Ocupação do antigo prédio do DOPS-MG já dura mais de 50 dias e garante existência de espaço de memória em antigo local de tortura da Ditadura.
Rafael Morais | Belo Horizonte
BRASIL – Em 1958, no Centro da cidade de Belo Horizonte, foi construído o prédio que abrigaria o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado para monitorar e reprimir as lutas que a classe trabalhadora e a juventude organizavam na capital mineira. A partir de 1964, o Dops se transformou em casa de tortura e morte, abrigando também o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), comandado pelas Forças Armadas. Por lá passaram as melhores filhas e filhos do povo brasileiro, que viveram seus piores dias, sob as condições mais desumanas possíveis e, mesmo assim, resistiram bravamente.
Quase seis décadas depois, no último dia 1º de abril, o antigo Dops foi ocupado, por homens e mulheres de todas as idades, mas que carregavam uma mesma ideia. Ideia esta que, durante os anos da ditadura fascista, tentaram destruir. A ideia da transformação da sociedade, do fim da fome e da exploração, a ideia que caracteriza os que a defendem pelo nome de COMUNISTAS.
A ocupação do prédio (que deveria ser um memorial sobre os fatos que ocorreram durante a ditadura militar fascista) tem uma significação enorme para todos nós que vivemos hoje em luta. O local guarda memórias difíceis, locais que transmitem a dureza e a desumanização que a burguesia é capaz de impor aos que ousam contrariar sua ordem. Salas de interrogatório e torturas assistidas, celas solitárias de todos os tamanhos.
Reocupar um local que servia para a dor, a tristeza, voltado a desmoralizar os militantes que passavam por lá e que agora passa a ser dirigido pelos comunistas, com suas salas recebendo leituras coletivas das obras do marxismo, suas paredes projetando filmes que relataram a luta contra a ditadura, é parte da luta pelo socialismo. Outro ponto de imenso orgulho é receber os ex-presos políticos que sobreviveram às violências no Dops e, desta vez, chegam ao local de cabeça erguida, orgulhosos de suas histórias, compartilhando com as novas gerações.
Honrar essa história e manter vivo este legado é tarefa de quem compreende o passado, sabe da responsabilidade do presente e de como tudo isso repercuti às gerações futuras. Por memória, verdade, justiça e reparação! Lutar para que nunca que se esqueça e não mais aconteça!
Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.