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sábado, 15 de fevereiro de 2025

Médicos veterinários denunciam jornada exaustiva, salários de miséria e precarização

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Profissionais que se dedicam à saúde dos animais relatam jornadas de até 24 horas e locais de descanso insalubres. “Dá vergonha de falar: o valor do plantão de 12h, quando muito alto é R$ 300”, relata médica veterinária ao Jornal A Verdade.

Diego Barbosa e Alice Wakai | Paraná


TRABALHADOR UNIDO – A medicina veterinária é uma profissão milenar, cujos profissionais cuidam dos animais e previnem doenças transmissíveis aos seres humanos. Porém, o sistema capitalista tem humilhado estes profissionais, submetendo-as à jornadas extenuantes e abusivas pelos donos de clínicas, hospitais veterinários e pet shops.

“Os donos de clínicas e hospitais não investem o suficiente para desenvolver um comércio que equivalha à demanda exigida. Então, acabam construindo e administrando seus estabelecimentos de forma criminosa, subjugando e explorando os “colaboradores”, denuncia Mariana*, do Mato Grosso do Sul.

Trabalhadores relatam descumprimento do piso salarial e acúmulo de funções

Enquanto a lei nº 4.950-A determina a remuneração de 6 salários mínimos para 6 horas trabalhadas por dia, a maioria dos veterinários recebe de 1 a 3 salários mínimos por plantões de 12 horas. De acordo com dados do Movimento LUTE VET, Movimento Nacional de Médicos Veterinários na Luta por Direitos Trabalhistas, a precarização desses trabalhadores impôs a retirada de benefícios básicos à categoria como hora extra ou banco de horas, férias remuneradas, horário de almoço, auxílio alimentação, vale transporte, adicional de insalubridade, auxílio doença ou maternidade.

“Trabalho com base em um acordo verbal, a primeira proposta da empresa foi de uma jornada de segunda a sábado, das 8h às 18h, com um salário de R$ 1.000. Tentei aumentar o valor da minha hora trabalhada e hoje trabalho 6 horas por dia, de segunda à sexta e recebo apenas R$ 600″, disse a veterinária ACS*, de Brasília.

Outra veterinária, relata que a exploração começa desde a faculdade, quando os estágios não oferecem sequer auxílio de transporte. Durante a carreira, os contratos são feitos sem vínculo trabalhista. “Em 3 anos de formada só vi duas vezes contrato por CLT, a maioria trabalha com CNPJ ou simplesmente sem contrato. Na prática, temos obrigações iguais à CLT, mas sem os benefícios. A remuneração dá vergonha: o valor do plantão de 12h, quando muito alto, é R$ 300, mas a média é de R$ 180 a R$ 250. Ou recebe apenas comissões, o que não paga nem o curso de veterinária”, relata a veterinária Claudia, do Rio de Janeiro.

Profissionais desvalorizados

Segundo o Conselho de Medicina Veterinária, há uma alta procura por profissionais especializados, com pós-graduação ou cursos complementares. No entanto, mesmo estes profissionais sofrem com a precarização. “Sou pós-graduada, mas por ter optado por uma carga horária reduzida, sou paga como estagiária, mesmo entregando serviço especializado todos os dias e assinando com o meu CRMV”, disse Mariana, do Mato Grosso do Sul.

Devido à péssima remuneração, estes profissionais muitas vezes sequer conseguem se alimentar ou se locomover. “Quantas vezes pedi dinheiro para amigos e vizinhos para pagar transporte e alimentação para os plantões, porque precisava manter o aluguel em dia. Quantas vezes deixo de comer bem para pagar o aluguel, luz, água e internet”, disse Felipe*, de Brasília.

Locais insalubres e plantões sem descanso

Além da baixa remuneração, os veterinários estão constantemente expostos a doenças, acidentes com animais, assaltos e, no caso das mulheres que ficam sozinhas em plantões noturnos, até mesmo estupros. Nos plantões, os profissionais realizam todas as funções da clínica, incluindo limpeza e recepção, impedindo-os de dar atenção aos animais internados. “Não existem direitos trabalhistas, se você quer férias, paga para outra pessoa para fazer plantão no seu lugar, se suspeita que está grávida já é demitida, se se lesiona ou fica doente, também é demitida”, disse Claudia*, do Rio de Janeiro.

Outro profissional relata o descaso com os locais de descanso. “Já vi “quarto” dentro do consultório, com cama de palete de madeira, sem colchão. Passei duas noites me cobrindo com o meu jaleco, foram 24 horas e o gerente queria que eu ficasse mais 12 horas. Em outra clínica, o quarto era no “centro cirúrgico”, uma sala minúscula, com uma mesa de metal velha e suja! A gente colocava um colchão velho e fedorento no chão e dormia sem travesseiro, em outra clínica, dormíamos dentro de um depósito de ração”, denuncia Carlos*, de São Paulo.

Somente a luta muda a realidade

Segundo outro veterinário, é comum a falta de profissionais auxiliares e até mesmo recepcionistas nos plantões. “Conheço lugares que oferecem internação 24h, mas não tem equipamento para isso. Já fiquei em lugar que quem lava o banheiro era a auxiliar, eu tinha que lavar os cobertores, senão os internados não tinham cobertor. Em outros lugares também já vi faltar soro ou fita de glicemia”, relata Mariana*, de Mato Grosso do Sul.

No capitalismo, a força de trabalho dos veterinários é mais um meio de encher o bolso dos ricos. A única solução é construir um novo tipo de sociedade, a socialista, na qual todos sejam valorizados e respeitados e possam cuidar dignamente dos animais. Assim como os trabalhadores da Pepsico se organizaram pelo fim da escala 6×1 e os rodoviários de João Pessoa deflagram greve por salários dignos é urgente que a categoria se mobilize e se organize.

*Mudamos os nomes verdadeiros para preservar a integridade dos entrevistados.

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