Mesmo após a maior paralisação grevista de seus quase 12 anos de existência, nenhuma das pautas reivindicadas foi atendida, enquanto as denúncias de assédio e das péssimas condições de trabalho seguem aumentando.
Rodolfo Martins | São Paulo – SP
TRABALHADOR UNIDO – A estatal Amazul, destaque por fazer parte do projeto do Submarino Nuclear Brasileiro vive grandes contradições entre sua diretoria, composta por militares, e seus trabalhadores civis.
Enquanto militares da mais alta patente da Marinha em cargos comissionados recebem salários que, somados às aposentadorias, benefícios e encargos trabalhistas, podem chegar a quase R$100.000,00, os trabalhadores civis concursados relatam rotinas de assédio, baixos salários e comida de péssima qualidade, principalmente para os funcionários que trabalham em quarteis e que são impedidos de receber o benefício de alimentação.
De acordo com o site do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, há diversas ações contra a empresa, onde são alegados desrespeitos básicos dos direitos trabalhistas, como negligência no pagamento de salários, falta de condições mínimas para exercício da função, falta de intervalos e horários devidos e até mesmo assédio de superiores.
Em paralisação realizada em julho de 2024 que contou com apoio de mais de 250 funcionários, onde ficaram por 5 dias embaixo de sol e chuva em frente à sede da empresa, na Zona Oeste de São Paulo, denunciando os casos de assédio e racismo, e também reivindicando pautas econômicas justas já que os funcionários enfrentam realidades bastante diferentes de seus superiores militares que muitas vezes não possuem sequer os requisitos básicos para as funções desempenhadas.
Entre as principais reivindicações e denúncias realizadas estão: Correção da defasagem salarial acumulada de 25%, transferência entre unidades dificultadas pela empresa e/ou utilizada como forma de punição, plano de carreira insuficiente ou ineficaz, plano de saúde insatisfatório com rede insuficiente em várias cidades, refeição precária servida aos empregados, assédio moral e racismo, como o que resultou na investigação de um militar aposentado que supostamente teria chamado um subordinado negro de “chimpanzé” em uma unidade da empresa no Rio de Janeiro, que contribuem para o péssimo clima organizacional. Pautas que até hoje, quase um ano depois, ainda não foram atendidas.
O acordo coletivo do ano de 2024 ainda permanece em Juízo na Justiça do Trabalho, tendo a empresa e seu departamento jurídico burocratizando e criando dificuldades para o ganho da causa que favorece seus empregados.
Enquanto isso, a diretoria formada por militares que recebem altos salários e aposentadorias, negociou bônus que devem chegar a R$60.000,00 caso atinjam os indicadores estipulados pela própria gestão da empresa.

Desmonte e soberania em xeque
Em meio a esse cenário a evasão de funcionários segue em alta, desde 2022 até abril de 2025 já foram cerca de 300 desligamentos, sendo praticamente a metade composta por engenheiros e/ou cargos de nível superior.
Tais desligamentos afetam diretamente projetos que deveriam servir ao povo brasileiro e sua soberania, tais como os Programas Nucleares Brasileiros, Programas de Desenvolvimento do Submarino Nuclear, Reator Multipropósito Brasileiro, Combustível Nuclear, entre outros.
Cabe destacar que não há qualquer projeto iniciado pela estatal, sendo a mesma uma mera fornecedora de mão-de-obra para outros projetos já existentes de outros órgãos e empresas públicas, como a Eletronuclear, IPEN e a Marinha do Brasil, sua principal aliada.
A empresa se diz mantenedora de um renomado projeto de Gestão de Conhecimento, mas como gerir conhecimento em um local com tantos pedidos de demissão, relatos de assédio e desvalorização? Cada vez mais a empresa tem caminhado para ser apenas uma estatal “cabide de emprego” para militares que muitas vezes trabalham na contramão dos interesses dos trabalhadores e do povo brasileiro para manutenção de seus privilégios.
Esse é só mais um exemplo de empresas estatais que, ao invés de servir aos interesses da população, seguem a lógica capitalista do lucro, onde privilegia alguns poucos ao custo da exploração e humilhação de muitos. A solução definitiva só virá com a organização dos trabalhadores e trabalhadoras em uma sociedade socialista, onde os reais interesses do povo e a soberania nacional serão respeitados e garantidos.