Carpina registrou 62 casos de violência doméstica contra mulheres nos dois primeiros meses de 2025, segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. A taxa de 72 ocorrências por 100 mil habitantes revela o cenário agravado pela falta de estrutura pública de acolhimento e pela subnotificação.
Isabella Morais | Redação PE
MULHERES – A violência contra as mulheres segue sendo uma grave realidade no Brasil e no Estado de Pernambuco, e a cidade de Carpina não está isenta desse problema, pelo contrário. Os dados e as notícias revelam a cultura do machismo e da misoginia, que é o ódio às mulheres, elevadas ao extremo no município.
De acordo com dados da Gerência Geral de Análise Criminal e Estatística, da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), a cidade registrou 62 casos de violência doméstica contra mulheres nos meses de janeiro e fevereiro de 2025. Embora tenha havido uma mínima redução de 6,25% no número de ocorrências de janeiro (32 casos) para fevereiro (30 casos), a taxa ainda é alarmante e demonstra que pouco ou quase nada tem sido feito para garantir a segurança das mulheres carpinenses.
Quando relacionamos esse número com a população estimada de Carpina, que é de 85 mil habitantes, temos uma taxa de 72,94 casos de violência contra mulheres por 100 mil habitantes. Essa taxa, embora inferior à de municípios como Recife (95,4), Jaboatão dos Guararapes (95,6) e Caruaru (131,5), ainda revela uma incidência preocupante, principalmente se considerarmos a subnotificação, que é uma questão recorrente quando se trata de crimes de violência doméstica. E, em geral, as vítimas são sempre as mulheres pobres, periféricas e negras.
O cenário pernambucano reflete um panorama nacional ainda mais sombrio. A recente pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, do Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que mais de 21 milhões de brasileiras, ou 37,5% do total de mulheres no país, sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses. Esse dado evidencia que a violência de gênero continua sendo um problema estrutural, que perpassa questões raciais e socioeconômicas, e que medidas mais eficazes, que cheguem especialmente às mulheres pobres e racializadas, precisam ser adotadas para conter essa epidemia de agressões, que tantas vezes acabam em feminicídio, que é o homicídio de uma mulher cometido em função do seu gênero. Ou seja, quando a mulher é morta exatamente por ser mulher.
Em Carpina, assim como em diversas cidades do estado, faltam equipamentos públicos especializados para o atendimento às vítimas, como delegacias da mulher, funcionando 24 horas, casas de acolhimento seguras e programas de assistência psicológica e jurídica.
No ano passado, em 2024, o município ficou em 2º lugar no ranking de municípios com maior número de casos de agressão às mulheres na região da mata norte, com um registro de 435 casos, ficando entre Goiana, que foi o primeiro lugar, com 465 ocorrências, e Paudalho, que registrou 362 casos, ocupando o terceiro lugar, segundo boletim divulgado pela SDS-PE. Estes dados representam uma crescente dessa estatística, pois em 2023, Carpina ficou em 4º lugar na colocação de cidades da zona da mata norte com mais registros de violência contra mulheres.
Em 2022, dos 903 Boletins de Ocorrência registrados em Carpina, numa delegacia comum, 460 foram registros de violência contra mulheres. A estimativa naquele ano ainda era de que, a cada 1000 mulheres da cidade, 11 eram vítimas de violência doméstica.
É fundamental que haja campanhas de conscientização para o povo, principalmente para as mulheres em vulnerabilidade social e econômica, que se submetem a diversos tipos de violências pela falta de condições financeira e psicológica. Por isso a importância de iniciativas como a do Movimento de Mulheres Olga Benário que, através de ocupações e luta, constrói espaços de denúncia, acolhimento e de organização política e socialista para mulheres. É o primeiro movimento da América Latina que faz ocupações em imóveis abandonados e os transforma em Casas de Referências às Mulheres. Porque quando o poder público falha no investimento em políticas voltadas à prevenção e ao combate à violência doméstica – e ele falha recorrente e miseravelmente – é na força dos movimentos sociais que a população tem uma alternativa de libertação e proteção.
A luta contra a violência de gênero não pode ser apenas uma pauta eleitoreira e emergencial, quando casos extremos chocam a sociedade, como o de Simeia da Silva Nunes, de 33 anos, que em julho de 2023 foi agredida fisicamente e morta a tiros pelo seu companheiro, um policial militar. O crime teve grande repercussão na época, sobretudo pelas imagens estarrecedoras registradas em câmeras de segurança, divulgadas pela mídia, mostrando a brutalidade com a qual Simeia foi espancada, em um bar, um espaço público. Em seguida, quando deixava o local, ela foi alcançada e alvejada com tiros, chegando sem vida ao hospital.
É preciso um compromisso contínuo e ações concretas para proteger as mulheres e garantir seus direitos à segurança e dignidade. A redução de casos em Carpina somente no último mês de 2025 pode ser um bom indicativo, mas é insuficiente se comparado ao número total de ocorrências. Além disso, a ciência das subnotificações reforça a necessidade de políticas públicas mais efetivas e de uma rede de proteção fortalecida para que nenhuma mulher tenha que sofrer calada ou pagar com a sua própria vida.