Em resposta à onda de assédios e violência contra as mulheres na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o Movimento Olga Benario promove aulas populares de autodefesa para mulheres no Campus Central. Primeira aula conta com presença de dezenas de pessoas.
Kivia Moreira | Natal (RN)
MULHERES – O Movimento de Mulheres Olga Benario, com dezenas de alunas, no último dia 14, realizou a primeira aula de defesa pessoal para as mulheres estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em resposta aos diversos casos de assédio sexual que estão ocorrendo dentro do campus.
Na primeira aula, contou com a participação de cerca de 50 estudantes. O grupo de interessadas chega a ter mais de 300 participantes.
“Como praticante de jiu-jitsu e judô, sinto que é essencial trazer mais meninas para o nosso meio (ocupado majoritariamente por homens). (…). Senti que as meninas estavam muito engajadas em aprender, pois o medo é real. Esperamos continuar com as aulas e seguimos pedindo um campus mais seguro para nós mulheres.” afirma Helena Pires, estudante de Ciências Biológicas da UFRN, e uma das instrutoras da primeira aula.
“As aulas de autodefesa se tornam muito necessárias no contexto que as meninas estão passando na universidade. A mulher precisa ter consciência que pode se defender, pois ultimamente é mais provável alguém filmar e postar a agressão do que ajudar a vítima.” Complementa o instrutor Danilo Bezerra.
As aulas estão sendo recebidas de forma positiva pela comunidade acadêmica, que aparecem cada vez mais estudantes e servidores para contribuir com a organização.
Casos de assédio e sequestro
Onda de assédios e violência contra as mulheres revolta estudantes da UFRN. Desde o início do período letivo, houve diversos relatos de importunação sexual dentro dos circulares da universidade, de um único homem que utiliza da superlotação dos ônibus para assediar as estudantes. De acordo com a Delegacia Especializada da Mulher (DEAM) de Natal, há pelo menos 20 boletins de ocorrência denunciando um mesmo agressor nos circulares da UFRN.
Infelizmente, não houve somente os casos de assédio, como também sequestro dentro do campus. No último dia 09 de abril, a estudante Ana* relatou à ouvidoria do Movimento de Mulheres Olga Benario que estava saindo da aula às 22h a caminho de seu carro no estacionamento do Centro de Biociências. Ao chegar na porta do veículo, um homem armado a abordou coagindo a entrar no carro, deitar-se no banco de trás e desligar a localização do seu telefone. A estudante foi deixada no matagal do bairro Ponte Negra, em Natal sem seus pertences.
Mulheres querem estudar sem medo
Apesar dos casos alarmantes de violência contra a mulher, a reitoria tem feito medidas tímidas em relação às situações de assédio, como uma nota vaga nas redes sociais afirmando realizar “medidas cabíveis” e reuniões com as superintendências somente após uma semana da explosão de casos.
Nesse sentido, cansados de esperar ações efetivas da reitoria da UFRN, os estudantes têm realizados medidas de autorganização para proteger as mulheres.
Além das aulas de autodefesa e instalação de uma ouvidoria feminista, os estudantes têm realizado patrulhas de segurança às alunas e grupos de aviso de situações de importunação sexual.
Nas últimas duas semanas, foram realizadas diversas manifestações das estudantes, exigindo respostas efetivas e rápidas para proteger as alunas, organizadas principalmente pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e Movimento Correnteza.
“A reitoria não tem dado resposta aos casos. E, por isso, vamos ocupar toda a universidade para exigir que acabem os assédios!” afirma Milenne Barbosa, coordenadora do Movimento Correnteza.
Através desta luta, os movimentos conquistaram uma reunião aberta com o Reitor em Exercício da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para tratar dos casos de assédio para próxima semana. Uma vitória de muita importância arrancada após uma ocupação no Gabinete da Reitoria.

A organização das mulheres por uma nova sociedade
Através das mobilizações das estudantes, está se tornando cada vez mais evidente que apenas medidas específicas, prender um assediador, não irá acabar com a violência contra a mulher . A raiz dos assédios vem da propriedade privada dos meios de produção, intensificada pelo sistema capitalista, uma sistema que é podre , que lucra em cima da opressão e exploração das mulheres.
E, por isso, somente com a organização das mulheres para transformar a realidade é possível construir uma nova sociedade sem exploração às mulheres, uma universidade inclusiva para todos e livre dos assédios, que é na sociedade socialista.
*Nome fictício