“Cada brigada é também um importante ato político. Em uma brigada, o militante é a voz da revolução. Ao apresentar o jornal e buscar convencer outra pessoa da importância de lutar pelo socialismo, o brigadista estimula uma vontade adormecida em cada trabalhador e se forma como liderança. Sua voz carrega o discurso revolucionário e chega mais longe do que qualquer alto-falante.”
Lucas Marcelino | São Paulo (SP)
O jornal A Verdade chegou aos 25 anos de existência construído sobre diversos pilares. Entre eles, estão a teoria revolucionária, o financiamento da classe trabalhadora e a abnegação de seus brigadistas. Mas é preciso refletir: como está a nossa relação (individual e coletiva) com o Jornal?
O que não é debatido, se perde
Cada camarada que fizer essa reflexão encontrará alguma atitude a ser melhorada na sua relação com o Jornal. Um militante de muitos anos pode se acomodar e enxergar como apenas mais uma tarefa da sua jornada revolucionária. Já um militante recém-ingressado pode ter dúvidas de por que ainda existir um jornal impresso na era da internet e das redes digitais ou alegar falta de tempo para participar das reuniões, manifestações, atividades e de uma brigada a cada 15 dias.
Os dois casos ocorrem pela falta de compreensão teórica e prática sobre o papel de um jornal político como A Verdade. Mas vejamos o que disse o líder revolucionário russo Vladimir Lênin:
“A nosso juízo, o ponto de partida de nossa atividade, o primeiro passo prático para a criação da organização desejada e, por último, o fio fundamental ao qual poderíamos agarrar, aprofundar e ampliar incessantemente esta organização, deve ser a fundação de um jornal político para todo o país”. (Por onde começar, 1901)
Quase 100 anos depois, essa citação abria outro documento: Plano para o jornal do Partido, produzido pelo Comitê Central do PCR, em maio de 1999, para estimular o debate e ganhar os comunistas a criarem um jornal político para todo o Brasil. Diz o Plano: “um jornal dedicado às massas populares, em particular às grandes massas operárias, que forme sua consciência de classe, eduque os operários e, principalmente, que os organize, convocando-os à luta”. Podemos confirmar que cumprimos esse objetivo e construímos esse jornal.
Cada brigada é um ato político
As grandes manifestações de rua, as greves, as ocupações – de estudantes, mulheres ou por moradia – e as atividades que reúnem centenas ou milhares de pessoas são ações importantes para o avanço da luta e a disputa da consciência do povo para o socialismo.
Mas gostaríamos de chamar a atenção para as brigadas do Jornal, sejam elas nos sábados de Brigada Nacional, sejam as brigadas de coletivo ou na porta de fábrica.
Cada brigada é também um importante ato político. Em uma brigada, o militante é a voz da revolução. Ao apresentar o jornal e buscar convencer outra pessoa da importância de lutar pelo socialismo, o brigadista estimula uma vontade adormecida em cada trabalhador e se forma como liderança. Sua voz carrega o discurso revolucionário e chega mais perto do que qualquer alto-falante.
A potência das brigadas – que já convenceram centenas de pessoas a se organizarem na luta pelo socialismo – confirma o acerto de mantermos o Jornal há 25 anos e deveria convencer cada camarada a estar presente nas ruas. Mas não só participar para cumprir uma tarefa. Estar na brigada com um ânimo que só a plena consciência desta ação política pode trazer. Ir preparado, ler as matérias antes e saber a linha política que deve ser discutida com o povo.
“Ideologia burguesa ou ideologia socialista. Não há meio-termo. Por isso, toda a diminuição da ideologia socialista, todo distanciamento dela, implica o fortalecimento da ideologia burguesa”. Lênin trouxe essa reflexão no livro Que Fazer?, que trata da necessidade do jornal político nacional para a construção de um partido revolucionário.
Faltar na brigada, considerar uma tarefa menos importante ou não se dedicar a ela é fortalecer a ideologia capitalista, que já domina o cotidiano da classe trabalhadora com suas propagandas, filmes, séries, músicas etc.
