Casos de assédio e denúncias de sequestro contra as mulheres na Universidade Federal do Rio Grande do Norte revolta os estudantes, que se organizam para lutar por melhor estrutura e segurança.
Alice Morais | Movimento Olga Benario (RN)
MULHERES – As estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte iniciaram um novo semestre letivo, mas se depararam com um problema já antigo na Universidade: a falta de segurança e o descaso com as mulheres estudantes e servidoras. No campus central em Natal (RN), diversas estudantes relataram terem sido vítimas de importunação sexual por parte da mesma pessoa, dentro do ônibus circular, que transporta os alunos dentro do campus universitário.
Os casos foram divulgados nas redes sociais e em grupos de WhatsApp estudantis, com o objetivo de alertar as mulheres para os casos. A constância nos casos fez com que os relatos divulgados viralizassem, indignando as estudantes. “Ontem fui assediada por um cara no circular, o ônibus tava cheio, ele tava atrás de mim, no início eu achei que podia ser a bolsa dele encostando, que era só impressão minha, só que comecei a sentir ele me apertar e fazer outras coisas, eu olhei para trás e vi que não era a bolsa dele e sim a mão, me mexi ele percebeu que vi. Só que ao invés dele parar ele continuou me tocando só que muito mais invasivo, eu tentei me afastar, mas o busão tava cheio e não tinha como mudar de lugar, eu travei e fiquei sem reação só tava torcendo para chegar logo na parada e descer”, conta Maria*, em um dos relatos que viralizaram. Vale ressaltar que o campus central da UFRN conta com uma frota de apenas 8 circulares, para uma comunidade de aproximadamente 9 mil estudantes.
Mais: somente na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Natal foram registrados 20 boletins de ocorrência sobre os casos no circular da UFRN. Na ouvidoria da Universidade, foram cerca de 30 denúncias. Além disso, na última quinta-feira (10/04), houve uma tentativa de sequestro dentro da Universidade, próximo ao Restaurante Universitário. A estudante relata que um homem de cabelos grisalhos a abordou, e pediu que entrasse no carro que ele dirigia. Ela felizmente conseguiu fugir. Outros estudantes afirmam que não é a primeira vez que esse homem aparece no campus “Não é de hoje que esse homem circula por lá. Semana passada um homem com as mesmas características estava sentado dentro do Centro de Biociências, só observando. Sentei em um banco em frente a ele, e ele ficou com uma cara muito estranha pra mim que chegava a me incomodar”, relata Ana*, estudante da UFRN.
Movimentos organizam atos para combater a violência
Até o momento, a Reitoria da UFRN se pronunciou apenas com uma nota nas redes sociais, alegando estar em diálogo com a corregedoria da Polícia Federal e a PM-RN. Contudo, o problema não está apenas relacionado ao policiamento. No último dia 16 de abril, o Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Correnteza organizaram um grande ato em conjunto com os alunos, onde ocuparam a reitoria para denunciar a frota insuficiente de circulares, que são constantemente lotados, e os assédios enfrentados pelas mulheres.
“A manifestação das mulheres é uma ação fundamental para mostrar o descontentamento das estudantes sobre a falta de políticas de proteção e permanência das alunas na universidade. Muito a reitoria fala que possui medidas de proteção, mas elas são pouco efetivas na prática. O que queremos é estar protegidas e estudar sem medo. Por isso, nosso Movimento vai organizar aulas de defesa pessoal para mulheres, que já conta com 300 pessoas interessadas em colaborar. As estudantes têm se mobilizado e se organizado para garantir uma universidade mais segura, apesar disso ser o papel da Reitoria. Mas se não há ação na prática, nós faremos!”, relata Kivia Moreira, da coordenação do Movimento Olga Benario e estudante da UFRN
A universidade ainda é um espaço onde as mulheres enfrentam muita violência. A falta de estrutura e políticas de assistência estudantil contribui para que elas estejam entre os maiores índices de evasão, ou seja, abandonam seus cursos. Com a implantação do arcabouço fiscal do Governo Lula, o orçamento para a educação pública é inferior a 3%, mesmo com diversas universidades no país necessitando de reformas, melhoramento de estruturas de segurança, iluminação e transporte para os estudantes, como é o caso da UFRN. Por isso, apenas a decisão das Reitorias não é suficiente para mudar a situação que enfrentam as estudantes hoje no Brasil.
O caminho para uma universidade mais segura e que priorize a vida das mulheres é a mobilização popular: organizar atos, passeatas, panfletagens, que denunciem o que acontece com as estudantes, é o caminho para transformar essa realidade. Com muita luta e organização, é possível conquistar um maior orçamento para a educação, e sobretudo uma Universidade mais segura, e que priorize a vida das mulheres.
*Nomes fictícios