Ana Pistori e Matheus Araújo | Cuiabá (MT)
BRASIL – Em 2019, o Mato Grosso comprou 121 mil toneladas de substâncias ativas em agrotóxicos (WWF, 2023). Enquanto nosso povo morre de câncer, os latifundiários e donos das empresas de agroquímicos ganham mais dinheiro e aumentam seu domínio sobre as terras brasileiras.
Os agrotóxicos são substâncias químicas, supostamente, usadas para “defender” as plantações da invasão de pragas. Entretanto, o trabalho do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (UFMT), coordenado pelo professor Wanderlei Pignati, tem detectado graves doenças nos mato-grossenses causadas pela contaminação de agrotóxicos na água, nos alimentos, nos solos, no ar e até mesmo no leite materno.
O que o agro não conta é que grande parte das substâncias pulverizadas nas terras do Mato Grosso estão proibidas na Europa. O glifosato, veneno mais cancerígeno para seres humanos, segundo a Organização Mundial de Saúde, é a substância mais comercializada no Brasil.
Para enganar o povo e justificar seus crimes, os latifundiários bancam a circulação da falsa ideia de que é esse modelo de produção de alimentos que garante segurança alimentar para as pessoas. O boi da cara preta é que a superprodução de soja, milho e algodão gera as 64,2 milhões de pessoas em insegurança alimentar no Brasil (A Verdade, nº 292) e as inúmeras catástrofes ambientais que temos vivido.
Laranjas do mesmo saco
O lucro do agro se concentra nas mãos de poucos. Os latifundiários (1% dos proprietários de terras que possuem mais de mil hectares) controlam 47,6% das terras agricultáveis do país. Nessas terras, as principais commodities produzidas são o destino de 8% dos agrotóxicos comercializados no Brasil.
Em 2018, enquanto envenenava as terras brasileiras, a empresa suíça Syngenta, por exemplo, lucrou 2 bilhões de dólares com a venda de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, a indústria farmacêutica de tratamento de câncer lucra 1,5% do PIB mundial. A relação entre as doenças e o lucro do agro ficou ainda mais escancarada com a compra da Monsanto (empresa bilionária que criou agroquímicos extremamente prejudiciais à saúde) pela Bayer (líder na produção de fármacos).
Segundo a Plataforma Agrosaber, criada para esclarecer, de forma simples e acessível, diferentes temas ligados à produção de alimentos, a lei dos agrotóxicos (Lei 7.802) depende de outras normas regulamentadoras. Assim, em Mato Grosso, o Decreto Estadual 1.651/2013 reduziu as distâncias permitidas para aplicação terrestre de agrotóxicos de 200 para 90 metros. Ou seja, hoje, é permitido aplicar veneno muito perto de povoados, cidades e cursos d’água.
Essa prática de envenenamento de pessoas é protegida pelo Estado brasileiro. O agronegócio é o setor da economia que menos paga impostos.