A criação de uma entidade paralela para captar recursos privados e a falta de diálogo com os trabalhadores do IBGE durante a gestão de Márcio Pochmann são duramente criticadas pelo sindicato dos servidores do órgão
Raul Bittencourt Pedreira | Presidente do Sindsep-RJ
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) enfrenta uma crise institucional que tem gerado debates acalorados sobre a autonomia da instituição e a qualidade dos dados produzidos. A gestão do presidente Márcio Pochmann tem sido alvo de críticas por parte dos servidores, que denunciam interferência política e falta de diálogo.
A Fundação IBGE+, uma entidade paralela ao instituto, criada às escondidas e sem qualquer diálogo interno, para captar recursos e desenvolver projetos junto a grupos privados, é um dos principais problemas gerados pela gestão Pochmann. Servidores e setores da sociedade civil temem que a fundação possa interferir na autonomia técnica do IBGE e direcionar recursos públicos para projetos privados alheios às suas atribuições tradicionais.
Além disso, mudanças na estrutura organizacional do IBGE, como a centralização de decisões e a falta de diálogo com os servidores, têm gerado insegurança e fragilizado a capacidade operacional da instituição. A credibilidade dos dados produzidos pelo IBGE também tem sido questionada, com temores de que o perfil autoritário da gestão possa comprometer a imparcialidade das informações estatísticas. Exemplos de autoritarismo não faltam, como a tentativa transferência da sede do IBGE para o Horto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e um corte massivo no trabalho remoto, tudo sem qualquer diálogo prévio.
O sindicato dos servidores do IBGE, o ASSIBGE, tem sido um crítico ferrenho da gestão Pochmann, defendendo a autonomia técnica do instituto e a necessidade de um diálogo aberto e transparente. O sindicato também tem alertado para os riscos da criação do IBGE+, que poderia desviar os já limitados recursos (humanos e financeiros) do instituto para priorizar a demanda de clientes privados, esvaziando a finalidade pública e comprometendo tanto a qualidade das informações estatísticas, quanto a credibilidade do instituto junto à sociedade.
Em meio à crise, o presidente Márcio Pochmann tem questionado o uso da sigla “IBGE” no nome do sindicato, alegando que a associação direta com o instituto não seria respaldada pelas atividades estatutárias do sindicato. O sindicato, por sua vez, argumenta que o uso de siglas de órgãos públicos em nomes de sindicatos é uma prática comum e legítima, que nunca foi questionada, nem mesmo no governo do fascista Bolsonaro.
A falsa disputa pelo uso da sigla IBGE é apenas mais um sintoma da crise que tem abalado o instituto e tensionado a relação entre o governo e os servidores. Pochmann, indicação pessoal do Presidente Lula, por sua vez, busca desviar a atenção da sociedade do problema central, o caráter autoritário de sua gestão. Mas não é um caso isolado, as direções do Arquivo Nacional e do Museu do Índio (Funai), ambos no Rio de Janeiro, também tem se mostrado aversos ao diálogo com os servidores e seus sindicatos.
A crise no IBGE é um reflexo da crise de identidade do Lula. Márcio Pochmann, recebido no IBGE como um nome progressista depois de todos os infortúnios do desastre Bolsonaro. Porém, o discurso inicial de aproximação com os servidores não se sustentou e agora busca impor sua vontade de forma autoritária, com uma gestão de visão liberal e privatista, que ataca o sindicato e direitos dos servidores.
Matéria publicada na edição impressa nº 306 do jornal A Verdade