Enquanto reporta lucros e investe em patrocínios e marketing bilionários, o Mercado Livre tenta silenciar e desmobilizar a organização dos trabalhadores. Empresa chegou a apagar e-mail de convocação de assembleia sindical. Também convocou gerentes para coagir trabalhadores a votar a favor do Acordo Coletivo da empresa em 2024.
Movimento Luta de Classes – Tecnologia
TRABALHADOR UNIDO – Há pouco mais de um ano, em fevereiro de 2024, um jovem, reconhecido por seus colegas como funcionário exemplar, tirou a própria vida após receber a notícia de que estava sendo demitido da empresa. O nome deste trabalhador é Luis Felipe Dominicalli e o nome desta empresa é Mercado Livre.
Entre os relatos de colegas de Luis Felipe, se acumulam denúncias de assédio moral e sobre o ambiente tóxico do setor de operações em Cajamar (SP). “Esse lugar é um verdadeiro hospício! Saí de lá muito abalada psicologicamente e por muito pouco não aconteceu o mesmo comigo”, disse uma ex-funcionária nas redes digitais de uma mídia local.
Infelizmente, Luis Felipe foi mais uma vítima do sistema capitalista que tira a vida da classe trabalhadora para garantir o lucro dos empresários e dos super-ricos.
Trabalhadores dos Centros de Distribuição em Santa Catarina relatam abusos
Além do que aconteceu em Cajamar, o Movimento Luta de Classes, junto aos trabalhadores do Mercado Livre, coletou dezenas de denúncias de trabalhadores dos Centros de Distribuição de Santa Catarina. Os trabalhadores relataram casos de assédio, de perseguição e de exaustão. “É um absurdo a sobrecarga física, eu tive que ir trabalhar com meu pulso machucado. Acabei com minha coluna, tenho escoliose por causa do trabalho pesado. Eu tinha crise de ansiedade todo dia, passei por um período de depressão que eu só sentia vontade de morrer”, denuncia um trabalhador.
Outro trabalhador relata que trabalhava sob calor e frio extremos, nos turnos da madrugada e acabou pegando pneumonia. “Faltei ao trabalho algumas vezes por não conseguir lidar com a pressão e quando voltei novamente com atestado de psiquiatra e psicólogo de que não podia trabalhar sozinho, a demissão veio no mesmo dia”, relata.
Trabalhador tem que ir para o escritório, mas empresa se recusa a custear transporte e hospedagem
Além do ambiente insalubre e inseguro nos Centros de Distribuição, os trabalhadores relatam que sofrem perseguição e demissão quando questionaram e criticaram abertamente as políticas da “cultura Meli”, como a presencialidade obrigatória.
De acordo com essa política, instituída em 2024 de maneira informal, os trabalhadores precisam comparecer presencialmente ao escritório pelo menos 1 vez a cada trimestre. O problema é que o contrato de grande parte desses trabalhadores funciona no regime de home office integral. Ou seja, estes funcionários vivem a centenas de quilômetros de distância dos locais em que estão alocados os escritórios.
Além disso, a empresa se recusa a pagar a ajuda de custo de transporte ou hospedagem. “Fui desligado no dia em que me manifestei em reunião que arcar com os custos da viagem. Disse que não estava de acordo com o Acordo Coletivo de Trabalho vigente”, desabafa um dos demitidos em pesquisa feita pelo grupo de trabalhadores organizados no perfil @trabalhadoresmeli.
Na prática, o salário desses trabalhadores reduziu, uma vez que parte do seu pagamento precisará ser utilizada para pagar os custos da viagem obrigatória. No caso de funcionários que precisam se deslocar do Nordeste até São Paulo, as passagens podem chegar a R$ 3.000.
Trabalhadores de TI lutam pela redução da jornada de trabalho
Em 2024, os trabalhadores de tecnologia do Mercado Livre de Santa Catarina se organizaram e procuraram seu novo sindicato, o Sindpd/SC para debater um novo Acordo Coletivo. Entre as principais reivindicações estava a redução da jornada de trabalho para 40 horas (realidade para grande parte da categoria de TI) e a garantia do home office.
Mas a empresa não apenas ignorou as reivindicações dos empregados, como tentou dissuadir e silenciar a Assembleia convocada pelo Sindpd/SC.
Em novembro de 2024, apagou os e-mails de convocatória da caixa de entrada dos funcionários e mobilizou dezenas de gerentes para votarem a favor da empresa.
De acordo com os relatos, o jurídico da empresa orientou os líderes a convencerem os seus times de que a proposta oferecida pela empresa era melhor. Além disso, mentiam dizendo que, caso a proposta da empresa não fosse aprovada, “perderiam direitos e inúmeros benefícios”.
“A ação gerou dúvida em uma série de trabalhadores, e quando nós perguntávamos nos canais de comunicação internos da empresa, sofríamos represália por parte dos gerentes”, relata um dos trabalhadores que foi perseguido.
Proposta dos trabalhadores obteve 42% dos votos
Mesmo sendo perseguidos de forma aberta, 42% dos trabalhadores votaram contra a proposta da empresa. Tal proposta nada oferecia aos trabalhadores, a não ser a suspensão por 6 meses da política da presencialidade.
Mesmo com essa medida aprovada no ACT, os trabalhadores denunciaram que a empresa não fez nenhum comunicado oficial sobre a suspensão do regime presencial. Simplesmente continua agindo como se nada tivesse acontecendo.
Além disso, diversos trabalhadores relatam que ao sondarem sua liderança, provavelmente por medo de represálias, recebem a recomendação de continuar indo ao escritório.

Trabalhadores são demitidos por “desalinhamento cultural”
Após a Assembleia de 2024, uma nova onda de demissões começou sob o mote de “desalinhamento cultural”. “Vivemos sob um processo de demissão massiva que pode estar acontecendo a conta-gotas. Criamos o formulário para dizer para as pessoas que estão sendo demitidas de que elas não estão sozinhas. Queremos que saibam que juntos, podemos erguer as nossas vozes contra as arbitrariedades cometidas pela empresa. Esta gestão fascista depois de nos adoecer física e mentalmente, persegue a todos que se opõem de alguma maneira a essa cultura doentia”, afirma um dos trabalhadores organizados.
A pressão por resultados e falta de compreensão e humanidade estão causando danos psicológicos a centenas de pessoas. “Sinto que me demitiram mais por questionar do que por performance. Me demitiram dois dias depois do meu aniversário. A demissão silenciosa acontece desde a mudança de sede”, desabafa uma ex-funcionária.
A luta continua
Em novembro do ano passado, o Movimento Luta de Classes (MLC), junto com alguns trabalhadores, organizou um ato em frente à empresa para denunciar a Black Fraude.
Nesse período, os imensos lucros do Mercado Livre ficam ainda maiores. Por isso, explora ainda mais os trabalhadores e os submete a metas e jornadas exaustivas, recompensando-os com pizzas, energéticos e outros “benefícios”.
Já em fevereiro deste ano, a empresa perdeu novamente na Justiça e terá que indenizar funcionários e ex-funcionários por diferenças nos valores pagos em reajustes salariais, horas extras e adicionais noturnos. A decisão deve beneficiar cerca de 5 mil trabalhadores, entre empregados e ex-funcionários.
Todos estes acontecimentos demonstram que os trabalhadores permanecem organizados e em luta para mudar os rumos desta história, como disse Lenin em “Sobre As Greves”: “Quando os operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertem-se em humanos e começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas.”