Denunciando péssimas condições de trabalho, escalas exaustivas e frequentes casos de assédio e perseguição, greve durou de 25 de novembro até 2 de dezembro nas plantas de Sorocaba e Itaquera da PepsiCo. Acordo bastante limitado indica necessidade de manter mobilização
Estefani Maciel | São Paulo (SP)
Na últimas duas semanas, os trabalhadores das fábricas PepsiCo, empresa estrangeira da indústria de alimentos, realizaram a primeira greve de trabalhadores brasileiros contra a escala 6×1. A mobilização aconteceu simultaneamente nas fábricas de Itaquera, zona leste de São Paulo, e Sorocaba, no interior paulista.
A categoria, representada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentos de São Paulo (Stilasp), decidiu pela paralisação após uma “tentativa arbitrária da PepsiCo de implementar a jornada 6×2, propondo uma jornada de 11 horas diárias trabalhadas e com redução do descanso aos finais de semana”, afirmou o Sindicato. Em comunicado oficial, complementam que “mesmo com nossas insistentes solicitações para um diálogo construtivo, a empresa se manteve inflexível”.
Assédio, perseguição e ameaças
Na planta localizada no Éden, zona industrial de Sorocaba, trabalhadores denunciam que lideranças da empresa estariam perseguindo e coagindo os funcionários a retomar seus postos de trabalho através de ligações, mensagens e ameaças aos grevistas que realizavam o piquete em frente à fábrica. Antônio*, trabalhador da planta em Sorocaba, conversou com o jornal A Verdade e confirmou que o setor de Recursos Humanos da PepsiCo estaria assediando moralmente os operários favoráveis à greve.
“No primeiro dia, os trabalhadores votaram e decidiram por aderir à greve. Depois teve uma audiência de conciliação em que o juiz sugeriu uma cláusula de paz, mas que ela fosse discutida com os trabalhadores e os trabalhadores decidissem se aceitavam ou não, e na assembleia os trabalhadores decidiram por continuar com a paralisação.”, disse Antônio para o Jornal A Verdade.
Questionado sobre as práticas de repressão da empresa, Antônio ainda afirmou que a empresa tentou impedir a greve através de liminar e interdito proibitório – mecanismo judicial semelhante à reintegração de posse, mas sem que um espaço tenha sido efetivamente ocupado. “Outra coisa [que a empresa está fazendo] é chamar a polícia para impedir que os sindicalistas fiquem na frente das portas”, afirmou.
Renata*, funcionária e dirigente do Stilasp em Sorocaba, acrescentou que as perseguições, que atingem principalmente as mulheres trabalhadoras, antecedem a greve. “70% da empresa é composta por mulheres e muitas são mães solteiras. As mulheres são obrigadas a fazer coisas que não querem ou que não aguentam, mas precisam fazer, pois são obrigadas. Isso é muito triste”.
Lucro na mão dos sionistas
A PepsiCo é uma empresa multinacional estadunidense de alimentos, lanches e bebidas, sediada em Nova York. Dona de marcas como Pepsi, Toddy, Doritos e Gatorade, apenas no terceiro trimestre de 2024 anunciou um lucro de 2,93 bilhões de dólares no Brasil (o equivalente a R$17,54 bilhões, na cotação atual do dólar). Com base apenas na receita líquida, a PepsiCo é o segundo maior negócio de alimentos e bebidas do mundo, sendo a maior empresa do setor nos Estados Unidos.
Em 2018, a PepsiCo anunciou a compra da SodaStream, um dos maiores alvos do movimento por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), por US$3,2 bilhões, compra vista pelos sionistas como uma vitória moral. O genocida e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, comemorou a compra da SodaStream e aprovou a mudança da fábrica, na Cisjordânia, para Neguev.
Em uma declaração fascista, o ex-assessor do antigo primeiro-ministro israelense Menachem Begin, Zev Chafets, afirmou que a transação comercial marcou “uma vitória para Israel e para os acionistas da SodaStream”, além de alegar que isso seria “um efeito colateral da posição autodestrutiva na recusa da Palestina em se concentrar em objetivos alcançáveis.”
Acordos entre o sindicato e a PepsiCo
Em audiência de conciliação realizada na manhã desta segunda-feira, 2/12, entre representantes da PepsiCo no Brasil e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentos de São Paulo e Região (Stilasp), foi fechado o acordo para encerramento da greve.
A proposta aprovada, que já havia sido considerada “ridícula” e “maluca” pelos trabalhadores, institui que os funcionários terão que trabalhar 11 horas nos sábados que antecedem o “sábado de descanso”. Com a divisão de horas apresentada, os trabalhadores deverão passar 12 horas na linha de produção – a jornada diária era, até então, de 7 horas e 20 minutos.
Procurada, a Pepsico afirmou em nota que “cumpre rigorosamente as leis do país e, ainda que em discussão no Congresso, a jornada 6×1 está de acordo com a legislação brasileira em vigor”. Além disso, alegam que o fim da escala 6×1 causaria “ociosidade” e “ineficiência” aos trabalhadores brasileiros.
Os próximos passos dos trabalhadores
No final da noite de segunda-feira (2/12), a direção do sindicato e os trabalhadores do terceiro turno realizaram uma assembleia na planta de Itaquera, em que foram repassados os acordos firmados na audiência realizada pela manhã.
O sentimento geral dos trabalhadores, afirmado por Marcos*, é de insuficiência. “Começamos a organizar essa greve entre maio e julho, e o acordo não foi o que esperávamos, mas vamos encarar como um primeiro passo”, declarou o trabalhador. “Esse é o primeiro passo para uma mobilização maior e que seja realmente boa para nós”, concluiu.
*A pedido dos entrevistados, os nomes são fictícios.