“Desde 2021, a polícia de Recife vem matando apenas pessoas negras, especialmente jovens de periferia. O racismo se manifesta através do capitalismo para dividir e explorar a classe trabalhadora, especialmente o povo negro.”
Jesse Lisboa | Redação PE
BRASIL – A população negra no Brasil enfrenta uma realidade marcada pela herança histórica da escravidão e pela persistência do racismo estrutural. Mesmo após a abolição formal em 1888, a falta de reparação e direitos levou a uma tragédia social, com a maioria da população negra excluída de direitos fundamentais, sujeita ao desemprego, à fome e à violência. Em 2018, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 66 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, sendo 78% delas negras. A juventude negra é especialmente afetada, representando metade das vítimas de homicídios no país. Além disso, a população prisional brasileira, a terceira maior do mundo, é composta em sua maioria por jovens negros.
No Estado de Pernambuco, 101 pessoas negras foram assassinadas em decorrência de ações policiais no ano de 2021. Embora a maioria dos casos tenha ocorrido nas periferias da Região Metropolitana do Recife, a violência se estende para além da capital, afetando também outras áreas periféricas do estado, atingindo principalmente jovens.
O racismo estrutural que marca a sociedade brasileira se reflete também na violência policial contra a população negra periférica. É o que deixa explícito o estudo “Pele Alvo” da Rede de Observatórios de Segurança, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que mostrou que todos os mortos pela polícia no Recife em 2022 eram pessoas negras, assim como observado em 2021.
Segundo o estudo Pele Alvo, de 2022, a classificação das pessoas mortas pela polícia pela Secretaria de Defesa Social (SDS), que inclui termos como brancas, pardas e negras, apesar de buscar a diversidade racial, revela confusão entre os termos “pretos” e “negros”, demonstrando a falta de conhecimento da SDS sobre as categorias raciais estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse descaso com a precisão na informação não apenas compromete a transparência dos dados, mas também impacta a análise pública, dificultando a compreensão da gravidade da situação e a necessidade de ações efetivas para combater a violência policial e suas consequências raciais.
João Rodrigues, diretor de antirracismo da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet), pontua que “hoje a população negra é alvo da polícia, não importa a roupa que estiver vestindo, o jeito que estiver andando, a forma que se posiciona, etc.”.
“A gente sai pra trabalhar de cinco horas da manhã e não sabe se vai conseguir voltar, diante de tamanha violência. O fato é que hoje a polícia não faz um trabalho de defesa do povo trabalhador, mas sim de um ataque explícito à população negra afetando sua forma de viver. Por isso, devemos lutar pela imediata desmilitarização das polícias, e que tenhamos políticas públicas que protejam o povo negro, o povo que mora nas periferias”, continua.
Diante desse cenário, é possível entender que o racismo é uma arma ideológica de dominação que serve aos interesses do sistema capitalista. Não é apenas uma questão de preconceito individual, mas sim uma forma de organizar a sociedade em classes, baseada na exploração do trabalho negro.
A polícia, como braço armado do Estado burguês, atua como um instrumento de repressão e controle social, que visa manter a ordem estabelecida pelo capitalismo. A polícia não protege a população negra, mas sim a criminaliza e a elimina, como forma de garantir a exploração e a exclusão dela. Por isso, é preciso questionar o sistema que produz e reproduz a violência e a desigualdade, e construir uma alternativa que garanta a dignidade e a liberdade de todos os seres humanos, a sociedade socialista.