A viagem de políticos brasileiros a Israel, em meio ao genocídio em Gaza, reforça a militarização e a violência nas periferias brasileiras, desviando recursos de políticas públicas essenciais.
Chantal Campello | Cabo Frio (RJ)
Na semana de 13 de junho, em meio a uma das maiores crises humanitárias do século em Gaza, o prefeito de Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), encontrava-se em um bunker na cidade de Kfar Saba, próximo a Tel Aviv. Em entrevista ao G1, relatou: “Posso ouvir o barulho dos mísseis caindo lá fora”. A viagem foi feita com um grupo de políticos brasileiros, incluindo o prefeito de Nova Friburgo, Johnny Maycon (PL), o vereador carioca Flávio Valle (PSD), além de representantes de Niterói e outras cidades, sob convite da Embaixada de Israel. Matérias afirmam que 47 políticos brasileiros visitaram o país nesse último período.
O objetivo oficial do grupo foi conhecer “experiências de inovação, segurança cidadã e ordenamento urbano”. Na prática, a agenda incluiu visitas a centros de comando e controle, encontros com representantes da indústria militar israelense e participação na Expo Muni, uma feira voltada a apresentar tecnologias de vigilância, repressão e controle populacional desenvolvidas e testadas nos territórios da Palestina.
Cumplicidade com um regime genocida
Essa viagem, longe de ser neutra ou técnica, está inserida em uma ampla política de propaganda sionista no Brasil. Um dos pilares dessa propaganda é vender o modelo israelense de apartheid como “eficiente” para a segurança pública, exportando equipamentos, táticas e uma lógica de guerra aplicável, aqui, às favelas, periferias e populações negras e pobres. Importar essa lógica significa reforçar a militarização da vida cotidiana e legitimar práticas que violam sistematicamente todos os direitos.
Israel é hoje uma das maiores potências em tecnologia militar, desenvolvendo armas, sistemas de drones, vigilância por reconhecimento facial e estratégias de repressão urbana. Tudo isso é testado em tempo real sobre o povo palestino como parte de uma política de morte. Portanto, ao estabelecer parcerias com esse estado, prefeitos brasileiros não só se tornam cúmplices desse regime genocida, como também colaboram para aplicar métodos semelhantes nas cidades brasileiras.
Consequências da militarização e impactos na população pobre
Quem paga essa conta é, invariavelmente, o povo pobre. O mesmo tipo de “segurança inteligente” que está sendo importado por políticos como Welberth será usado contra moradores das periferias. Em vez de políticas públicas de habitação, transporte e saúde, a escolha é pelo investimento em armamento, drones e policiamento ostensivo.
O trágico assassinato do jovem Herus, de 13 anos, no Morro Santo Amaro (Zona Sul do Rio), é apenas mais um exemplo da política de guerra travada contra o povo negro. Morto por um policial despreparado e protegido por um sistema que normaliza a mortalidade, Herus representa as vidas que serão perdidas sob esse modelo de “segurança” importado de regimes autoritários.
Tudo isso deixa claro que é preciso denunciar com força: a viagem desses prefeitos não é um gesto de diplomacia, mas parte de uma campanha de legitimação do apartheid israelense e de sua aplicação local. Cada real gasto nessas visitas representa menos investimento em saneamento, transporte público e moradia digna. Cada drone comprado, cada sistema de reconhecimento facial instalado será uma arma apontada para os de baixo e não para resolver as verdadeiras causas da violência.