Fio condutor
“A missão do jornal não se limita, entretanto, a difundir ideias, a educar politicamente e a conquistar aliados políticos. O jornal não é só um propagandista coletivo e um agitador coletivo, senão também um organizador coletivo”. (Por onde começar)
Lênin reforça que o papel do Jornal é também de organizar a classe trabalhadora no partido revolucionário e levar sua linha política aos mais distantes pontos do país.
Muitos(as) camaradas se lembrarão da matéria sobre as brigadas realizadas na empresa Gomes da Costa, em Itajaí (SC), que contribuíram para a realização de paralisações de trabalhadores e evitaram descontos no vale-alimentação e o fim do adicional de insalubridade.
Nas edições seguintes, foram publicadas matérias sobre as brigadas realizadas nas fábricas de Diadema (SP), que começaram vendendo poucos jornais, mas resultaram em coletivos do Partido dentro de fábricas da região do ABC Paulista.
Outra matéria tinha o título de “Qual sua fábrica, camarada?”. Nela, toda a militância foi convocada a ir para as portas das fábricas e locais de trabalho. E isso não é à toa. Cada uma dessas matérias e todas elas em conjunto formam o que Lênin comparou com os andaimes de uma construção, com o prumo de um pedreiro ou com o fio condutor que une a militância em torno da construção correta e alinhada da obra do socialismo.
“Um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada”. Esses versos de cantor e compositor Sérgio Sampaio nos lembram da importância de não só produzir uma obra, mas de divulgá-la, apresentá-la para o maior número de pessoas. Então, por que muitos militantes deixam suas cotas individuais em casa, na mochila ou até no fundo de uma gaveta? Temos camaradas que vendem cotas de até 50 jornais por edição. Já outros camaradas têm cotas de cinco e até três jornais e relatam dificuldade para apresentar e vender.
Um dos princípios da luta contra o individualismo capitalista e a concentração da riqueza é que somos seres sociais. Ninguém pode viver uma vida inteira ou mesmo um dia sem entrar em contato com outra pessoa. Então como é possível que, a cada quinzena, camaradas não consigam encontrar ao menos cinco pessoas para vender a sua cota?
É preciso repensar nossa rotina, pois isso dificulta não só a venda do jornal, mas também a nossa saúde mental, nossas emoções e nossa consciência coletiva. Precisamos encontrar amigos, familiares, colegas de trabalho, ou mesmo uma pessoa que puxa assunto na rua, e vê-la como alguém que precisa saber da luta por um mundo melhor.
Mas não podemos somente nos desfazer dos exemplares. Precisamos prestar conta política da nossa cota. Para quem vendemos? Essa pessoa compra sempre? Se compra, já apresentamos os movimentos sociais e a UP? Fazemos a leitura ou discussão de matérias com quem compra? Ajudamos a inflamar o ódio de classe contra os capitalistas?
Financiamento popular
Nos orgulhamos de ter um Jornal que não recebe dinheiro de governos ou de empresas capitalistas e, mesmo assim, nunca deixou de publicar uma edição. Chegamos a cidades distantes dos grandes centros do país, como Rosana, na divisa de São Paulo com o Mato Grosso, a mais de 700 km da capital paulista.
“Nosso jornal, como um órgão de emancipação e luta dos trabalhadores, deve ser fundamentalmente financiado pelos próprios operários, camponeses, pela juventude e a intelectualidade revolucionária e as massas trabalhadoras. Ele será o alimento da classe operária pela sua libertação. Então, será na classe operária e nas massas populares que obteremos sua sustentação financeira”. (Plano para o Jornal do Partido)
São vários os relatos de pessoas que contribuem com R$ 5, R$ 20, R$ 100… e até nos chegou uma contribuição de US$ 100 (quase R$ 600,00). Mas vemos também camaradas que pagam sua cota do seu bolso só para não serem criticados na reunião do coletivo.
Camaradas brigadistas e leitores: nosso Jornal é uma grande obra coletiva que conquista uma vitória a cada nova edição, a cada exemplar vendido, a cada pessoa que decide se organizar após ler suas páginas. É “uma luz para esclarecer todos os mistérios que hoje deixa confuso e atordoado o proletariado e o impede de levar a luta até o fim”. (Plano para o Jornal do Partido)