro e do Brasil como um marco na luta por justiça para as vítimas da violência política fascista. O Tribunal do Júri condenou os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pela execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

A condenação foi resultado de 6 anos, 7 meses e 17 dias de luta ininterrupta dos familiares e dos movimentos sociais que apoiavam o mandato da vereadora e de partidos e organizações políticas de esquerda. Marielle foi vítima de violência política cometida por milicianos fascistas. Falta ainda elucidar completamente quem foram os mandantes.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz faziam parte de uma milícia de matadores de aluguel. Segundo a delação dos dois, os mandantes do crime também eram agentes do Estado: Chiquinho Brazão (deputado federal e que era vereador na época do assassinato); Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado); e Rivaldo Barbosa (delegado e chefe da Polícia Civil na época do assassinato).

A família Brazão é conhecida no Rio de Janeiro por suas conexões com a milícia na Zona Oeste e Norte do Rio de Janeiro. Essa família instalou parentes em vários cargos públicos para facilitar seus negócios, que vão desde postos de gasolina até o mercado imobiliário. Na capital fluminense, grande parte do mercado imobiliário é controlado por grupos milicianos, que decidem quem pode morar ou não em várias áreas da cidade, além de extorquir a população local.

Segundo a investigação, Marielle Franco estava organizando famílias da Zona Oeste justamente para combater esta prática. Em represália, os Brazão e Rivaldo Barbosa teriam encomendado o assassinato da vereadora socialista.

Seu Antônio Francisco, pai de Marielle Franco, cobrou o julgamento dos mandantes. “Hoje tivemos uma resposta com a condenação dos réus confessos. Para nós, era de suma importância a condenação deles. Se a Justiça não tivesse condenado esses assassinos cruéis, não teríamos um minuto de sossego. Agora a pergunta que fazemos é: quando serão condenados os mandantes?”, questionou.

Julgamento dos mandantes ocorrerá no STF

A vitória da condenação dos executores do crime, no entanto, não termina a luta por justiça para Marielle e Anderson. O processo contra os mandantes continua correndo no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo alguns órgãos de imprensa, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, pretende iniciar o julgamento ainda neste ano.

O julgamento e a condenação dos mandantes é agora a prioridade na luta por justiça neste caso. Apesar de robusto, o fato de os Brazão terem muitas conexões no Poder Judiciário continua sendo uma fonte de preocupação de que defendem a condenação.

Apesar disso, desde que a Polícia Federal assumiu o caso, no ano passado, a pressão da família e dos movimentos populares para uma solução só tem crescido. Nos últimos dois anos, que foi conquistada a elucidação do caso e a transformação do inquérito em denúncia dos executores e mandantes do caso.

Domínio político dos criminosos

Apesar de não ser surpresa para ninguém, o caso Marielle revelou a ampla rede de crimes e controle de territórios realizada pelas milícias no Rio. Além disso, mostrou como esse domínio garante o poder político de políticos do Centrão e do fascismo dos cargos públicos no estado.

No crime estiveram envolvidos policiais militares, o chefe da Polícia Civil, um parlamentar e um conselheiro do Tribunal de Contas. Ou seja, não foi nenhum traficante isolado, ou um assaltante de rua quem orquestrou este atentado.

No Estado do Rio de Janeiro, a regra hoje é a aliança entre esses grupos criminosos e os políticos locais. Cada vez mais setores da economia fluminense são controlados por grupos armados de milicianos e traficantes.

Comerciantes, moradores e trabalhadores em geral vivem sob o risco de se verem extorquidos para não perder seus bens ou seu pequeno negócio. O comércio de praia, gás de cozinha, postos de combustíveis, internet, são controlados por milicianos e traficantes.

Durante as eleições, esses bandos fazem acordos com políticos de direita, como os Brazão, para garantir verdadeiros currais eleitorais para eleger deputados, vereadores, prefeitos e até governadores.

Vitória da luta antifascista

Neste cenário, a condenação dos culpados pelo assassinato de Marielle e Anderson é uma grande e histórica vitória na luta antifascista. Pela primeira vez, estes grupos viram seu poderio ameaçado.

A delação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz apresenta os caminhos pelos quais é possível desmontar a aliança entre a direita e o crime organizado. A luta contra estes inimigos do povo brasileiro é cada vez uma tarefa imediata.

Marielle, assim como outros tantos lutadores sociais, deu sua vida para enfrentar aqueles que oprimiam o povo trabalhador. Seu legado é a luta por uma sociedade justa e sem exploração. Cabe agora continuarmos com essa bandeira levantada.

Matéria publicada na edição nº 302 do jornal A Verdade

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