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sexta-feira, 11 de abril de 2025

Retomada Krim Orutu: povo indígena Puri se reergue em Minas Gerais

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Em terras hoje localizadas no município de Itueta (MG), a Comunidade Indígena Puri Krim Orutu se organizou para fazer a retomada de um território ancestral do povo Puri, reivindicando sua demarcação.

Matheus Median


Atualmente, o povo indígena Puri se organiza em uma série de grupos e associações regionais. Entre elas, a Comunidade Indígena Puri Krim Orutu. “Krim Orutu”, na língua Puri, significa “sangue valente”. Recentemente, esse grupo liderado pela Cacica Puoná Xipu Puri organizou centenas de pessoas da etnia, principalmente das regiões do médio e baixo Rio Doce, e realizou um feito histórico: retomaram terras no município de Itueta (MG) que estavam sob posse da empresa Aliança Geração de Energia, reivindicando a demarcação de um território Puri.

A luta dos Puris por sua terra remonta a séculos atrás. Ainda no período colonial, os Puris estiveram entre os povos mais perseguidos pela política de “guerra justa” de Portugal, por serem considerados “índios bravos” e “inimigos da coroa”. As expedições militares do período joanino tinham ordens claras de exterminar comunidades inteiras dos nativos das terras que se tornaram a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e de onde mais se roubava ouro. Os que não eram assassinados eram colocados em catequização e aldeamentos forçados, mas sempre sendo removidos de suas terras ancestrais. A consequência disso tudo é que, no final do século XIX, o povo Puri perdeu suas últimas terras e foi dado como extinto pela historiografia hegemônica.

Apesar disso, originário de um território que foi capital da Colônia e do Império, onde ocorreu o ciclo do ouro, a economia do café com leite e uma das maiores explorações de minério de ferro do mundo, o povo Puri nunca abaixou a cabeça para os poderosos de nenhum tempo, e não se deixou acabar. Hoje, trata-se de um povo vivo, com anciões que resgatam suas práticas culturais, sua língua e agora também seu território.

“Somos um povo forte e guerreiro”

Em entrevista ao jornal A Verdade,a cacica Puoná conta que descende de Puris do médio Rio Doce que foram sequestrados e domesticados para trabalho escravo, e que sua avó era uma grande guardiã da cultura, que a transmitia e pedia para os netos retomarem as origens, mesmo em um período onde estavam vivendo em Belo Horizonte. Com a morte da avó, Puoná, aos 15 anos, decide sair da capital mineira e voltar para a região de origem para lutar pela união de seu povo.

“Nosso povo é um povo muito sofrido, que vivia correndo para não ser morto, que tem medo de falar de tanto terem as línguas cortadas. Ainda existem muitas famílias com medo inclusive das violências que foram cometidas na ditadura militar”, diz a cacica.

Ela complementa contando a história da Comunidade Indígena Puri Krim Orutu: “Aqui existem várias famílias Puri que começaram me procurar, foi quando a gente juntou um grupo grande de pessoas e começamos levantar lideranças para montar nossa associação, que hoje é registrada”.

Puoná também explica que sua família sempre afirmou que haviam terras historicamente ocupadas pelo povo Puri no que hoje é o município de Itueta, próximo à Pedra Lorena, o que se confirma por achados históricos como a trilha utilizada pelos Puri e outros povos e o cemitério indígena na região. A cacica também conta os desafios da retomada estabelecida na cidade. Apesar de o povo ter sido reconhecido por órgãos federais, direitos básicos ainda são negados, como acesso à água potável e alimentação, o que faz os Puris dependerem de doações de água mesmo estando ao lado de um dos maiores rios do país, o rio Doce, hoje contaminado por rejeitos de mineração.

“Somos um povo forte e guerreiro, não vamos desistir, é pelos curumim que estão chegando e crescendo. É muito sofrimento, mas estamos avançando e o que mais queremos agora é a demarcação de nossas terras”.

Próximos passos da luta

Outra liderança da Krim Orutu é Kurim Puri, que conta ao jornal A Verdade sobre as características do povo e a expectativa dos próximos passos da luta. “Nos levantamos das cinzas”, diz ele, após contar que se trata de um povo reservado e arisco em função das perseguições que culminaram em uma etnia com mais de 6 mil pessoas ser declarada extinta, e só ter sido oficialmente tirada dessa condição recentemente.

Ele acredita que as próximas gerações enfrentarão mais desafios pelo avanço da lógica de destruição da natureza em função do lucro “o não-indígena não pensa muito em preservar, mas é por isso que a gente sempre busca passar nossa tradição e costume para os futuros, para que eles também sejam um povo de resistência, tradição e cultura”. Casado com uma mulher do povo Krenak, ele entende que os povos indígenas são um só, independente da etnias, e que é preciso se fortalecer e referenciar nas lutas de povos indígenas por direitos.

Os direitos originários dos povos indígenas estão intrinsecamente ligados ao futuro da classe trabalhadora como um todo. O corrente etnocídio indígena só serviu até agora para explorar o povo e transformar comunidades e biomas em desertos. Há algumas necessidades básicas para serem atendidas para que o povo Puri tenha condições de dar seguimento a essa luta, e uma delas é a água, que os assassinos do Rio Doce e seus cúmplices, o poder público, deveriam conceder ao território.

A sociedade não-indígena pode e deve se engajar nas causas dos povos indígenas, principalmente aqueles que lutam pelo futuro no presente. Por isso, o povo Puri convoca todos a assinarem a petição “Água para a retomada Krim Orutu do Povo Puri” e lutar por uma Minas Gerais com mais terras indígenas e sem barragens de rejeito de minério.

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