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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

MLB organiza campanha “Território Livre do Analfabetismo”

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A campanha “Território Livre do Analfabetismo” nasce diante da oferta insuficiente de Educação para Jovens e Adultos (EJA). Tendo como direção o exemplo de Cuba, o trabalho de alfabetização de jovens e adultos é um dos eixos de atuação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Laís Chaud | Coordenação Nacional do MLB


O analfabetismo é uma realidade presente no Brasil, principalmente no seio das classes mais pobres e excluídas da sociedade. Dados apontam que, hoje, o número de pessoas analfabetas alcança mais de 9 milhões. Para termos uma ideia, isso corresponde à população do Estado de Pernambuco. Dentre esses, a maioria é de pessoas negras e indígenas, idosas e moradoras da região Nordeste do país.

Em artigo publicado por A Verdade (edição nº 301)* sobre a exemplar campanha de alfabetização em Cuba, pudemos conhecer mais dos esforços revolucionários do povo cubano e de como a educação foi, e ainda é, o caminho para sustentar a defesa de uma nação soberana e a liberdade de seu povo.

Tendo como direção o exemplo de Cuba, o trabalho de alfabetização de jovens e adultos é um dos eixos de atuação da área de formação popular do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), a Escola Nacional Eliana Silva. Trabalhando a partir da perspectiva do educador popular Paulo Freire e construída com objetivo de desenvolver a formação política, social e cultural, a Escola cumpre hoje um papel revolucionário na vida dos militantes e das famílias do MLB.

A escola não é um edíficio

A construção da Escola e a aplicação de seus eixos devem ser consolidadas em todos os territórios onde existe o trabalho do MLB. Para ter início, não é preciso necessariamente grandes estruturas físicas nem um núcleo formado por dezenas de pessoas. Esperar por isso significaria adiar a possibilidade de sua construção.

Devemos, portanto, relembrar o que estava escrito na contracapa do material de alfabetização de 1961 de Cuba, Alfabetizemos: manual para o alfabetizador: “O importante é estabelecer um local e criar a escola. A escola não é um edifício. A escola é a relação entre professor e alunos, em qualquer lugar. As aulas podem se dar até mesmo debaixo de uma árvore”.

Através dessa orientação, já vemos em alguns lugares do país a iniciativa de turmas de alfabetização da Escola, como em Florianópolis (SC) e cidades do ABC Paulista e na Capital (SP).

A campanha

A campanha “Território Livre do Analfabetismo” nasce diante da falta de ofertas na modalidade de Educação para Jovens e Adultos (EJA). Assim, o MLB de São Paulo iniciou turmas em Diadema, São Bernardo do Campo e nos bairros Jardim Três Marias e Jardim Pantanal, na Zona Leste da Capital. As turmas de São Bernardo, desde 2021, acontecem em espaços públicos, como no Centro Educacional Unificado (CEU). Em Diadema, desde 2023, na casa da companheira Dona Maria, aluna da Escola.

Já no Jardim Pantanal, a militância do MLB, através de mutirões, está construindo a Escola na casa de um companheiro do Movimento, o operário Seu Manoel, que cedeu um espaço de seu próprio terreno para o funcionamento e desenvolvimento desse importante trabalho de formação popular.

Essa última situação se repete também na cidade de Florianópolis. Após alguns mutirões de limpeza e construção, a militância dos núcleos de base e dos núcleos de luta do MLB inauguraram, no início deste mês de fevereiro, um novo espaço físico para a Escola. Antes, as aulas, que aconteciam dentro da casa de uma companheira, passaram a acontecer em um pequeno terreno, no bairro Alto Pantanal, cedido por Bicudo, companheiro do MLB. O projeto de alfabetização teve início no final de 2024 com Dona Maria, militante há cinco anos, que diz querer se alfabetizar para poder ler o jornal A Verdade e escrever a placa que vai colocar em frente da sua casa própria.

O registro da taxa de analfabetismo no Brasil é ainda maior entre as pessoas mais idosas, que tiveram nenhum ou pouco incentivo para retomar os estudos depois de adultas. Essa realidade é reforçada pelas histórias dessas companheiras. O fato é que as duas Dona Maria fazem parte da metade da população que não finalizou o ensino básico.

Dona Maria, de Diadema, afirma já “saber um pouquinho”, mas tem vontade de aprender mais, para poder, por exemplo, saber ler os documentos que ela precisa assinar. Já Dona Maria, do Alto Pantanal, diz que, na época da escola, escreveu muito pouco, pois logo saiu, então tem mais dificuldades, mas afirma que voltar a estudar é “muito bom. Eu gosto de escrever. Na verdade, adoro escrever. Se não fossem vocês, como eu ia fazer?”.

Essas companheiras não só foram incentivadas a garantir seu direito a ler e escrever, como alimentaram uma vontade revolucionária dentro de si. Uma vontade que enfraquece a estrutura rígida desse sistema, que tem a ignorância como plano de vida para o nosso povo, como nos apontou Samora Machel.

Devemos nos espelhar nesses exemplos e colocar em prática a campanha “Território Livre do Analfabetismo”, em todos os bairros, vilas e favelas onde temos trabalho do MLB. Também devemos estudar mais, para poder formar mais Donas Marias, mulheres guerreiras, filhas da nossa classe, para que elas encorajem e incentivem mais mulheres a acreditarem que é possível construirmos uma sociedade livre da opressão.

*“Se não sabes, aprendes; se sabes, ensina!” – A Campanha Nacional de Alfabetização de 1961 em Cuba, escrito por Julia Andrade Ew (Florianópolis/SC)

Matéria publicada na edição impressa nº 307 do jornal A Verdade

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