Falta de materiais básicos para o funcionamento do Hospital Veterinário da UFRPE, quedas de energia e outras precariedades motivaram a paralisação das atividades de médicos e residentes
Cassiano Bezerra | Diretor de Assistência Estudantil da UNE
No dia 13 de janeiro, médicos e estudantes residentes do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife, importante centro de pesquisa e de formação dentro da instituição, entraram em greve. O motivo é a falta de materiais básicos (seringas, álcool e etc.), que a universidade não recebe há mais de um ano. Os médicos precisam arcar com a compra junto aos residentes e pesquisadores do hospital. Além disso, de acordo com residentes, o hospital também sofre com frequentes quedas de energia, ocasionando, por exemplo, na perda de um equipamento de raios-x.
O centro de diagnóstico (onde ficam as máquinas de raios-x) também está interditado para uma reforma que nunca aconteceu e, desde então, o hospital não realiza nenhum tipo de tomografia nos animais, mesmo a universidade tendo recebido um tomógrafo de última geração.
“Os atendimentos no Hospital Veterinário são de caráter público, destinado a pessoas de baixa renda que dependem do nosso serviço. Porém, para que a gente continue ofertando esse trabalho, precisamos pedir doações aos tutores. Esses donativos viabilizam a realização de procedimentos cirúrgicos e anestésicos”, afirma Rebeca Paes, uma das residentes em greve.
Após a deflagração da greve, os participantes realizaram várias atividades. No dia 14, realizaram reunião interna para montar um cronograma. A organização da greve pressionou a universidade e conseguiu alcance na mídia local. Já no dia 16, houve uma reunião com o Departamento de Medicina Veterinária, a Reitoria e Pró-reitorias para exigir uma resposta.
Cortes afetam diretamente
É importante lembrar que o Governo Federal aprovou a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 com R$30 milhões a menos do que em 2023 e tem seguido uma política econômica neoliberal com o Arcabouço Fiscal (a continuidade do Teto de Gastos dos Governos Temer e Bolsonaro). Nessa mesma linha, em agosto de 2024, contingenciou cerca de R$1,5 bilhão que iriam para saúde e educação. Enquanto isso, o Governo segue pagando cerca de R$ 1 trilhão (47% do PIB do país) para o pagamento da dívida pública, enquanto investe apenas 2% do PIB para áreas como educação e ciência.
A consequência disso são situações como a do Hospital Veterinário da UFRPE, falta de estrutura, insumos e quedas de energia, comuns em várias universidades do país. Não é de hoje que estudantes e residentes da universidade sofrem com problemas estruturais, vários prédios da universidade têm problemas nas janelas e também falta de ares-condicionados. Mas o principal é a falta de bolsas na universidade, que abarca apenas cerca de 2% da comunidade universitária, mas com uma demanda de mais de 60% dos estudantes.
A saída é a luta
Como mostraram os residentes que organizaram a greve, a saída é a luta. Lutar para ter uma entidade estudantil na UFRPE que garanta os interesses dos estudantes a nível geral e consiga ter força para reivindicar frente a reitoria as melhoras da universidade. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) é essa ferramenta. Reabrir o DCE, que está fechado há seis anos é uma urgência para garantir as necessidades básicas para a formação discente.
Além disso, apenas criando uma mobilização nacional pela recomposição orçamentária e contra políticas de austeridade como o Teto de Gastos do Governo Federal é possível garantir uma universidade de fato pública, gratuita e de qualidade. Por isso, se organizar no movimento estudantil, com o Movimento Correnteza, é urgente para termos a universidade que queremos.
Matéria publicada na edição impressa nº 306 do jornal A Verdade